Buba.
Antes de começar a crónica do Beira Mar-Sporting era indispensável escrever o nome do defesa central que Augusto Inácio foi buscar ao Estoril, a meio da época passada. Tem 24 anos, nasceu nos Camarões e fez o jogo da sua vida. Marcou três golos no melhor desafio da Liga nesta edição.
Num jogo com seis golos é quase obrigatório escrever a história a partir deles. O primeiro foi, claro, de Buba que antes de empurrar a bola para a baliza de Ricardo tinha-se feito notar pelo espaço que dera a Liedson, permitindo ao «31» duas oportunidades de golo. Mas, lá está, nesta partida confiar nas aparências era perigoso.
Até ao intervalo o Sporting teve mais bola, mas faltava à equipa de Paulo Bento energia no meio-campo, porque Farnerud se estreava devagar e Romagnoli era outra vez de menos. O Beira Mar, mais certo atrás do que é costume, foi aguentando. E até foi para o descanso a dizer que não estava ali contentinho da silva a segurar o golito, conseguido de bola parada.
Que é isto?
Ao intervalo Paulo Bento fez o óbvio. Carlos Martins entrou muito bem, Yannick saiu do banco para fazer o segundo golo da sua ainda curta vida na Liga. Mas antes disso o Sporting parecia mais forte, mesmo se para chegar ao empate precisou de um «frango» do guarda-redes Alé, até ali um dos melhores. Alecsandro quase teve de escorregar para conseguir encontrar-se com a sorte.
Depois do golo o Sporting carregou ainda mais. O Beira Mar foi sempre uma equipa honesta. Trabalhou muito, soube sempre que o sucesso teria de passar também pela pressão que conseguisse manter sobre Polga e companhia.
A 20 minutos do fim o estado das coisas era este: o Sporting colocava toda a artilharia em campo ao trocar o único médio defensivo por Nani. O Beira Mar dava sinais de que a intensidade do jogo poderia ser demasiada. Por esta altura havia uma dúvida: estaríamos a presenciar o melhor encontro da Liga?
Pouco depois Yannick fez o 2-1, após excelente jogada de Tello, que foi à linha cruzar para a entrada da área, onde não havia um único a vestir de amarelo. Grande festa no banco, só ligeiramente ensombrada pela última substituição de Inácio. Entrava Jardel.
O Sporting já tinha sofrido o primeiro golo de cabeça. Nunca tinha encaixado nenhum fora de casa, situação em que vencera os três jogos anteriores. O Beira Mar já explorara o tal ponto forte das bolas paradas. Fraquezas e forças cruzar-se-iam de novo?
Sim, foi a resposta. Livre lateral na direita, cabeça de Jardel (sozinho na área!), Ricardo, confusão, golo. E, era verdade, outra vez Buba de braços no ar. Faltavam cinco minutos para os 90. Este era já o mais emocionante jogo da Liga. Poucas faltas, incerteza, duas equipas dignas.
Tudo junto, faltavam oito, nove minutos. Mandava a prudência que não se desse a coisa por acabada. Já tinha havido Jardel, faltava aparecer Liedson. Se neste jogo também havia um duelo entre os dois maiores goleadores do Sporting na última década, ele estava prestes a ser empatado. Outra vez na esquerda, golo de Liedson. Lá onde estivesse, o autor do cartaz «Liedson resolve» sorriu. Mas, claro, também ele cedo de mais.
Já estávamos nos descontos, mas o Beira Mar achava piada ao jogo do ano. E queria usufruí-lo até ao último suspiro. Quem não viu já adivinha como foi. Canto, a bola a passar entre diversos defesas do Sporting e 15 mil pessoas a fazerem a mesma pergunta: «Onde está Buba?». Estava outra vez ali, no centro da área. Ao lado tinha Jardel, mas foi outra vez o central dos Camarões.
No futebol, já se sabe, a justiça não entra. Mas aqui vale a pena ceder à facilidade e escrever que sim senhor, outra coisa que não um empate ficaria mal no jogo da temporada. É evidente que o Sporting sai de Aveiro com feridas para lamber, até porque encaixar três golos de bola parada não é coisa que se explique. Mas, sejamos justos, três golos de Buba (primeiro hat-trick) também não. É assim como achar um bilhete premiado na rua, de olhos fechados.