À semelhança do que já se tem verificado no dérbi lisboeta, o clássico entre Benfica e FC Porto também está cada vez menos português. Nas duas últimas visitas dos «dragões» à Luz, para a Liga, registou-se mesmo um recorde negativo: apenas dois jogadores lusos de início, e do lado visitante.

A 2 de Março de 2012 jogaram Rolando e João Moutinho pelo FC Porto, e a 13 de janeiro de 2013 o médio repetiu a presença no «onze», mas agora com a companhia de Silvestre Varela.

O extremo é mesmo o único que ainda veste de azul e branco. É o resistente de um clássico cada vez menos português, até por ter sido o autor do último golo luso em jogos para a Liga, na goleada por 5-0 que o FC Porto conseguiu em 2010 (Moutinho marcou depois, mas para a Taça de Portugal).

Varela apresenta-se também como o jogador português com maiores probabilidades de ser titular no próximo clássico. Licá pode ser o outro português do «onze» portista, com Josué a surgir como alternativa ao ex-Estoril e Ricardo Quaresma mais provável como «trunfo» a partir do banco.



O Benfica pode nem incluir nenhum português no «onze», algo que não é inédito, conforme já referido. Ainda que Rúben Amorim se apresente como candidato à titularidade caso Jorge Jesus aposte num 4x3x3 (seria entre ele e Fejsa). Sílvio é outra possibilidade, para uma das laterais, embora a escolha, no último jogo, tenha sido Maxi e Siqueira.

Longe vai o tempo em que um clássico entre Benfica e FC Porto começava com 22 jogadores portugueses. A última vez foi a 27 de janeiro de 1985, dia em que os «dragões» foram ao Estádio da Luz vencer por uma bola a zero.

Fernando Gomes marcou o único golo do encontro, após cruzamento de Jaime Magalhães. «Eram outros tempo. Temos saudades, nós que participámos nesses jogos, e os adeptos também. Tudo mudou. Agora é difícil ver um ou dois portugueses em campo. Não há comparação», lamenta o antigo médio portista, em conversa com a «MF Total».

«Os jogadores não sentem o que nós sentíamos. Falo por mim, que nasci no FC Porto e passei lá vinte anos. Quem está no clube há dois meses não sente da mesma forma. É sempre um Benfica-Porto, tem o seu interesse, mas para mim, e para o adepto, não é a mesma coisa que ver jogadores nascidos no clube», acrescenta Jaime Magalhães.

No «onze» do Benfica estava José Luís, que lembra que antigamente «99 por cento dos jogadores eram portugueses». Agora a realidade é quase inversa.

«Há dois ou três estrangeiros, como o Luisão e o Maxi, que já jogam no Benfica há alguns anos e que talvez já saibam o que é a mística e a grandeza do Benfica. Mas gostava que tivesse mais portugueses», reconhece à «MF Total».

O antigo jogador do Benfica acrescenta que «o futebol tornou-se um negócio», e defende maior aposta na formação por parte do clube encarnado, que tem «uma excelente academia, com condições fabulosas».

«Tem de mudar a política. E os treinadores não podem ter medo de apostar em portugueses. Hoje em dia têm medo. Os estrangeiros chegam a um bom preço e depois querem à força que eles joguem. Os portugueses ficam para segundo plano», lamenta.

Jaime Magalhães também diz que «é mais fácil ir buscar um estrangeiro», e acredita que será «cada vez pior». José Luís tem a mesma opinião: «Caminhamos para isso».

Os sinais apontam nesse sentido, não mostram indicadores de que a tendência está a inverter-se. Em 29 anos o clássico passou de 22 portugueses para dois ou três. «Agora imagine-se o trabalho do selecionador», lembra Jaime Magalhães.

A título de curiosidade aqui ficam os «onzes» iniciais desse último clássico com 22 jogadores portugueses de início, assim como um resumo do mesmo, apresentado no programa «Domingo Desportivo», da RTP.

BENFICA: Bento; Pietra, Samuel, António Bastos Lopes e Oliveira; Nunes (Wando, 45), Veloso, Carlos Manuel e José Luís; Nené e Jorge Silva

Treinador: Pal Csernai

FC PORTO: Zé Beto; João Pinto, Lima Pereira, Eurico e Inácio; Frasco, André e Quim; Jaime Magalhães, Gomes (Quinito, 88m) e Futre (Vermelhinho, 78m)

Treinador: Artur Jorge