Saadi podia ter sido um jogador de futebol como outro qualquer. Corria, calçava as chuteiras, sujava-se na relva e tinha o sonho de brilhar nos palcos europeus.

No entanto, o jeito não era muito. Valeu-lhe o último nome - Khadafi -, herdado do seu pai, o líder líbio que vive momentos conturbados no seu país enquanto aumenta a pressão para se afastar do poder.

De clubes quase desconhecidos da capital Tripoli, Saadi Khadafi deu o salto inesperado para o Perugia, na condição de jogador/investidor. O dinheiro levou-o também à Udinese e Sampdoria. Pelo caminho, conheceu um português.

Luís Vidigal segurava o meio-campo da Udinese na época de 2005/2006 quando as excentricidades chegaram. «Um dia, estávamos a treinar quando chegou um helicóptero e aterrou mesmo ali. Era para o levar a uma festa no Mónaco com o príncipe», contou ao tvi24.pt.

No entanto, o ex-internacional português garante que Saadi era «uma pessoa completamente normal». «Todo o aparato que o rodeava podia assustar quem não o conhecia, mas ele era muito amigo e brincalhão».

O filho de Khadafi vivia rodeado de seguranças. Ficavam à porta do hotel nos estágios, paravam o trânsito para a equipa passar e não o deixavam dormir com nenhum colega durante um estágio. «Não me sentia intimidado. Dava-me bem com ele», assegura Vidigal.

Saadi não teve uma época brilhante ao lado do português. Apenas por uma vez foi utilizado na Serie A italiana, quando entrou aos 80 minutos do jogo com o Cagliari. «Ele treinava connosco normalmente, só não tinha ritmo para competir», justifica o médio luso.

Na bancada de Alvalade

Quis o destino que o filho de Khadafi viesse jogar a Portugal. A Udinese defrontou o Sporting na pré-eliminatória da Liga dos Campeões e Saadi foi mesmo convocado para o jogo em Alvalade. «Viu o jogo na bancada», recorda Vidigal.

Como a equipa italiana chegou «três dias antes» da partida a Portugal, houve tempo para o descendente do líder líbio conhecer Lisboa. «Fomos dar uma volta pela cidade e ele fez os comentários normais. Acho que gostou do país».

Saadi Khadafi retirou-se do futebol em 2007, com 34 anos. Foi a maior estrela da selecção da Líbia (pelo peso da família, não pela técnica), chegou a presidente da federação de futebol do seu país e nunca deixou de investir em clubes de futebol.

Das suas vontades e opiniões pouco se sabe - os Khadafi não são propriamente fãs da liberdade de expressão -, mas diz-se por aí que os ídolos de Saadi eram Diego Maradona, claro, e... Saviola.