O Belenenses regressou a um palco que é seu, por razões históricas, mas a temporada tem sido algo atribulada, pelos maus resultados do arranque e sobretudo pelo problema de saúde de Mitchell van der Gaag. Mas com o treinador «obrigado» a ficar na sombra a equipa do Restelo tem conseguido assustar os «grandes». Os dois pontos conquistados frente a Benfica e FC Porto servem de aviso para o Sporting, líder da Liga. É que no próximo sábado o Belenenses vai a Alvalade.

A 21 de setembro, há quase três meses, Mitchell van der Gaag sentiu-se mal no banco. Foi na receção ao Marítimo, curiosamente a outra equipa que representou em Portugal. O técnico foi transportado para o hospital ainda durante a primeira parte, e não teve possibilidade de festejar a primeira vitória da época no campeonato, que lhe foi dedicada.

O Belenenses tinha perdido nas quatro primeiras jornadas, mas o triunfo sobre o Marítimo quase não teve sabor, perante a preocupação. Cinco dias depois o técnico deu uma conferência de imprensa e revelou a necessidade de fazer uma pausa na carreira por causa de um problema cardíaco detetado no final da carreira de jogador, e que em meados de 2012 justificou a implantação de um «pacemaker» com desfibrilhador. «Senti-me mal e recebi dois choques elétricos. Esse aparelho salvou a minha vida», disse então o técnico holandês.

Nesse mesmo dia o presidente da SAD do Belenenses, Rui Pedro Soares, anunciou que Van der Gaag continuaria a ser o treinador, embora não pudesse ir para o banco. A equipa técnica foi reforçada com Marco Paulo, antigo jogador do clube e treinador dos juniores, para orientar a equipa nos jogos.

Durante alguns dias Mitchell van der Gaag ficou em repouso, mas rapidamente voltou a «picar o ponto» no Restelo. Estava com a equipa ao pequeno-almoço e ao almoço, mas à hora do treino não seguia para o relvado. Ficava no gabinete a tratar de outros assuntos, a fazer a planificação, que nunca deixou de estar a seu cargo.

Pouco ou nada mudou na rotina diária

Passados dois meses, aproximadamente, Van der Gaag já pisava também a relva, já orientava os treinos. Foi um regresso progressivo, prudente. Hoje em dia o técnico holandês faz praticamente tudo o que fazia antes de 21 de setembro, menos sentar-se no banco.

Para tal ainda não tem autorização médica. Vai ter com a equipa ao estágio, almoça com os jogadores, fala com eles. Depois os caminhos separam-se. A equipa vai para o campo, Van der Gaag afasta-se das emoções fortes. No banco e no balneário, ao intervalo, fala Marco Paulo.

«Não é uma situação normal mas não sentimos muita diferença. Está connosco todos os dias, só no banco é que não. Temos o Marco para essa parte. No resto ele está lá, nada mudou. Só ao intervalo», diz o guarda-redes Matt Jones antes da visita a Alvalade.

O regresso de Van der Gaag ao banco é prenda de Natal mais desejada pelo plantel, mas acima de tudo está a saúde do técnico. «Todos queremos que ele volte, mas é uma questão pessoal. Tem de voltar quando estiver pronto», defende o jogador inglês.

Matt Jones foi o escolhido da semana para fazer a antevisão do jogo. Tem sido sempre um jogador a assumir esse papel, nunca Marco Paulo, que apenas fala após os jogos. Foi a forma encontrada pelo Belenenses para deixar claro que o treinador continua a ser o mesmo, embora agora esteja na «sombra».

Mas é assim que o Belenenses tem assustado os «grandes». Na sexta jornada conseguiu uma igualdade a uma bola na Luz, com um golo de Diakité, e três rondas depois conseguiu o mesmo resultado diante do tricampeão FC Porto, no Restelo. Segue-se a visita ao Sporting.

«Já ganhámos o respeito de todos na Liga. Sabem que não vai ser fácil. O Sporting vai mostrar respeito por nós, pelos resultados que temos conseguido, e pelo que temos jogado», acredita Matt Jones.

O guarda-redes do Belenenses lembra que os jogos «são todos diferentes», mas que estes resultados «dão confiança». «Não interessa quem é o adversário. Vamos com confiança», acrescenta.

O Belenenses vai defrontar o líder da Liga, estatuto que o Sporting alcançou com mérito, no entender de Matt Jones, mas em Alvalade também estarão conscientes de que o jogo do próximo sábado não será fácil. Até porque a equipa do Restelo só perdeu um jogo na Liga desde que o treinador passou para a «sombra».