Arda Turan é, a par de Diego Costa, a grande dúvida do Atlético de Madrid para a final da Champions deste sábado, na Luz.

Os adeptos «colchoneros» sabem que terão muito mais hipóteses de ver o seu «Atleti» a levantar o troféu de campeão europeu, se o turco e o hispano-brasileiro conseguirem estar prontos a combater o poder do Real.

Arda é muito mais que um jogador importante no fantástico conjunto de Simeone (novo campeão espanhol e finalista da Champions). O médio turco, jogador que mistura
carisma com uma humildade que parece verdadeira, é protagonista de uma «contra-cultura» virtual, alimentada nas redes sociais, especialmente entre espanhóis e turcos, que já justificou ser tema de um livro e mereceu honras de capa da «Libero».

De apanha-bolas a jogador-referência


Arda Turan é, aos 27 anos, aquele tipo de jogador a quem é difícil apontar defeitos. Muito completo em campo, mostra regularidade, sentido coletivo e grande qualidade individual.

Foi sempre assim na seleção turca, está a ser assim no At. Madrid (onde cumpre a terceira época), já tinha sido assim no Galatasaray (onde passou oito temporadas seguidas).

O que poucos saberão é que Arda, hoje elemento importante num finalista da Champions, era… apanha-bolas do Gala, no ano em que o conjunto de Istambul venceu a Taça UEFA (1999/2000, vitória sobre o Arsenal no jogo decisivo).

Em pouco mais de uma década, Arda ascendeu, literalmente, da base ao topo. E foi, pelo caminho, somando simpatias, gerando inspiração.

Já é tema de livro e tudo

Juan Esteban Rodriguez formou-se na Universidade Complutense de Madrid, tendo-se licenciado em História, com doutoramento na área de Didática das Ciências Sociais.

Em 2012, estreou-se na publicação de livros. Entre junho e dezembro de 2013, realizou investigação de pós-doutoramento sobre os livros de História de Portugal e a sua evolução desde o Estado Novo. Adepto «absoluto» do At. Madrid, Juan Rodriguez publicou, já em 2014, uma biografia do jogador turco Arda Turan («Arda Turan. El genio de Bayrampasa, Editorial Al Poste, 2014»).

Como começou o interesse de Juan por Arda Turan? «A ideia surgiu dos meus editores da «Al Poste». Foram eles que me incitaram a escrever a biografia de uma figura tão famosa mas, ao mesmo tempo, tão desconhecida como Arda. Tinha acabado de publicar «Leyendas de la Premier», com o meu bom amigo Alberto Fernández e, apesar de estar algo cansado, entusiasmei-me com o projeto, porque o jogador me entusiasma», explica o autor, em declarações à Maisfutebol Total.

Que é que tem Arda de diferente dos outros?

«Arda é um jogador de grande qualidade em todos os aspetos ofensivos do jogo. Dispara bem, disputa a bola fabulosamente, tem um grande passe, protege bem a bola… Poderemos dizer que executa com mestria e precisão todas as ações técnicas», aponta Juan Esteban Rodriguez, para depois acrescentar. «Além de tudo isso, com Simeone aprendeu a ser um jogador cada vez mais intenso, que corre atrás da bola, faz coberturas ao seu lateral (Filipe Luís) e vai sozinho quando é preciso ir. Tudo isto faz de Arda um jogador fantástico, de pura elite

«E tudo isto», reforça o autor espanhol, «com estética, com uma forma especial de ser. Sempre humilde, sempre generoso, sempre a sorrir. Ele prefere dar golos a ser ele a marcá-los. Disse isso várias vezes e creio que isso diz tudo sobre a sua forma de ser. Isso distingue-o da maioria dos futebolistas. É como uma criança a jogar. Uma criança que compete, claro, mas que se sente bem, que se diverte, que é feliz com a bola. Capaz de sorrir nas situações mais tensas.»

Claramente encantado pelas «características únicas» de Arda, Juan Rodriguez desenvolve: «A maioria dos futebolistas não são assim tão generosos, não se divertem tanto, não sorriem. A tensão e a competitividade dominam-lhes. Arda caminha sorrindo enquanto outros vão correndo com o gesto tenso. E Arda chega antes

E se Arda Turan não recuperar a tempo da final? 

