Aos 36 anos, Tulipa orienta o Trofense e é o mais jovem técnico da Liga. Em entrevista ao Maisfutebol/Rádio Clube, esclarece de uma vez por todas os casos gerados por Zé Carlos e Ricardo Nascimento, dois atletas que abandonaram a Trofa por motivos diferentes. Hugo Leal também merece algumas palavras nesta entrevista.
O Ricardo Nascimento e o Zé Carlos não lhe dariam muito jeito neste campeonato?
Se olharmos só para a vertente técnica, sim. Mas o futebol não é feito só de bons executantes. É feito também de bons profissionais, de gente com responsabilidade e que entende a mensagem do treinador. De gente que quer tornar o grupo mais forte. Nós tínhamos esses dois atletas e à sexta jornada o Trofense continuava com zero pontos. Sem eles, já conquistámos oito.
A saída de ambos foi favorável ao grupo de trabalho?
Completamente. No caso do Zé Carlos, pareceu-me que não estava muito empenhado em ficar no nosso país, pois tinha a esposa no Brasil. Entendeu, então, que o melhor seria sair.
E no caso do Ricardo Nascimento? Dizem que é um jogador com uma personalidade muito própria...
Se ter personalidade é não ser aberto, não dialogar e não enfrentar as pessoas¿ Conheci o Ricardo Nascimento como colega de equipa numa altura em que éramos muito jovens (n.d.r. 1996/97, no Boavista) e o seu comportamento em nada se alterou desde então. Não cresceu. Continua a pensar que ele é que está bem, que ele é que faz tudo bem e que todos os outros se têm de moldar a ele. A minha concepção do jogo, do futebol, de um grupo, é completamente distinta.
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Ele diz muitas vezes que ajudou o clube a subir de divisão, mas eu lembro que quando o Ricardo Nascimento chegou ao Trofense a equipa já estava no primeiro lugar. E este ano, enquanto cá esteve, fizemos zero pontos. Já estou há muito tempo no futebol e até hoje só vi um jogador a resolver as coisas sozinho. Foi o Maradona
E em relação ao Hugo Leal, está satisfeito com o rendimento dele nos treinos e nos jogos?
O Hugo tem de melhorar pois chegou numa fase em que não tínhamos pontos e era urgente preparar uma equipa que se sentisse confortável com a bola. Ele é importante nesse aspecto, mas chegou com uma deficiente condição física. Temos de saber geri-lo muito bem, pois tem os tempos de recuperação mais lentos. Não queremos que tenha recaídas.
O Hugo é um jogador feliz na Trofa?
Sempre que tomou decisões na carreira dele, foi para ser feliz. Saiu do F.C. Porto para ir para o último classificado do campeonato, a Académica, por exemplo. Tem melhorado muito e pela sua experiência pode ser importante para nós.
O Tulipa treina quatro jogadores emprestados por clubes grandes. Sente que são atletas de potencial interessante?
Estão a valorizar-se. O Tiago Pinto, por exemplo, gosta muito de aprender. Fez uma boa formação, tem crescido muito com os jogos e pode aproveitar a carência de laterais esquerdos no nosso futebol. Comete erros, mas é normal. Para a idade que tem é muito maduro e consciente. Auguro-lhe uma boa carreira, tal como ao Miguel Ângelo, a quem conheço muito bem. É muito consistente e regular. Vai chegar longe.
O plantel do Trofense vai sofrer muitas mexidas neste período de transferências?
Já garantimos a aquisição do Charles Chad (avançado, ex-Ceará) e ainda temos mais quatro vagas por preencher. Há que rectificar os problemas da linha avançada, procuramos um médio com outras características e alguém para a linha defensiva.
Pode confirmar a saída de Bessa do Trofense?
Já comuniquei ao atleta que iríamos prescindir dos seus serviços. Temos três jogadores para a posição de lateral direito e os outros dois (Paulinho e Zamorano) têm jogado mais. Por isso, fomos sinceros e dissemos-lhe que terá de arranjar outra solução para a sua carreira.