O Benfica-Sp. Braga teve o toque especial que faz também da Taça de Portugal uma prova diferente de toda as outras.

Teve momentos de magia.

Naquele remate majestoso de Zalazar que empatou o jogo na segunda parte.

Naquela assistência brilhante de Arthur Cabral para o golo decisivo de Aursnes.

E até na simplicidade com que em meia dúzia de segundos os encarnados iniciaram e concluíram a jogada do primeiro golo, da autoria de Rafa.

Escassas semanas após o triunfo em Braga pela margem mínima, o Benfica voltou a sair por cima de um duelo que é cada vez mais um jogo de resultado imprevisível, ou não fosse ele, já, um clássico capaz de levar à Luz mais de 56 mil pessoas numa noite fria de quarta-feira.

Os primeiros minutos de jogo mostraram uma águia autoritária. Com 11 repetentes da equipa que há dias vencera o Arouca, o Benfica entrou intenso, mas a primeira equipa a estar na frente foi o Sp. Braga. Na sequência de um canto batido por Borja, Zalazar – com desvio em João Mário – fez o 1-0 para os arsenalistas.

O golo forçou as águias a assumirem mais riscos. E o Sp. Braga, mesmo com menos bola e menos presença no meio-campo ofensivo, parecia, por mais paradoxal que pudesse parecer, cada vez mais confortável. João Moutinho, Vitor Carvalho e, mais à frente, Zalazar, venciam as batalhas com os dois homens do meio-campo do Benfica que, sem o apoio dos homens da frente – incapazes de condicionar as saídas de bola dos minhotos – iam permitindo que o adversário ensaiasse transições rápidas e chegasse várias vezes com perigo ao último terço.

Se o Sp. Braga pode hoje reclamar, com total propriedade, o estatuto de grande, há também algo que o afasta tantas vezes da felicidade nos jogos de mais elevado grau de dificuldade: a coesão defensiva.

Num momento, a equipa de Artur Jorge parece ser uma equipa com a autoridade de um colosso. No outro, apresenta as debilidades de um conjunto frágil. Foi assim no empate de Rafa aos 42 minutos e, logo a seguir, na abordagem macia de Serdar no duelo com Arthur Cabral, o melhor da noite: um golo, a assistência brilhante que descrevemos acima e que abriu o caminho para os quartos e muitos quilómetros feitos. Cansou só de ver, imagine.

A abrir a segunda parte, Zalazar assinou com o pé direito um dos momentos da noite. Um remate indefensável de pé direito depois de mais um pontapé de canto no qual apareceu (outra vez) sem marcação nas imediações da área do Benfica. O que também mostra que, apesar do grande crescimento da equipa de Schmidt no último mês, ainda há fragilidades evidentes nela e, por isso, margem para melhorar.

O Sp. Braga foi a melhor equipa durante mais de metade da segunda parte. Quando Aursnes decidiu o jogo naquele remate rasteiro ao minuto 70, o conjunto minhoto atravessava inclusive o seu melhor momento do jogo, com aproximações e remates perigosos.

Mas, lá está, ainda falta aos minhotos a solidez, a concentração e, até, a qualidade que as equipas ganhadoras têm em todos os setores e que este Benfica, com defeitos mas tanto virtuosismo, tem de sobra para virar jogos ou arrancar vitórias quando menos se espera.

E esta foi a sexta seguida de uma equipa que só vence desde o momento mais tenso da época: o empate na Luz com o Farense.