Líder do ranking FIFA desde o final de 2015 - apenas o oitavo país a consegui-lo, depois de Alemanha, Itália, Brasil, Argentina, França, Holanda e Espanha, a seleção belga parece viver um momento espetacular. No entanto, mesmo descontando a inevitável perturbação nos trabalhos causada pelos atentados da passada semana, a realidade mostra que esta Bélgica continua a viver um período de dúvidas pré-Europeu.

Depois de uma qualificação atribulada no começo, Marc Wilmots debate-se com lesões entre boa parte dos jogadores do teórico onze base para o Campeonato da Europa. Ao todo, são oito os ausentes por lesão para a partida desta terça-feira frente a Portugal: aos já indisponíveis Kompany, Vertonghen, de Bruyne e Eden Hazard juntaram-se os convocados Alderweireld, Carrasco, Origi e Benteke.

As ausências são de peso: qualquer um desses oito parece indiscutível na lista definitiva para o Euro 2016, estando recuperado e em forma. Perante tal cenário, Marc Wilmots irá aproveitar este encontro frente a Portugal para testar outras alternativas, sobretudo no quarteto defensivo, que será completamente diferente daquele que começou o último encontro da Bélgica (vitória frente à Itália, por três bolas a uma, em novembro do ano passado).

Na baliza, é de prever que o gigante Courtois seja o escolhido. Ágil, seguro e com reflexos felinos, é um dos melhores guarda-redes da atualidade, apesar da época difícil que o Chelsea tem vivido. Como alternativas, terá Simon Mignolet, do Liverpool e ainda o veterano Jean-François Gillet, atualmente no Mechelen. Em teoria, estes serão os três escolhidos na convocatória final para o Europeu, até pelo que disse Wilmots recentemente. Caso algum deles se lesione, Koen Casteels (Wolfsburgo) e Matz Sels (Gent) terão hipóteses de ser chamados.

Na defesa, verificam-se os maiores problemas para Marc Wilmots, embora o selecionador belga possa ver isto pelo lado do «copo meio cheio»: com três indiscutíveis de fora por lesão (Kompany, Vertonghen e Alderweireld), esta poderá ser uma boa oportunidade para testar novas opções. Para o encontro desta terça-feira, Denayer (Galatasaray) e Lombaerts (Zenit) deverão ser os escolhidos para o centro da defesa, com Guillaume Gillet (Nantes) a ocupar o lugar de Alderweireld na direita e Vermaelen, um central, a fechar o corredor esquerdo. Como alternativas, temos os jovens centrais Dedrick Boyata (Celtic) e Bjorn Engels (Club Brugge), este último uma estreia absoluta em convocatórias.

Axel Witsel

Na zona nevrálgica do meio-campo, Axel Witsel e Radja Nainggolan deverão manter o lugar. Criteriosos com bola, disciplinados em termos táticos, mostrando-se capazes de projetar a equipa para a frente e ao mesmo tempo de conferir equilíbrio em termos defensivos, os dois médios parecem os principais candidatos a assumir a titularidade naquela zona do terreno, sendo que as dúvidas parecem adensar-se nas zonas mais adiantadas do meio terreno.

Sem de Bruyne ou Ferreira Carrasco, perfilam-se Chadli, Fellaini e Moussa Dembelé como os principais candidatos a ocupar o vértice mais adiantado do triângulo do meio-campo belga no desafio frente à seleção portuguesa. Com Chadli, a equipa ganha em termos de criatividade e visão de jogo naquela zona do meio-campo. Se, porventura, a ideia de Wilmots for dar dimensão física ao meio-campo, talvez a opção recaia num dos outros dois candidatos. O irmão de Eden Hazard, Thorgan, pode ser equacionado, embora a titularidade seja pouco provável neste encontro.

