É uma entrevista sobre o futebol espanhol, mas o seu conteúdo tem muita aplicação à realidade portuguesa. Numa altura em que a competitividade da Liga espanhola parece ameaçada, Javier Tebas, recém-eleito presidente daquele organismo, na passada sexta-feira, já definiu o rumo que pretende dar o futebol profissional do seu país.

O combate aos jogos manipulados e aos desequilíbrios financeiros na gestão dos clubes são os inimigos eleitos para o ex-vicepresidente, sucessor de Jose Luis Astiazaran no cargo. Pelo meio, Javier Tebas aponta também a urgência na regulamentação dos fundos de investimento, na descida dos preços dos bilhetes e num maior equilíbrio da distribuição de receitas TV entre os clubes de topo e os restantes.

A prioridade das prioridades, diz em entrevista ao «El Pais», é acabar com a possibilidade de resultados combinados: «A UEFA e a FIFA dizem que só há um por cento de casos, mas um só jogo desses pode pôr em causa os outros 380 desse campeonato se tiver efeitos na classificação», lembra o dirigente, que a propósito recorre a uma analogia com o escândalo de abusos sexuais na Igreja: «O primeiro passo é reconhecer o problema, como a Igreja com esses casos. Só depois de perceberes que tens um problema é que podes tomar o remédio adequado. Neste caso, comunicar às autoridades e investigar o mínimo rumor», diz.

Advogado de profissão, com um longo currículo de colaboração com os clubes, em especial os que passam por situação financeira complicada, Tebas não tem dúvidas em afirmar que o futebol espanhol «está doente»: «Não temos apenas uma crise económica, mas também uma crise moral, de valores», diz. O novo presidente sustenta que o desafio imediato passa por «amortizar uma parte importante da dívida global» diminuindo os gastos dos clubes. «Temos de inculcar nos dirigentes a ideia de que não vale tudo, gastar o que for preciso para garantir a permanência de escalão», aponta.

Com uma situação estrutural que, salvaguardando a devida proporção, tem semelhanças com a da Liga portuguesa, o novo presidente da LFP garante que não vai poupar nas medidas sancionatórias, incluindo descidas de divisão e proibição de contratar jogadores para clubes incumpridores. E sublinha a urgência de regular os fundos de investimento: «Os fundos substituem o financiamento externo, mas é preciso definir quantos jogadores de uma mesma equipa pode ter um só fundo, e quantos de fundos diferentes. Não queremos eliminá-los, apenas regulá-los», garante, sublinhando ao mesmo tempo que a prioridade dos clubes terá de passar por «reduzir gastos para não aumentar o endividamento», diz.

Na entrevista ao «El Pais», Javier Tebas diz ainda que face à situação económica do país, os clubes terão de baixar os preços dos bilhetes: «Temos de aspirar a uma Liga saneada economicamente, como a Bundesliga e vender o nosso produto como eles o fazem. É preciso encher os estádios (...) e não podemos manter os preços», alerta.

Numa altura em que Real Madrid e Barcelona, que têm a parte de leão das receitas televisivas, aceitaram reduzir a sua fatia dos direitos TV em 45 por cento, Tebas sublinha que a intenção de a Liga proceder a uma venda centralizada, a partir de 2015, a exemplo do que acontece nos principais campeonatos europeus, representa a necessidade de um equilíbrio e de um modelo mais justo, mas que não «debilite dois clubes que são as nossas locomotivas nas vendas de direitos internacionais», conclui.