Se em alguns jogos da fase «regular» de qualificação para o Mundial2014 foi a vertente defensiva da Seleção Nacional que não esteve ao nível da produtividade atacante - em Israel, por exemplo -, na primeira mão do «playoff» assistimos ao inverso.

Curiosamente, isto também se aplica à Suécia. Mas olhando para a equipa das quinas importa destacar aquele que foi o bom sinal dado no Estádio da Luz, e já perspetivando a visita a Solna: a solidez defensiva.

O mérito não pode ser dado apenas aos elementos mais recuados, assim como os elogios às noites de muitos golos não podem ser exclusivos de quem joga na frente. Foi o trabalho coletivo que permitiu à Seleção manter a baliza inviolável na sexta-feira. A jogar de forma compacta, a conseguir que a equipa adversária tivesse poucas vezes a bola, a controlar as transições e a impedir que a formação orientada por Erik Hamrén fosse capaz de alimentar a dupla de avançados com futebol direto. Funcionou bem a cooperação entre Bruno Alves e Miguel Veloso, a impedir que Ibrahimovic recebesse a bola entre linhas, pelo ar ou junto à relva.

Nesta terça-feira a tarefa promete ser mais difícil. A Suécia será seguramente mais perigosa, mais pressionante, mesmo que não seja necessariamente mais atrevida, que aquele bloco coeso que se viu na Luz é a imagem de marca da seleção «blagult», é a cola que os une.

Por isso pede-se ao ataque luso que seja criativo, que não se deixe levar pela tendência para o «chuveirinho». Esse foi o mau sinal de sexta-feira, sobretudo na primeira parte, em que a equipa das quinas abusou dos passes picados para a área, de posição frontal, ou de cruzamentos ainda distantes da linha de fundo.

A tendência para levantar a bola será maior, até pela expectável pressão sueca, mas Portugal deve fugir disso tanto quanto possível, que os rins dos centrais suecos agradecem a possibilidade de abordar os lances de frente.

O ataque luso deve procurar uma boa circulação de bola, mesmo sob pressão, pois tem mais do que capacidade para isso. Esticar a tal cola que junta as peças suecas até que se separem. Dar largura ao jogo, mudar de flanco quando os caminhos estão fechados e procurar espaços. Recorrer ao cruzamento de maneira ponderada, sobretudo quando a linha de fundo estiver mais próxima e os defesas suecos mais permeáveis (recorde-se o golo de Ronaldo na Luz). Eles que até sentem muitas dificuldades quando as bolas são colocadas no espaço entre eles e o guarda-redes.

A falta de um «10» dificulta a tarefa, mas esse problema não é de agora. Por isso é mais realista desejar o regresso do verdadeiro Nani, capaz de dar vida aos flancos da Seleção (algo que só tem sido feito pelos laterais) e com confiança para colocar a bola no chão mesmo em situação de aperto.

P.S. (para seguir): formado no vizinho Santa Maria, Paulinho é um promissor avançado a tentar conquistar o seu espaço no Gil Vicente, depois de ter sido recrutado ao Trofense. É um avançado que luta muito, e frio na finalização, algo que nem sempre é fácil de conseguir com apenas 21 anos. Pode jogar tanto nas alas como no centro, e a lesão de Bruno Moraes pode abrir-lhe as portas da titularidade no papel de referência ofensiva da equipa de João de Deus, até pelas exibições bem mais discretas de Simy Nwankwo, outra opção para o lugar.

«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.