Cumprem-se esta segunda-feira 25 anos desde que Pinto da Costa assumiu a presidência do F.C. Porto. Uma longevidade que é há muito um recorde no dirigismo nacional. Para assinalar a data, o Maisfutebol foi ao início e recorda a história de como tudo começou. Recuou um quarto de século e remexeu num episódio cheio de pó, mas ainda assim não totalmente esclarecido. Um episódio que a história baptizou como «Verão Quente».
Corria o ano da graça de 1980, o mês Junho seguia quente e o Porto escaldou com a notícia que Américo de Sá excluíra Pinto da Costa da lista para as eleições para renovar o mandato na presidência do maior clube da cidade. De imediato estalou uma revolução. A equipa técnica de José Maria Pedroto insurgiu-se contra a decisão e foi de imediato demitida, catorze jogadores do plantel iniciaram uma rebelião e abandonaram o clube.
Um mês de convulsões e dois anos de pressões...
Jogadores como António Oliveira, Tibi, Octávio Machado, Simões, José Alberto Costa, Sousa, Frasco, Fernando Gomes, entre outros. O que naquela altura significava quase todo o plantel e sobretudo os jogadores mais importantes. «Saímos em solidariedade com Pinto da Costa», recorda José Alberto Costa. «Ele era o chefe do departamento de futebol e tinha estado na origem da contratação de praticamente todos os jogadores. Havia uma empatia muito grande e sentíamos que era um elemento fundamental na afirmação nacional do F.C. Porto». Os dissidentes não apareceram no primeiro dia da temporada e refugiaram-se na Estalagem Santo André, perto da Póvoa de Varzim, enquanto os alinhados faziam a pré-época em Leiria com o austríaco Hermann Stessl.
Já os catorze desalinhados mantinham a forma no pinhal de Santa Cruz do Bispo e pediam a Hernâni Gonçalves (adjunto de Pedroto e que tinha sido também despedido) para os ajudar. Durante vinte dias mantiveram o conflito. Mas esta não era uma rebelião em defesa de um homem. Era uma rebelião em defesa de uma filosofia. «Foi uma época de turbulência político-desportiva», diz Hernâni Gonçalves. «Américo de Sá deixou-se estagnar em relação ao poder centralista de Lisboa». O presidente filiara-se no CDS e era candidato a um lugar de deputado na capital. Foi nesse sentido, dizem os rumores, que prescindiu de Pinto da Costa, um homem de discurso inflamado e incómodo em Lisboa. Um homem, porém, que junto com Pedroto devolvera o F.C. Porto aos títulos.
... para algo verdadeiramente grande
«O F.C. Porto estava a ser prejudicado pelas pressões, pelas arbitragens e Américo de Sá estava a ceder aos poderes discriminatórios de Lisboa», acrescenta Hernâni Gonçalves. «Os lugares na federação eram todos preenchidos por clubes do sul. Por isso era necessário uma atitude revolucionária que iniciasse uma nova era e que autonomizasse o clube». Pinto da Costa ainda hoje garante que não foi o mentor dessa atitude revolucionária, mas da fama não se livra ele. Até porque há rumores que o grupo dissidente era financiado por gentes ligadas ao F.C. Porto. Certo é que o braço de ferro entre plantel e direcção manteve-se e só terminou após duas semanas de negociações. «Não podíamos deixar o clube competir com juniores», diz José Alberto Costa.
A normalidade regressou cerca de um mês depois. A normalidade possível, pelo menos. «Os dois anos que se seguiram foram os mais tensos da vida do clube. Foram tempos de muitas pressões sobre os dissidentes». Mas foram tempos de muita pressão sobre Américo de Sá também. A posição do presidente saiu tremendamente fragilizada. Tanto que dois anos depois começou por apresentar-se como candidato às eleições, mas perante o isolamento desistiu antes da votação. Já Pinto da Costa, apoiado pela maior rebelião de sempre no futebol português, ganhou com esmagadora maioria. E deu início a 25 anos de grande sucesso. «Não foi só um conflito de balneário, foi um movimento revolucionário por algo verdadeiramente grande», termina Hernâni Gonçalves.