«Bom, aí o Real Madrid fica com muito mais hipóteses de ganhar a final de Lisboa», sentencia, um pouco apreensivo, o investigador madrileno. 

«Quando o teu jogador mais criativo, mais distinto, de maior qualidade individual não está em campo, as opções do teu rival crescem muito. O Madrid não terá Xabi Alonso, mas se o Atlético não tiver Arda, isso será uma baixa tremenda», atalha Juan Esteban Rodriguez.

Sendo assim tão especial, será Arda Turan o… CR7 da Turquia? «Bom, talvez se possa fazer essa declaração. Ou dizer que CR7 é o Arda de Portugal… hahahaha! Sim, brincadeiras à parte, ambos são os jogadores mais importantes dos seus países, os mais mediáticos, os que mais estão triunfando fora dos seus países. Ambos são as chaves das respetivas seleções. Nesse sentido, a comparação é possível. Claro que ambos têm atitudes muito diferentes nas suas vidas. Arda é mais humilde», nota o escritor espanhol. 

«O grande jornalista turco Ozgur Sançar está a tratar da tradução por estas semanas, acredito que em junho o livro estará publicado em turco. Na Turquia há uma autêntica loucura «ardaturanista», comenta.

Com o Porto como inspiração

Uma parte da biografia de Arda Turan foi escrita no Porto. Juan Rodriguez conta: «Não o escrevi todo no Porto, só uma parte. Alguns capítulos. A razão é que durante uns meses (de junho a dezembro de 2013) vivi no Porto, porque estava como professor convidado da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), realizando uma investigação de pós-doutoramento. Não podia esperar pelo regresso a Madrid para começar a escrever o livro, porque havia prazos de entrega, pelo que fui escrevendo umas coisas no Porto. À noite, quando chegava a casa, punha-me a escrever. Era o único momento do dia que tinha porque o resto do tempo passava-o na FLUP e na Biblioteca Municipal.»

E porquê o Porto? «Queria fazer alguma experiência no estrangeiro, porque isso é bom para a nossa carreira como professores na Universidade espanhola. Portugal sempre foi um país que me encantou. Gosto das pessoas, da comida, das cidades. Considero Portugal o meu segundo país. Logo que escrevi à FLUP a explicar o meu projeto, pareceu-lhes bem. Convidaram-me oficialmente e fui, para abraçar uma experiência maravilhosa. Tenho o Porto no coração.»

O futebol português por um «Ardaturanista» 

Como vê Juan, fanático por futebol e amante de Portugal, o estado dos clubes portugueses? « Bom, creio que o futebol portugués está absolutamente polarizado entre Benfica, FC Porto e Sporting. Só depois estão os outros. Sempre foi assim, mas recordo uma ou outra campanha boa de Braga ou Boavista. Vejo o Porto, nos últimos anos, muito dominador. Aqui temos uma visão muito positiva de gestão de Pinto da Costa, um presidente que compra barato e vende caro. Todos têm medo de negociar com Pinto da Costa, porque é duríssimo e sabe fazer aquisições boas para o clube. Basta recordar as operações com Pepe, Anderson, Lucho González, Deco, Falcao e tantos outros nos últimos anos.»  

«O Benfica é uma equipa atrativa, com grandes jogadores nos últimos anos. Gosto especialmente de jogadores como Luisão, Salvio, Cardozo, Rodrigo, Lima, ou ainda Matic e Aimar, que lá passaram… O Benfica tem tido equipas muito interessantes, não se chegam a duas finais europeias seguidas por acaso. Quanto ao Sporting, está um pouco atrás dos outros dois. Sempre foi histórico, mas um pouco menos vencedor que Benfica e FC Porto. Aqui em Espanha, o Sporting é visto como o terceiro de Portugal, um clube muito baseado na sua cantera, que sabe formar bons jogadores. Futre, Figo, Cristiano Ronaldo, Nani, todos saíram da formação do Sporting».