«Nació destinado a lustrar zapatos, vender maníes o robar a los distraídos. De niño, lo llamaban Ninguém, nadie, ninguno. Hijo de madre viuda, jugaba al fútbol con sus muchos hermanos en los arenales de los suburbios, desde el amanecer hasta la noche.

En el Mundial del 66, sus zancadas dejaron un tendal de adversarios por el suelo y sus goles, desde ángulos imposibles, desataron ovaciones de nunca acabar.

Fue un africano de Mozambique el mejor jugador de toda la historia de Portugal. Eusebio: altas piernas, brazos caídos, mirada triste»


Simples, cortantes, absolutamente certeiras. As letras compostas pelo uruguaio Eduardo Galeano no curto texto que publicou no livro «El fútbol a sol y sombra» resumem a figura de Eusébio, que foi muito mais do que inspiração dentro de campo. O «Pantera Negra» inspirou cronistas, biógrafos (como João Malheiro ou Afonso de Melo), realizadores, bandas de música, escultores e outros criativos.

Manuel Alegre compôs um poema imortal sobre o que representava o atleta, a figura impar que agora recordamos.

«Havia nele a máxima tensão
Como um clássico ordenava a própria força
Sabia a contenção e era explosão
Não era só instinto era ciência
Magia e teoria já só prática
Havia nele a arte e a inteligência
Do puro e sua matemática
Buscava o golo mais que golo – só palavra
Abstração ponto no espaço teorema
Despido do supérfluo rematava
E então não era golo – era poema»




Uma banda desenhada - Eusébio, o Pantera Negra (de Eugénio Silva) -, o documentário de autoria de Manuel Arouca (Eusébio, um jogador de todos os tempos), uma estátua no Estádio da Luz e uma réplica em Boston (no Gillette Stadium, Foxboro), o nome de um avião da TAP e o nome de uma lontra no Oceanário são exemplos da inspiração dadas aos artistas. Deusébio no programa «Contra-Informação», deu nome a ruas de várias localidades e em Aveiro até há um bairro com o seu nome (mais propriamente em Cacia). Eusébio também está na galeria da fama em Manchester e as suas pegadas figuram no cimento da calçada da fama do Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro.
 
Os Sheiks foram dos primeiros a celebrar o génio de Eusébio através da música, com um tema homónimo ao ritmo do yé-yé.



Mas nem sempre os feitos serviam de inspiração. Até o joelho do jogador foi mote para um samba que hoje poderá fazer alguns de nós sorrir, pela banda «Conjunto sem Nome».



Em 1973 é lançado o disco «Eusébio bota de ouro», com uma música de Natalina José dedicada ao jogador.

«É Bota de Ouro
é campeão
sua figura é universal!
É Bota de Ouro
é campeão
e na Europa não há outro igual!» 
 
 
 
Alexandre O’Neill vergou-se à importância do jogador e naquele jeito irreverente fez-lhe o elogio, ousando chamar-lhe «tragalhadanças»: «Uma coisa me consola, Eusébio. É que não fui eu quem cobriu Você de adjectivos, de apodos, de cognomes mais ou menos imaginosos. Não fui eu quem disse que Você era a pantera, o príncipe, o bota de oiro, o relâmpago negro, o coice para a frente, o astropata. Também não fui eu quem disse que o seu nome era Eusébio. Dar o Eu a Eusébio, que pretensão! Derive, derive e vire, vire e atire sem parança, Eusébio, seu genial tragalhadanças!».



Eusébio é também uma autêntica mina para os colecionadores. É o caso de Américo Rebelo, benfiquista do Porto que nasceu em Angola e só chegou a Portugal após a revolução de Abril. Ligado ao mundo do colecionismo e da filatelia, cedo recolheu artigos relacionados com o clube e mais concretamente sobre o jogador, o que o levou a organizar recentemente na Invicta uma exposição sobre Eusébio visto através da literatura e do colecionismo.

«Não há livro nenhum do Benfica que não fale de Eusébio», esclarece à  Maisfutebol Total, acrescentando que todas as publicações internacionais sobre a história do futebol destacam a importância do jogador português. «Como vivia em Angola não consegui ver muitos jogos dele ao vivo, pois já estava no final da carreira. Felizmente tive a oportunidade de o conhecer num evento no museu do clube e fiquei impressionado com a sua humildade», conta Américo, que tem a honra de ter cedido ao Museu algumas peças da sua coleção pessoal.

Consultar o seu espólio é como que percorrer toda a história de vida pública de Eusébio. «Alguns dos artigos mais curiosos são as revistas, como a Flama ou o Século Ilustrado, desde o tempo em que era solteiro, quando foi à tropa, passando pelo casamento e o nascimento das filhas», revela o inefável adepto, que neste dia também recorda o seu maior ídolo, percebendo que a coleção nunca perderá atualidade e muito provavelmente conquistará maior valor pela imortalidade da figura em causa.

Olhando ainda para o passado, vale a pena ver ou rever o documentário de 1992 «Eusébio, um jogador de todos os tempos», escrito por Manuel Arouca e narrado por Rui Tovar, com todas as imagens importantes da carreira do jogador, para além de entrevistas a figuras nacionais e internacionais da sua época (Franz Beckenbauer, Bobby Charlton, Mário Coluna, Johan Cruyff, Alfredo Di Stéfano, Cesare Maldini, Nobby Stiles, Alec Stepney, George Best, entre outros).