Belmiro Graça, um dos pescadores desaparecidos ao largo de Finisterra (França), actuou durante a década de 80 no Varzim. Lateral esquerdo raçudo, fez parte da equipa que obteve a melhor classificação de sempre na primeira divisão.
Em 1986/87, o Varzim concluiu a temporada no sétimo posto, com Belmiro a alinhar ao lado de nomes como Lúcio Pereira, André, Zé Maria, Maravalhas, Miranda, Lufemba, Rui Barros e Vata.
A inquietação que assola a família de Belmiro Graça nestas horas acaba por ser comum às gentes da Póvoa do Varzim/Vila do Conde, onde o futebol surge como um dos poucos refúgios de uma vida no Mar. «O Belmiro, infelizmente, acabou por sair do futebol e teve de seguir a vida de pescador, tal como o Zé Maria ou o Maravalhas, por exemplo», reflecte Lúcio Pereira, actual técnico-adjunto de Carlos Brito no Leixões, em diálogo com o Maisfutebol.
Belmiro Marques Graça nasceu nas Caxinas, Vila do Conde, a 3 de Outubro de 1959. A notícia do seu desaparecimento em águas gaulesas chocou quem teve um passado em comum com o antigo defesa, embora todos compreendam que o risco navega de mãos dadas com a profissão a que Belmiro regressou, após pendurar as chuteiras.
«Já não via o Belmiro há anos, mas por acaso passei por ele no dia 31. Eu ia de carro, vi-o na rua, mas não deu para falar com ele. Agora, recebo esta notícia. É muito triste. Lembro de um rapaz humilde, com um carácter forte, como é comum nas gentes desta terra, que acabou por fazer boas temporadas no Varzim, vindo dos amadores, da Maconde», conclui Lúcio Pereira.
«Estava a viver e a sobreviver da pesca»
Miranda soube pelo Maisfutebol que Belmiro tinha sofrido naufragado nas turbulentas águas de Finisterra. Ainda mal refeito da notícia, recordou-nos o último contacto com o ex-colega de equipa no Varzim.
«Estive com ele no último Verão, na Póvoa. Falámos bastante e confirmei que não tinha qualquer ligação ao futebol. Estava a viver e a sobreviver da pesca, uma arte que a família dele abraçava há vários anos», referiu Miranda, que chegou também a passar pelo Benfica, anos depois.
Apesar de não exercer qualquer cargo no Varzim, Belmiro seguia muito de perto a vida do clube e continuava a ser sócio com as quotas em dia. Disso mesmo nos deu conta Eduardo Esteves, treinador-adjuntos dos seniores e responsável pelas camadas jovens dos lobos do mar.
«Costuma ver vários jogos da equipa profissional do Varzim aqui no nosso estádio. Tal como outros antigos jogadores, vem cá e fala regularmente com os miúdos das camadas jovens», recorda Eduardo Esteves. Entre a Póvoa do Varzim e Vila do Conde, um mar de gente anseia pelo regresso de Belmiro Graça.
Belmiro estava há oito meses em França
O antigo jogador do Varzim trabalhava há oito meses para a empresa francesa que era proprietária do «Petit Jolie», o barco que naufragou nesta segunda-feira com três portugueses e quatro franceses a bordo. Um dos pescadores lusos foi resgatado.
Belmiro Graça falou pela última vez com a sua mulher às 17h horas de domingo. «Soubemos hoje do naufrágio às 9h00», explicou Marlene Marques, sobrinha do ex-atleta, à Agência Lusa. Junto ao apartamento onde Belmiro residia, num bairro social de Caxinas, vários familiares procuraram auxiliar a sua mulher e os dois filhos do casal.