A operação «Apito Dourado» devolveu para a ordem do dia as muitas suspeições sobre a arbitragem no futebol português, no entanto, apesar das muitas histórias que surgem ano após ano, a justiça regista apenas uma condenação por corrupção: o árbitro José Guímaro.
O primeiro grande caso dos últimos quinze anos teve o árbitro Francisco Silva como protagonista. Os factos remontam a 10 de Novembro de 1990 quando o juiz algarvio se preparava para dirigir o Penafiel-Belenenses, da então chamada I Divisão. Pouco minutos antes do pontapé de partida, Lourenço Pinto, antigo presidente do Conselho de arbitragem da FPF e actual advogado de Valentim Loureiro, entrou de rompante pelo balneário do árbitro e ordenou-lhe que lhe entregasse um envelope que continha um cheque de 2 mil contos passado pelo presidente do Penafiel.
O então responsável pela arbitragem impediu de imediato Francisco Silva de arbitrar o jogo, mas o árbitro alegou sempre a sua inocência, defendendo que nunca pediu dinheiro a Manuel Rocha e tinha sido vítima de uma cilada. O árbitro algarvio foi irradiado pela justiça desportiva, mas acabou por ser ilibado pela civil.
Quatro anos volvidos, a 29 de Junho de 1994, José Guímaro foi detido pela Polícia Judiciária na sequência de buscas realizadas à sua residência, na Tocha, onde foi encontrada uma fotocópia de um cheque de 500 contos passado por Manuel Lopes Rodrigues, pai do presidente do Leça. Em causa estava a vitória do Leça sobre o Académico Viseu (3-0), jogo arbitrado pelo juiz de Coimbra, que permitiu aos leceiros conquistar o título de campeões da II B e a consequente subida à Liga de Honra.
José Guímaro e Manuel Lopes Rodrigues foram condenados por corrupção passiva e activa, respectivamente, pelo Tribunal da Boa-Hora, mas, depois, o Supremo Tribunal de Justiça anulou parcialmente a sentença aplicada ao dirigente. Guímaro foi, assim, foi o único condenado em tribunal, mas os casos continuaram a multiplicar-se nos anos seguintes.
No início da presente época, a Direcção da Liga tentou impor o silêncio absoluto dos agentes desportivos sobre as arbitragens antes dos jogos, de forma a diminuir a pressão sobre os juízes, mas a verdade é que a os casos continuam a marcar a agenda do futebol.