A taça de campeão de Espanha ao colo de Neptuno, a fonte onde desembocam os festejos do Atlético Madrid A imagem tem 18 anos e o sonho colchonero de lá voltar para festejar o título espanhol nunca esteve desde então tão perto como agora. Mesmo depois da derrota de domingo frente ao Levante. Mas pode ser ainda melhor. Se 1996 foi o ano do primeiro «doblete» da história do clube (Toni Muñoz, Kiko e Solozábal mostram, além da taça de campeão, a Taça do Rei ganha um mês antes), esta época também está em aberto uma dobradinha «rojiblanca», com upgrade. O Atlético é finalista da Liga dos Campeões, vai jogar a decisão integralmente madrilena na Luz, a 24 de maio, frente ao Real Madrid. A festa da Liga dos Campeões será na capital espanhola, resta saber se na fonte de Neptuno, onde festeja o Atlético, se na Cibeles, cenário habitual das festas do Real.

No Calderón há uma figura comum à dobradinha de 1996 que é a grande época de referência do clube e à fantástica época que trouxe o Atlético a este maio de 2014 com o mundo inteiro pela frente: Diego Simeone. Há 18 anos o argentino era figura central no meio-campo da equipa colchonera, treinada por Radomir Antic, hoje é o treinador que levou a equipa ao topo do futebol europeu.

Aqui está ele, a 10 de abril de 1996, a festejar a conquista da Taça do Rei, frente ao Barcelona: 1-0 na final em Saragoça, o golo foi de Pantic, já no prolongamento.


A 25 de maio, o título. O primeiro em 19 anos. Chegou na última jornada, o adversário era o Albacete. O Atlético tinha dominado esse campeonato, mas para o fim vacilou. Um empate com o Tenerife na penúltima jornada complicou as contas, ainda assim os «rojiblancos» só dependiam de si. Se ganhassem eram campeões. À espreita estava o Valência. Antes dos 20 minutos, Simeone. Um cabeceamento de «Cholo», depois de um livre, fez o 1-0 e abriu caminho à festa no Calderón. Dez minutos mais tarde foi Kiko a marcar o 2-0. Estava feito, o Atlético era campeão.

A festa que se seguiu foi imensa. No estádio, primeiro.



Depois em Neptuno e por toda a cidade. A imagem que vemos lá em cima, com os jogadores do Atlético empoleirados na estátua de Neptuno a segurar as duas taças, é do dia seguinte, a meio daquela que ficou conhecida como a cavalgada vitoriosa do Atlético. Ainda era o tempo de Jesus Gil y Gil, já perto do final. O histórico e polémico presidente colchonero arranjou maneira de a equipa fazer a volta triunfal pela cidade a cavalo. À frente ia o próprio cavalo de Gil y Gil, «Imperioso», atrás 15 carroças que transportavam os jogadores.

Nas ruas de Madrid, 50 mil adeptos colchoneros, uma imensa massa humana de uma equipa que rivaliza com os outros dois gigantes espanhóis na dimensão e paixão da «afición». O Atlético foi nove vezes campeão de Espanha na sua história, apenas três nos últimos 40 anos. Só por uma vez antes chegou a uma final da Taça dos Campeões, há exatamente 40 anos. No palmarés não se pode comparar a Real Madrid e Barcelona, mas se a medida for a «afición» é tão grande como os maiores.

Os adeptos mantiveram-se fiéis, mesmo quando os desmandos da longa gestão de Gil y Gil acabaram por atirar a equipa para a II Divisão, em 2000. Ficaram com a equipa nos dois anos da descida ao Inferno, como chamou uma campanha publicitária do próprio clube à passagem pela II Liga. E continuam com ela, a cada jogo.

Passaram 18 anos desde o «doblete» e o Atlético não voltou muitas vezes a Neptuno para festejar. Ganhou seis troféus desde então. Três deles foram com Simeone, em dois anos e meio.

Depois do título da II Liga em 2002, 2010 foi o ano da conquista da primeira Liga Europa, com Quique Flores no banco. Seguiu-se a Supertaça Europeia dessa época frente ao Inter, 2-0.

No final de 2011 chegou Diego Simeone para a sua terceira passagem pelo clube. As duas primeiras como jogador (saiu em 1997, voltou em 2003 e ficou até 2005), agora como treinador. Ganhou a Liga Europa no final dessa época e venceu o Chelsea na Supertaça no verão. Em 2012/13 ganhou a Taça do Rei ao Real Madrid e terminou em terceiro lugar na Liga, a melhor posição do clube desde 1996.

Esta época aprimorou o trabalho que tem vindo a fazer, construir uma equipa forte, sólida e solidária como poucas, que tem entre os protagonistas um português. Tiago, capitão de equipa na épica eliminação do Chelsea em Stamford Bridge, na meia-final.

Há dias Radomir Antic, lembrando a dobradinha do seu tempo e comentando a fantástica época da equipa com Simeone, dizia que essa é mesmo a chave deste Atlético. «O Diego moldou um grupo de jogadores sedentos de êxito que colocam o bem maior à frente dos seus egos. Nos tempos que correm é uma grande vitória, porque não é tarefa fácil», diz o sérvio à Reuters.

O que fez o Atlético de Madrid esta época já é notável. Se tudo isto acabar em Neptuno, com duas taças nas mãos de Tiago e companhia, então será lenda.