O Barcelona não tem segredos, tem apenas «amor pelo futebol», garantiu o coordenador do futebol de formação dos «blaugrana», Albert Puig, neste sábado, num encontro de alguns clubes europeus que decorreu no centro de estágio do Benfica, por ocasião do seu quinto aniversário.

«Temos dois pilares na formação do Barcelona: formar pessoas e sustentar os seniores. Desde os sete anos que os jogadores treinam com a ilusão de chegar à primeira equipa. São 25 anos de uma mesma ideia [de inspiração holandesa, confessou também] e isso é que faz o Barcelona de hoje», defendeu o responsável.

E como é que isto acontece? «Para um jogador chegar a profissional tem de ter cabeça. Pode ter talento, mas o mais importante para os formadores é a cabeça. No Barcelona B todos são profissionais, muitos já se estrearam pela primeira equipa, e há 14 universitários. Não há nenhum jogador que não estude. E, depois, queremos pessoas humildes, como Xavi, Iniesta», explicou.

Tudo isto assente numa única fórmula. «Todos os escalões treinam da mesma maneira, pelo que os mais jovens estão muito preparados para jogar na equipa principal quando chega a altura. E para comprová-lo temos actualmente 11 jogadores da formação no plantel principal, sendo que oito são campeões do mundo.»

Uma metodologia com conceitos simples: 4x3x3, por vezes 3x4x3; o «pressing» não existe e sim a recuperação de bola; a defesa treina sempre em situação de inferioridade numérica; o futebol é curto, pensado, e tem de atravessar todas as linhas. «Se somos a melhor escola do mundo? No dia em que deixarmos de pensar assim seremos segundos», assumiu.

Pep Guardiola é o melhor exemplo desta forma de trabalhar. «Com ele temos o círculo fechado. Veio da formação, conquistou títulos, foi capitão, treinador da formação, ele compreende tudo no clube», argumentou o coordenador.

Quanto ao futuro que está a ser trabalhado, Puig não revelou se o Barcelona tem em mãos novos Messi e Xavi, por exemplo, mas assegurou que não falta talento. «Aos 13 anos era impossível prever que o Messi seria assim, nunca se sabe, só se fossemos bruxos. Temos muito talento, isso sim.»

Real Madrid: quem mais forma e... mais desperdiça

O Real Madrid é um dos clubes com maior aproveitamento da formação, apesar de quase nenhum chegar à equipa principal. Actualmente, existem 41 jogadores da «cantera» merengue a jogar na liga espanhola, 25 em outras ligas europeias, 45 no segundo escalão de Espanha, num total de 111, número oficiais.

Então por que não fica o Real com nenhum? «Há um problema de continuidade. A equipa principal trabalha um sistema totalmente diferente das outras. Respeitamos a linha de quatro na defesa, mas, a partir daí, vamo-nos questionando. Mas o jogador das camadas jovens do Real pode adaptar-se a qualquer sistema do treinador principal. Mourinho, por exemplo, tem um sistema, o 4x2x3x1 e o jogador adapta-se perfeitamente, se for o 4x4x2 também, mas não há um padrão único, a linha de trabalho não é a mesma», explicou José Fernandéz, treinador da formação dos merengues.



José Mourinho, ainda assim, não perde de vista a formação. «Na época passada chamou 8/9 jogadores e alguns jogaram um bocadinho», defendeu o responsável, lembrando que até na selecção campeã europeia e do mundo «há representantes da formação do Real, como Mata, Soldado e Negredo».

José Fernandéz recordou, também, a preocupação do Real Madrid em não perder totalmente de vista determinados valores: «Há casos em que voltam devido à opção de recompra. É melhor que joguem 30/35 jogos noutro clube e que ao fim de um ano ou dois sejam recuperados, como aconteceu com Arbeloa, Calejon, Granero, De la Red.»