Os caminhos de Co Adriaanse e Ronald Koeman cruzaram-se directamente a 3 de Dezembro de 2001. O treinador do F.C. Porto era despedido do Ajax, após uma vitória na recepção ao Willem II (3-2, depois de ter estado a perder por duas bolas a zero) que não apagou a eliminação precoce da Liga dos Campeões, frente ao Celtic.
«Decidimos não falar das qualidades de Co Adriaanse como treinador. Obviamente que esta decisão tem a ver com os resultados», referiu na altura Leo Beenhaker, director do futebol do clube de Amsterdão. «É fácil explicar a decisão com os resultados, mas não foi por isso que Adriaanse saiu. Quando as vitórias surgem, tudo corre bem, mas se isso não acontece, a vida de um treinador fica muito complicada», deixa escapar Kees Zwamborn, actual técnico do Willem II e director das camadas jovens do Ajax na altura, em conversa com o Maisfutebol.
Koeman foi o escolhido para suceder a Adriaanse, recuperando alguns jogadores mais experientes que tinham sido afastados pelo seu antecessor, como Van Halst, recuperando a harmonia no balneário que permitiu ao Ajax conquistar, nessa época, a «dobradinha», campeonato e taça da Holanda. A segunda passagem do actual treinador do F.C. Porto pelo emblema da capital dos Países Baixos foi torbulenta. Apostado em revitalizar a equipa, decidiu prescindir de alguns jogadores de peso, com Aaron Winter à cabeça, para além do citado Van Halst.
A estratégia, que não desiste de seguir, como foi possível constatar até agora no clube portista, não teve tempo de dar frutos, com o plantel a virar-se contra a figura do treinador à medida que os dias iam passando. «Se os jogadores não estiverem do lado do treinador, não há nada a fazer. Foi isso que aconteceu a Adriaanse e, mais tarde, a Ronald Koeman», concretiza Kees Zwamborn. «Veio como um trovão em céu limpo, a demissão. Não fez sentido, estava no meio da época», explicaria Co Adriaanse, mais tarde. E, de facto, vários foram os elementos do plantel do Ajax que, depois da sua saída deixaram escapar críticas. «As críticas podem ser positivas, mas com Adriaanse tinham um efeito paralisante. Ele destruiu-me psicologicamente», disse, por exemplo, o avançado Machlas.
A frontalidade e a dureza no discurso não caíram bem junto dos jovens jogadores do Ajax, de crescimento precoce, em termos futebolísticos e financeiros. O actual técnico do Benfica mostrou-se inicialmente mais paciente, ponderado e benevolente, conquistando, em três épocas, dois campeonatos e uma taça.
Van Gaal como denominador comum
Louis Van Gaal, figura incontornável do futebol holandês, tem grande quota de responsabilidade nas carreiras de Koeman e Adriaanse. Levou o portista para o Ajax em 1992 para trabalhar nas camadas jovens e foi com ele que o benfiquista trabalhou como adjunto do Barcelona. Koeman reecontrou o actual técnico do AZ Alkmaar no clube de Amsterdão e foi a deteriorização da relação entre ambos que começou por enfraquecer a sua posição. Em 2004, as saídas de Chivu, Van der Meyde e Ibrahimovic não foram colmatadas convenientemente, o Ajax ficou em terceiro na Liga dos Campeões, sendo relegado para a Taça UEFA, e Van Gaal acabou por saír do clube, insatisfeito com as escolhas de Koeman nos jogos europeus e pela falta de poder no clube.
O actual treinador do Benfica acabaria por apresentar a sua demissão em Fevereiro de 2005, confrontado, tal como Adriaanse fora, com a insatisfação de vários jogadores, como Van der Vaart, Sneijder ou Mido. Danny Blind, que viria a ocupar o cargo, também não ficara agradado com a entrada de Koeman, numa altura em que esperava ser ele a tomar conta da equipa, e só a custo permanecera no clube. A pressão interna tornara-se insustentável.