A festa pelo apuramento, em outubro

No ataque, as opções abundam, por norma. No entanto, são vários os ausentes para esta partida, reduzindo consideravelmente o número de alternativas de Marc Wilmots. Sem Eden Hazard, Benteke, Origi ou o já mencionado Ferreira Carrasco, o ataque fica reservado para Romelu Lukaku, Mertens, Mirallas ou Batshuayi, com o irmão de Lukaku, Jordan, e Nacer Chadli como sobras para um possível lugar na ala esquerda. De acordo com o que a imprensa belga tem adiantado, o virtuoso Dries Mertens e o goleador Romelu Lukaku têm o lugar assegurado, ficando a faltar saber quem irá ocupar o lugar na outra ala: Mirallas (chamado à última hora para o lugar de Origi) ou Chadli.

O que podemos esperar da Bélgica na noite desta terça-feira?

A resposta à pergunta está naturalmente condicionada pelas ausências e pelas alterações que o selecionador belga terá obrigatoriamente de introduzir na equipa. No entanto, por norma, a equipa belga apresenta-se num 4-3-3, com duplo-pivot, facilmente transformável num 4-2-3-1 mais puro.

Em fase ofensiva, a Bélgica costuma revelar-se uma seleção forte, com os laterais a oferecerem largura (a profundidade deverá ser garantida do lado de Gillet), os médios interiores a assumirem um papel fundamental na construção e com os atacantes a revelarem grande dinamismo nas movimentações, com o potente e mexido Lukaku a trocar algumas vezes de posição com um dos extremos. É uma equipa rápida e com qualidade técnica, mesmo com tanto jogador criativo de fora.

Marc Wilmots

No momento defensivo e na transição defensiva, veremos como irá responder a Bélgica, que muitas vezes passa para um 4-1-4-1, com um pivot defensivo definido e com os extremos a baixarem para ajudar a fechar os corredores laterais. As muitas ausências na defesa, aliadas à inexperiência ao mais alto nível da dupla Denayer-Lombaerts, podem desequilibrar um pouco a balança a favor de Portugal mas certamente que Wilmots tentará trabalhar a equipa de forma a que o processo defensivo não se altere demasiado mesmo com tantas mudanças.

No fundo, este não será apenas mais um jogo-teste: vai ser, tanto para Fernando Santos como para Marc Wilmots, a última oportunidade de testarem as suas equipas num jogo de preparação competitivo antes de lançarem a lista de convocados para o Euro 2016. Para vários dos convocados, de um lado e do outro, este poderá também ser um encontro fundamental para ajudar os selecionadores a dissiparem dúvidas quanto às escolhas definitivas para França.

Para os belgas, esta é ainda uma boa oportunidade para provar que têm merecido o primeiro lugar do ranking FIFA - apesar de saberem que o vão perder para a Argentina, na atualização de abril. Portugal terá a palavra...

Seleção nunca perdeu com o líder do ranking

A este respeito, diga-se que, desde a criação do ranking da FIFA, em 1993, Portugal nunca registou uma derrota com o líder da classificação, nas cinco ocasiões em que o defrontou: soma duas vitórias e um empate com o Brasil (2-1 em 2003, 2-0 em 2007 e 0-0 no Mundial 2010) e uma vitória e um empate com a Espanha (4-0 em 2010 e 0-0 em 2012, embora neste último caso acabasse eliminado nas meias-finais do Euro, no desempate por penaltis).

Já no que diz respeito ao saldo entre portugueses e belgas, o equilíbrio histórico é evidente: cinco vitórias para cada lado e seis empates, mas com os últimos 30 anos a indiciarem vantagem para Portugal, que venceu três e perdeu apenas um dos seis jogos cumpridos nesse período. A última vitória belga data de 1989, e custou a Portugal a ausência da fase final do Mundial 1990. A seleção portuguesa desforrou-se no apuramento para o Euro 2008, vencendo os dois jogos com os belgas (4-0 em Lisboa, 2-1 em Bruxelas).