«Até ao fim» é uma rubrica do Maisfutebol que visita adeptos que tenham uma paixão incondicional por um clube e uma história por contar. Críticas e sugestões para spereira@mediacapital.pt

Tomás Salvador é sportinguista desde que se lembra e sócio desde os dez anos. Sempre se habituou a ter camisolas do clube, mas como qualquer miúdo tinha um sonho: ter a camisola do Liedson.

«Era o meu jogador preferido. Foi um dos primeiros jogadores que me lembro de gostar no Sporting, foi um ídolo de juventude», contou ao Maisfutebol.

«Lembro-me que estava a ver aquele que foi o último jogo dele e quando ele foi substituído perto do fim do jogo senti uma grande tristeza. Havia muitas pessoas a chorar e foi muito triste.»

A ambição de ter a camisola de Liedson concretizou-se em 2009. Tinha Tomás Salvador 11 anos. Foi ele próprio que comprou a camisola, iniciando então um hábito que se mantém até hoje. Mal ele sabia, porém, que a camisola tão desejada se tornou motivo de indignação.

«O Liedson regressou ao Brasil em 2012 e depois voltou para jogar no FC Porto. Isso coincidiu com a pior época da história do Sporting. Não estava nada à espera e senti grande revolta», conta.

«Ele tinha sido o meu ídolo, tinha sido o ídolo do Sporting e ir jogar para o FC Porto, um grande rival, foi uma grande traição. Andava sempre com a camisola para todo o lado. Muitas vezes dormia com ela. Quando o Sporting ganhava, no dia a seguir levava a camisola para a escola.»

A partir daí, nada voltou a ser igual para Tomás Salvador. O miúdo zangou-se em definitivo com aquela camisola. Era só um adolescente, é verdade, mas percebeu logo ali que ídolos nunca mais.

«Quando soube que ele ia para o FC Porto, mesmo antes de ele ir, meti a camisola à porta do quarto. A camisola do Liedson não podia voltar a entrar no meu quarto. Então deixei-a no chão, do lado de fora da porta», recorda.

Em 2015 fiz uma viagem ao Congo e ofereci a camisola a umas crianças. Já não me dizia nada, só me trazia más memórias e eles ficaram todos contentes. Ficaram mais contentes com a camisola do Liedson do que eu ficaria com ela.»

A camisola de Liedson não foi, porém, a única coisa que levou para essa viagem ao Congo.

«Curiosamente também tinha uma camisola do João Moutinho, da mesma temporada, só que em vez de ser a camisola principal era a alternativa, e também a deixei ficar lá. Aliás, levei as duas camisolas já com a intenção de as dar a alguém», sublinha.

«Mas não havia comparação entre as duas camisolas. O Liedson foi um ídolo, o João Moutinho nunca foi ídolo, era só um jogador de quem eu gostava antes de ir para o FC Porto. O Liedson custou seguramente muito mais.»

Os anos passaram, Tomás Salvador deixou de ser um adolescente e tornou-se um homem. Estou em França, na Universidade de Lille, tirou o curso de Economia e Gestão, e regressou a Lisboa para estagiar na PWC, uma empresa de auditoria, consultoria e fiscalidade.

Tomás Salvador cresceu, mas há duas coisas que não mudaram: por um lado, a paixão pelo Sporting, clube que segue religiosamente no estádio, por outro lado, a certeza que não quer ter mais ídolos. Depois de Liedson, e daquela camisola que se tornou maldita, só o Sporting interessa.

«Acabaram-se os ídolos para mim. Ídolo só mesmo o Sporting. Compro quase todos os anos a camisola do Sporting e nunca mais comprei com nome ou número», refere.

«E não penso voltar a comprar.»

Artigo original: 29/10; 23h50

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