A Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP) considera que Carlos Queiroz perturbou o controlo antidopagem à selecção e deixa críticas duras à decisão do Conselho de Disciplina da Federação, que limitou a suspensão do seleccionador a um mês. A ADoP estendeu esse castigo a seis meses e revelou nesta quinta-feira os fundamentos da sentença.

«O CD não enquadrou correctamente o comportamento do seleccionador nacional Carlos Queiroz e, igualmente, não apreciou devidamente a prova produzida», considera o acórdão do organismo que tutela a luta antidoping, num acórdão assinado pelo presidente do Instituto do Desporto de Portugal, Luís Sardinha, uma vez que Luís Horta, presidente da ADoP, se declarou impedido, por ter sido ele o visado pelo seleccionador.

O acórdão dá como não provado um dos principais argumentos apresentados por Carlos Queiroz para a sua reacção intempestiva à chegada da brigada antidoping à Covilhã: a hora matinal. O documento diz que o próprio CD dá como não provado que tanto Carlos Queiroz como Henrique Jones, médico da selecção, «tenham em algum momento falado aos médicos da ADoP sobre a necessidade de os jogadores despertarem nesse dia mais tarde». «Se lhes tivesse sido pedido para esperar mais um pouco para fazer o controlo, teriam esperado mais um pouco antes de fazer o controlo», assegura João Magalhães Marques, médico da ADoP, citado no acórdão.

As palavras a mais e a menos, e as «raízes africanas»

Ao longo de 31 páginas, a ADoP apresenta os factos e os argumentos que considera indiciadores da perturbação do controlo. E contesta a forma como o CD reproduziu as frases do seleccionador. Diz por exemplo que na frase «Um controlo antidoping? À seleção nacional? O Dr. Luís Horta quer é visibilidade», o CD não reproduziu a expressão Selecção Nacional, «que lhe dá todo o sentido».

Diz ainda que, pelo contrário, há na versão do CD palavras a mais na frase na origem de toda a confusão («Por que é que estes gajos não vão, a esta hora, fazer controlo na c... da mãe do Luís Horta?»). A ADoP reforça que a questão da hora nunca foi colocada e, de todas as testemunhas, só Carlos Queiroz diz que a disse usando a expressão «a esta hora».

A ADoP considera ainda «falaciosa e irrelevante» a conclusão do CD da FPF, de que «no futebol usa-se com frequência o calão» e revela a argumentação de Queiroz a justificar as expressões usadas: «O depoente disse que, de acordo com a sua cultura e raízes africanas, há um vernáculo, um calão, «vai para c¿ maím», ou «foste colocado em c¿ da mãe», que significa ir para longe, estar longe, e que nem por isso usar esta frase para alguém significa que se queira com ela ofender essa pessoa ou a mãe dessa pessoa.»

A sentença considerou várias atenuantes para reduzir a pena (o quadro regulamentar implicava no mínimo dois anos de suspensão), mas com os seis meses de castigo Carlos Queiroz falha quatro jogos da qualificação de Portugal para o Euro 2012. O seleccionador anunciou já a intenção de recorrer para o Tribunal Arbitral do Desporto (TAS).