A Turquia presta um serviço inestimável à certificação de qualidade do futebolista português. À liça veio esta semana - de uma assentada - o interesse do Besiktas em três jogadores lusos. Manuel Fernandes já chegou a Istambul, Hugo Almeida e Simão Sabrosa poderão muito bem estar a caminho do Estreito de Bósforo.

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Ora, perante esta súbita e surpreendente atracção de um dos maiores clubes turcos pelo produto nacional, o Maisfutebol foi à procura de explicações. Desvario irrelevante, vaidade convicta ou aposta devidamente consciente? O que leva a Turquia e o futebol turco a confiarem tanto no jogador português?

Carlos (actual guarda-redes do Bucaspor) e Neca (ex-jogador do Konyaspor e do Ankaraspor) ajudam-nos a perceber este fenómeno.

«O português tem uma imagem de atleta agressivo e trabalhador», apressa-se a explicar o luso-angolano. Neca concorda e amplia o campo argumentativo. «Há a influência clara dos grandes nomes portugueses. Cristiano Ronaldo, Figo, Rui Costa... os recentes jogos do F.C. Porto contra o Besiktas também ajudaram a dar uma imagem de força do futebol português.»

«Cada ponto conquistado é recompensado financeiramente»

Não é novidade para ninguém. O adepto turco é apaixonado, fanático, faz do futebol «uma actividade de primeira necessidade». Daí também a forte consistência financeira da esmagadora dos clubes na Turquia. Neste país é impensável ver algum emblema com salários em atraso, por exemplo. Afinal, o que permite tamanha desenvoltura financeira?

«Há muitos apoios, mesmo por parte da federação e do governo», clarifica Carlos. «Poucos saberão, mas posso revelar que cada ponto conquistado no campeonato é recompensado com o pagamento de determinada quantia pela entidade organizadora. Não sei se isto sucede em mais algum país.»

Neca sente, sobretudo, «falta dos estádios cheios». «Senti que o povo turco gosta do futebolista português. O Abel Xavier foi o primeiro a chegar e os que vieram atrás acrescentaram sempre qualquer coisa às respectivas equipas. Os estádios enchem porque as pessoas acreditam na veracidade e na qualidade do jogo.»

«Compravam grandes avançados e esqueciam-se dos defesas»

Dinheiro há, paixão ainda mais, mas escasseiam resultados que se vejam na Europa. O que falta ao Besiktas, ao Fenerbahce, ao Galatasaray para chegarem mais longe nas competições da UEFA? Carlos não hesita na explicação.

«Faltam bons jogadores na defesa. Até agora as equipas faziam contratações milionárias de avançados e esqueciam-se de comprar bons defensores. A chegada de treinadores estrangeiros está a mudar essa mentalidade.»

Neca completa a impressão. «Falta mais organização. Olhe-se o exemplo do Bursaspor, que fez uma péssima campanha na Liga dos Campeões. Há muitas equipas turcas sem qualquer noção do que é o futebol europeu.»

«A liga turca foi feita à medida do Quaresma»

À parte de tudo isto está Ricardo Quaresma, «um caso único». «Este campeonato foi feito à medida dele», ratifica Carlos. «Mesmo lesionado, sem jogar, aparece sempre nos telejornais. Os turcos quando gostam, gostam. E não é só nos jogos, é também nos treinos. Os nossos adeptos acompanham-nos mesmo ao longo da semana. É inacreditável.»

O antigo guarda-redes resume tudo numa palavra: «espectacular». «O campeonato e o país são espectaculares. Inicialmente vim com medo, mas esta é uma aposta ganha.»

Simão e Hugo Almeida já sabem. Se escolherem o Besiktas e a Turquia, o mais provável é que venham a perceber nos próximos tempos o que é ser endeusado.

Veja a loucura em volta de Manuel Fernandes em Istambul: