Schalke-At. Bilbao, minuto 93. A equipa espanhola vence por 3-2 e a bola chega às mãos de Iraizoz. Muitos esperariam um mergulho para o chão pensando em conservar a vantagem para a 2ª mão. Talvez, se o treinador fosse outro. Dezanove segundos depois a bola estava no fundo da baliza alemã!

Podia ser ocasional, mas é estilo de vida. Em casa ou fora. Apaixonaram-se pelo risco e a «culpa» é de Bielsa, com tudo o que isso tem de louvável e perigoso. É justo elogiar esta filosofia, assimilada em tão pouco tempo, sem que isso represente qualquer perspetiva pessimista para o Sporting, que já mostrou estar à altura do desafio.

Formado em 4x3x3, o Athletic apresenta uma espantosa capacidade física. Pressiona constantemente o adversário, e ataca sem hesitações. Em Old Trafford, aos 58 segundos de jogo, já tinha sete unidades nos últimos 25 metros (imagem A da galeria acima apresentada). É cena recorrente, sobretudo quando os ataques são conduzidos pelo lado direito, o preferido. Iraola (lateral) e Susaeta (extremo) combinam muito bem, apoiados por De Marcos (médio ofensivo descaído para este lado). O trio repete várias vezes um movimento: o extremo faz diagonal da linha para o centro e o médio ofensivo faz o inverso, recebendo a bola no espaço criado (imagem B).

O lado esquerdo canaliza menos jogo. O extremo Muniain privilegia as diagonais para o centro. O lateral Aurtenetxe é talvez o elo mais fraco: conduz poucos ataques, embora também suba, e a defender revela dificuldades junto à linha, por ser central de raiz (comete faltas escusadas). Como interior esquerdo aparece Herrera, um jogador extremamente parecido com Moutinho, que marca muito o ritmo.

Javi Martínez (não joga em Alvalade) é o primeiro construtor de jogo, até por se tratar de um médio recuado para central, com boa capacidade técnica. Sobe muitas vezes com a bola controlada e pontualmente «mata saudades» da posição original. Iturraspe, o «trinco», procura fazer logo a compensação (principal tarefa), mas por vezes fica um buraco na defesa que pode ser explorado. Sair com a bola controlada da defesa é uma obsessão. O passe longo é o último recurso, ainda que Llorente segure muito bem a bola e Amorebieta, o outro central, faça bons passes longos.

A paixão pelo risco vê-se também no momento defensivo. A pressão começa assim que o adversário sai da área (imagem C). Bielsa não admite tempo para pensar, e todos têm de contribuir para esta «asfixia». Os extremos fecham sempre junto dos laterais, e Llorente chega a cortar lances na defesa. Mesmo se um avançado contrário recua no terreno, à procura da bola, o central vai atrás dele. Outra situação de risco, pois também isto cria «buracos» no setor mais recuado (imagem D). Diga-se ainda que é no corredor central que se nota maior tendência para abrir espaços, sobretudo à entrada da área.

De bola parada é que se arrisca o menos possível

O risco só diminui nas bolas paradas defensivas. Nos cantos, o pequeno Muniain fica à frente do marcador e De Marcos e Herrera, também baixos, esperam à entrada da área. Os restantes jogadores ficam no interior, com Llorente a procurar anular os lances logo ao primeiro poste (imagem E). Nos livres laterais a estratégia é idêntica.

Em situação ofensiva, a equipa de Bielsa marca quase todos os cantos ao primeiro poste. O que varia é a movimentação na área. Normalmente partem da zona de penalty (imagem F), mas por vezes fixam-se junto da baliza (imagem G). Em ambos os casos aparece Llorente entre o primeiro poste e o guarda-redes, e um outro jogador alto ainda mais à frente (Aurtenetxe/Amorebieta). Javi também está sempre lá, e quando a opção passa por um canto mais largo (raro) aparece atrás, a amortecer.

«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.