De regresso à competição após três jogos de ausência, Pablo Aimar deixou clara, uma vez mais, a sua importância na equipa do Benfica. As «águias» também venceram na ausência do argentino, mas o jogo com o Gil Vicente voltou a mostrar que o médio está bem longe de ser descartável. É, quanto a mim, o jogador mais difícil de substituir no «onze» de Jorge Jesus.

No plantel encarnado não há ninguém que faça aquilo que Aimar faz, e no mundo também não há muitos, pois trata-se de uma espécie em vias de extinção no futebol. «El Mago» é um «10» à antiga. Pode não ser grande ajuda a defender, mas ninguém pensa o jogo como ele. Sabe sempre onde estar e o que fazer. A definição da jogada pode não ser a melhor, por vezes, mas a decisão raramente é errada.

Aimar é um jogador que engrandece não só o Benfica, mas também o futebol português. Da sua boca dificilmente vão sair problemas para o clube, mesmo sem adoptar discursos encomendados. Pensa pela sua própria cabeça, e fala aos jornalistas com a mesma classe com que joga. É um profissional de mão cheia. Por vezes parece até que encara o futebol de forma muito cerebral e pouco emocional. Não beija o símbolo, não bate no peito. Quando marca um golo até festeja com discrição, mas não deixa de ser um ídolo para os adeptos.

É discreto em quase tudo, menos quando tem a bola no pé. Aí agiganta-se, como um predestinado. É um treinador dentro de campo, como diz Jesus, mas não daqueles que comandam mais do que jogam. «El Mago» distingue-se por isso mesmo: a lucidez com que analisa o jogo é proporcional à classe com que conduz a bola.

Acredito que na cabeça dos adeptos benfiquistas existam dois desejos consensuais, por estes dias: a conquista do título, claro, e depois a renovação de Aimar. As duas coisas estão relacionadas, de resto, pois parece-me que o argentino é crucial para esse objectivo colectivo. Sem ele seria bem mais complicado, sobretudo na fase decisiva da época. E se é difícil substitui-lo agora, também o seria no final da época. É certo que Aimar já tem 32 anos, mas também é verdade que poucas vezes apresentou a frescura física actual. Compreende-se que o presidente do Benfica tenha de salvaguardar questões financeiras, mas estou seguro de que os adeptos não se importavam nada de prescindir de um ou outro reforço de segunda linha, daqueles que andam emprestados, para segurar «El Mago».

P.S. (para seguir): Confesso que não vi João Carlos jogar assim tantas vezes, mas o pouco que vi permite-me entender facilmente o interesse que despertou no Liverpool. É um médio que se adapta ao estilo inglês pela alta rotação com que joga. É incapaz de estar muito tempo afastado da bola. Quando faz um passe aproxima-se logo do colega, na esperança de receber de novo o esférico. Por isso privilegia o passe curto, e sobretudo a tabela. Foi assim, de resto, que marcou um golo ao seu novo clube, no Torneio «NexGen». Agora é esperar que o futebol inglês ajude a desenvolver as capacidades de João Carlos, para que o futuro do futebol português conte com este talentoso médio.



«4x4x3» é um espaço de análise técnico-táctica do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.