Vítor Pereira, antigo árbitro internacional e membro do Comité de Arbitragem da UEFA, lamenta a decisão do seu amigo Anders Frisk em abandonar a arbitragem depois das ameaças que recebeu no final do Barcelona-Chelsea, da primeira mão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. O antigo árbitro compreende a posição do juiz alemão e considera que as palavras de José Mourinho, apesar de não terem sido factor directo, acabaram por provocar reacções que levaram Frisk a tomar a polémica decisão.
«As declarações em si mesmo não terão sido a causa, mas sim as consequências e as repercussões que provocaram. Não podemos esquecer que o futebol, além de ser um espectáculo e um mundo de negócios, também é um mundo de paixões exacerbadas. As declarações podem ser graves, mas as ameaças de morte que provocaram é que são o problema. Vamos imaginar que acontece alguma coisa ao Anders ou a alguém da sua família, de quem é a culpa?», perguntou Vítor Pereira.
A decisão de Anders Frisk já provocou inúmeras reacções no mundo do futebol e, particularmente no mundo da arbitragem, com destaque para as declarações do árbitro suíço Urs Meier, que pediu um «castigo» para Mourinho, e principalmente para as de Volker Roth, presidente do Comité de Arbitragem da UEFA, que classificou Mourinho como «inimigo do futebol». Vítor Pereira compreende a posição dos seus companheiros, mas fez questão de explicar que não existe uma posição oficial. «É uma opinião pessoal de Volker Roth, emitida num jornal sueco, mas que não vincula o Comité de Arbitragem da UEFA de forma alguma. Qualquer posição oficial teria de ser emitida no site oficial. À partida, a haver uma posição, será sempre no âmbito da UEFA, quanto muito o comité poderá dar uma opinião», explicou.
Vítor Pereira diz que é «suspeito» para falar sobre este caso porque mantém uma amizade pessoal com Anders Frisk que o acompanhou no momento mais alto da sua carreira. «Ainda não tive a oportunidade de falar com ele. Sou uma pessoa suspeita para falar neste caso porque sou um grande amigo do Anders. Fizemos dois Campeonatos do Mundo juntos, dois Campeonatos da Europa, muitos torneios, muitos cursos, suámos muito juntos, portanto sei exactamente o que ele está a passar», contou.
Além do aspecto pessoal, Vítor Pereira lamenta, acima de tudo, a perda do que considera ser um dos melhores árbitros da actualidade. «As minhas primeiras palavras são para lamentar porque, se ele não voltar atrás, perdemos um dos melhores árbitros do mundo e uma pessoa com uma personalidade muito própria. Mas compreendo perfeitamente a posição que tomou. Neste momento ele era um dos mais seríssimos candidatos a estar presente no próximo Campeonato do Mundo. Gostaria muito que reconsiderasse a sua posição», acrescentou.
Vítor Pereira ainda não foi contactado por nenhum dos seus companheiros do Comité de Arbitragem da UEFA e a próxima reunião só está agendada para Maio. O assunto, mesmo que não seja de forma oficial, estará certamente em cima da mesa.