André Gomes é o nome do momento no Benfica. Por um lado, é encarado como um representante da armada portuguesa que procura conquistar espaço no onze de Jorge Jesus. Por outro, tem a possibilidade de sair do clube nos próximos dias e não voltar ao ponto de partida.

O médio de 20 anos fez a sua estreia como titular do Benfica em Barcelos. Foi o primeiro jogo na Liga, a primeira aparição no onze e o caminho aberto para o primeiro golo. A 27 de outubro de 2012, André Gomes deixou os adeptos encarnados com água na boca.

Na visita ao Gil Vicente, para a 7ª jornada da Liga 2012/13, Jorge Jesus apostou em dois portugueses (o outro foi Luisinho) e obteve uma resposta à altura: Lima inaugurou a contagem, o lateral esquerdo fez o segundo golo e André Gomes festejou em cima do intervalo. 0-3.

Foi o último golo luso do Benfica no campeonato português. O médio vivia dias de felicidade extrema. Antes, saltara do banco de suplentes para selar o triunfo das águias em Freamunde, para a Taça de Portugal (0-4). Depois, novo festejo no norte do país. Tudo parecia correr de feição para o jovem nascido em Grijó.

André Gomes chegou à Seleção Nacional AA e terminou a época com 18 jogos pela equipa principal do clube da Luz. De qualquer forma, para alguns adeptos, um episódio em Leverkusen terá contribuído para um ligeiro desgaste na relação entre o jogador e Jorge Jesus.

O médio foi titular nos 16avos-de-final da Liga Europa mas contraiu uma lesão a poucos minutos do intervalo. O treinador começou por pedir a sua continuidade em campo até ao regresso aos balneários mas o português achou que não tinha as condições mínimas para prosseguir. Foi substituído ao minuto 42. André Gomes parou por lesão e só voltou à equipa dois meses mais tarde.

 
Haveria espaço para a afirmação do jogador na época 2013/14? Até ao momento, os números não comprovam uma aposta clara. André Gomes fez apenas seis jogos pela equipa principal, cinco deles como suplente utilizado.

Neste fim-de-semana, num momento de promoção da juventude encarnada, Jorge Jesus lançou vários portugueses e o médio foi utilizado pela primeira vez (na presente temporada) a tempo inteiro. Somou vários pormenores de qualidade, sempre a um ritmo peculiar. Quem o conhece há vários anos garante que ele é mesmo assim.

«Não tem a velocidade de outros, é certo, mas está sempre no sítio certo e dá a ideia errada porque, quando a bola chega aos seus pés, já tem na cabeça o que vai fazer a seguir. Dois segundos antes de ela chegar, já tomou a decisão. Claro que é um jogador diferente dos que costumam ser aposta de Jorge Jesus, não é tão agressivo e intenso no jogo», diz Fábio Martins, antigo companheiro de equipa, à Maisfutebol Total

André Gomes poderia aproveitar o jogo da Taça da Liga para reclamar mais tempo de utilização na Liga. Curiosamente, o Benfica defronta novamente o Gil Vicente, em Barcelos. No mesmo palco onde o médio marcou o seu primeiro e único golo no campeonato nacional.

Porém, esta semana marca o encerramento do mercado de transferências de inverno e o futuro do jogador pode passar por um clube fora de Portugal. Jorge Mendes chegou a acordo com o Benfica para a transferência de André Gomes a troco de 15 milhões de euros, procurando agora o clube ideal para finalizar essa operação.

Com o empresário português a fazer a ponte entre as partes, o futuro do jogador de 20 anos pode passar pelo mercado inglês. O mercado fecha na sexta-feira e, se tal vier a acontecer, o médio não voltará ao ponto de partida: o Estádio Cidade de Barcelos.

O Benfica não fecha a porta de saída a um jogador que, embora tenha sido descrito como um produto da formação, chegou ao emblema encarnado com a idade de júnior. André Gomes cresceu no FC Porto e no Boavista antes de assinar pelo clube da Luz em 2011.

 
Talento interessante nas camadas jovens do FC Porto, a sua saída motivou estranheza nos antigos colegas de equipa. «Sinceramente, foi estranho para nós, nunca percebi aquilo bem. Na altura pensámos que tinha sido decisão do clube, embora fosse estranho porque ele jogava regularmente nos sub-15. Mas não faço ideia do que aconteceu ao certo», frisa Fábio Martins, que cresceu ao lado do médio na Invicta. O amigo Adérito Pedrosa já tinha apontado para o  cenário de dispensa.

Em 2008, André Gomes mudou-se para o Boavista, cumprindo um ano no satélite Pasteleira até ser integrado nos juniores B da formação axadrezada. Seguiu-se o salto para o Benfica. «Sempre teve muito valor. E depois do que fez na época passada, com grandes jogos em Portugal e na Europa, não dá para entender porque é que não joga mais no Benfica.»

«A qualidade é evidente, portanto tem de haver outro motivo, não sei. Parece que vai ter de sair para crescer. Face às circunstâncias, também acho que é o melhor para ele. Um jogador, com esta idade, precisa mesmo de jogar para evoluir. Infelizmente, o estrangeiro parece ser a melhor solução», acrescenta Fábio Martins.

O extremo percebe o sentimento de André Gomes. Após mais de uma década ao serviço do FC Porto, Fábio Martins teve de abandonar o clube portista e procura agora o seu espaço no Desportivo das Aves, disputando a Liga de Honra.

«Com as equipas B, temos visto algumas melhorias. Apareceu o Ivan Cavaleiro e mais alguns, mas Benfica e FC Porto parecem estar numa realidade diferente. Enquanto o Sporting, talvez por necessidade financeira, lança alguns jovens como o Carlos Mané, antes o Llori e o Bruma, conseguindo transferências de grande valor, Benfica e Porto seguem outra estratégia e, enquanto um não mudar, não acho que o outro o faça», desabafa.

Para Fábio Martins, a saída de um clube grande não representa o fim da linha ou sequer um passo atrás na carreira.

«Infelizmente, como as coisas estão, pode até ser melhor. Eu saí para o Aves e não digo que foi um passo atrás. Mas a transição é difícil, senti isso nas primeiras semanas. Temos de mudar o chip porque crescemos num ambiente fechado, no ambiente das academias, com outro tipo de mentalidades e condições. Se eu soubesse o que sei hoje, se calhar não teria feito toda a minha formação no FC Porto. Mas acredito que as coisas podem mudar, as equipas B estão a ajudar», remata o extremo, em entrevista à Maisfutebol Total.