O Beira Mar sobreviveu com um sofrimento desumano a um naufrágio que ameaçava afundar a equipa, um naufrágio detonado logo aos 25 minutos e relevado por uma primeira parte de fazer corar uma qualquer equipa de futebol amador. A vantagem do Estoril ao intervalo tinha até mais a ver com o incapacidade aveirense do que com a qualidade da formação de Litos. Um imenso coração mudou tudo.
Há neste triunfo muito mérito de Luís Campos, aliás. O treinador viu que a coisa estava feia, o Beira Mar jogava sem chama, sem ambição, sem um pingo de talento e tratou de agitar bem a equipa ainda antes do início da segunda parte. Primeiro colocou Paul Murray em campo, depois meteu McPhee e abdicou de Filipe - a colocação do central como lateral continua a ser difícil de perceber - e com os britânicos introduziu atitude.
A segunda parte teve muito pouco a ver com a primeira. Não que o Beira Mar jogasse bem, nunca jogou, o futebol continuou a ser desgarrado, sofrido, desunido, mas pelo menos houve vontade. O alargamento da frente de ataque - eram agora quatro avançados - encolheu o Estoril, motivou os jogadores da casa e moralizou o público, que trocou os assobios por incentivos. Todos estes ingredientes, bem agitados e misturados, provocaram a vitória do Beira Mar, a terceira em casa e a primeira nos últimos seis meses (desde 19 de Setembro), o que permite também perceber porque é que a lanterna vermelha estacionara em Aveiro.
Como é de sofrimento que se fala, o segundo golo apareceu apenas no período de descontos. Curiosamente por McPhee, uma das apostas de risco de Luís Campos. Para trás ficara uma partida globalmente certinha do Estoril, que entrara melhor no jogo, marcara cedo e tivera oportunidades para decidir o resultado. Completamente diferente do Beira Mar, a formação canarinha mostrou organização, coesão e consistência. Perdeu porém ambição depois de se colocar em vantagem e ganhou um medo de morte quando o Beira Mar apareceu mais voluntarioso. Com tudo isto acabou por sair derrotada e cair uma posição na tabela. O Beira Mar, esse, regressou à luta pela manutenção.