Nas últimas semanas, muito se tem especulado em volta do confinamento de jogadores e treinadores, das suas experiências, expectativas e opiniões sobre o regresso à competição. Mas há intervenientes do jogo cuja opinião não tem sido tida em conta.

Além de serem árbitros, uma das profissões mais cobradas pela sociedade em Portugal, são homens que veem a sua principal atividade suspensa, com o adicional encargo de que são remunerados por cada jogo que fazem, o que os deixa numa situação financeira débil. E mais, têm a tarefa de se manterem, como os jogadores, em forma para o possível reatar das competições.

Em declarações ao Maisfutebol, Nuno Almeida, árbitro da primeira categoria do futebol português, refere que apesar de não estar a passar, «felizmente», por nenhuma dificuldade financeira, tem feito esforços para conseguir manter-se em forma.

«Consigo fazê-lo, dentro do possível. Tenho a felicidade de viver numa casa com espaço exterior, o que me permite realizar treinos com alguma qualidade, que não seriam possíveis se estivesse restrito, por exemplo, a um apartamento», começa por dizer.

Numa comunicação por escrito, o árbitro garante, por isso, estar fisicamente apto para o regresso do campeonato.

«Tenho tido sempre todas as indicações e acompanhamento diário (não presencial) do meu Preparador Físico. Como o meu espaço de confinamento é amplo permite-me realizar a grande parte dos treinos prescritos. Desta maneira, a minha preparação física não está a ser descurada», reforça.

Em casa, com a família, desde o dia 11 de março, Nuno Almeida revelou ao nosso jornal que tem deixado de lado a advocacia, profissão secundária, e tem estado em teletrabalho com o Conselho de Arbitragem (CA) da Federação Portuguesa de Futebol.

O objetivo principal é a assimilação constante dos novos regulamentos da arbitragem. «A advocacia ficou para segundo plano, visto que a arbitragem esgota quase a totalidade do meu tempo. São opções e, para já, optei por dedicar-me a cem por cento à arbitragem, nomeadamente com trabalhos teóricos semanais propostos pelo CA. É uma forma de e nos manter não só unidos como atualizados», contou o profissional da Associação do Algarve.

Atento ao que vai sendo divulgado sobre um possível regresso das competições, o juiz, que comandou o primeiro jogo oficial da presente temporada em Portugal, a Supertaça entre Benfica e Sporting, apoia a retoma, desde sejam asseguradas as medidas de segurança.

«Apoio [o regresso] desde que, obviamente, estejam asseguradas todas as questões de saúde pública. Julgo que é a preocupação primordial de todos nós. Quanto ao timing do regresso, não sou a pessoa indicada para responder. Na certeza, porém, que o Governo, DGS, FPF e Liga saberão qual a melhor data em caso de recomeço», defende Nuno Almeida.

Por outro lado, Nuno Almeida fala sobre o medo de ser contagiado em campo, assume que existe esse receio, mas acredita que será «absorvido pela vontade de voltar aos relvados».

«Neste momento das nossas vidas, julgo que o medo é um sentimento que nos acompanha Isso é inquestionável. Contudo, com um plano de regresso que acautele a segurança de todos, o medo será reduzido pelas medidas a tomar e talvez absorvido pela vontade de voltar aos relvados», realça.

Voltando o futebol, tem-se levantado a questão de o fazer com ou sem VAR, devido às condições restritas, relativamente às distâncias entre árbitros, nos compartimentos de videoárbitro na Cidade do Futebol.

Nuno Almeida acredita que é possível voltar em pleno com o mecanismo de assistência ao árbitro.

«Sou da opinião que deve haver VAR e que a existência do mesmo pode ser possível com segurança. Basta que se definam medidas adequadas, como estão previstas igualmente para os jogadores de futebol, por exemplo. Se seguirmos os protocolos, a segurança de todos ficará assegurada», finalizou.