Zico contou ao pormenor tudo o que se passou em redor de Ronaldo na final do Mundial 98. O treinador descreve a convulsão de Ronaldo e relata como Zagallo começou por afastar o jogador da equipa e depois colocá-lo em campo em cima da hora. Zico não tem dúvidas que o episódio teve grande influência na forma como o Brasil jogou frente à França. Até porque, diz, havia jogadores muito abalados e outros que nem sabiam de nada. Zico, que era adjunto nesse Mundial de França, responsabiliza de resto o médico e a Confederação brasileira pelo que se passou.
Numa entrevista ao programa «Bem, Amigos», da SportTV brasileira, Zico começa por contar como soube por acaso de que se passava algo com o Fenómeno, a quatro horas do jogo, ainda no hotel. Foi alertado por um membro da comitiva e dirigiu-se ao quarto do jogador. «O Ronaldo está sentado na cama, paralisado, o Roberto Carlos ao lado, com cara de assustado. Perguntei: «O que foi?» «Teve uma convulsão... Eu perguntei: «Ronaldo, tudo bem? Ele olhou para mim e deitou-se», descreve Zico.
Seguiu-se o lanche, e no regresso Zico conta que encontrou Ronaldo no corredor, sem se lembrar de nada. «Parece que levei uma surra¿», disse o Fenómeno. Seguiu-se uma reunião da equipa técnica com o médico. «O doutor Lívio disse: «Ronaldo não tem condição de jogo. E o Zagallo tudo bem. Fez uma óptima palestra, escalou o Edmundo.»
Segundo Zico, houve jogadores que assistiram à situação e estavam muito abalados, outros nem perceberam. A equipa seguiu para o estádio da final, Ronaldo foi ao hospital. Zico conta depois que estava na bancada, uma hora antes do jogo, quando foi chamado ao balneário, para nova reunião.
«Quando cheguei, está o pessoal sentado, o Ronaldo em pé, a dizer: «Eu joguei a Copa inteira, os exames não deram nada e vou jogar.» Sem que o médico se opusesse, Zagallo limitou-se a perguntar se o jogador estava bem. Face a nova resposta positiva, o técnico aceitou: «Então vai jogar. O que vamos fazer? Temos que avisar o Edmundo. Tudo bem, numa boa», conta Zico, para concluir: «Um cara que às 17h30 é vedado pelo médico, às oito horas é liberado de novo¿» O treinador também defende que a culpa não é de Zagallo: «Qual o treinador que não ia colocar o Ronaldo para jogar? Era morto¿ Só uma pessoa podia vetar o jogador: era o médico.»
«O que acho que faltou foi comando da CBF. Na hora de decidir não havia ninguém, só a comissão técnica. E soubemos do caso por acaso. Podia até ter passado sem sabermos», critica Zico, garantindo também que «a equipa entrou desconcentrada», num jogo em que Ronaldo foi uma sombra de si próprio e a França acabou por vencer facilmente.