Há coisas incríveis, que apenas parecem acontecer nos filmes ou nos livros. Mas também ocorrem na vida real. Martelinho foi o herói do jogo entre o Boavista e o Sporting. Marcou um grande golo, que deu a vitória aos axadrezados e deixou o clube de Alvalade longe do título, mas o remate certeiro podia não ter acontecido. 

Ainda na primeira parte, o jogador sentiu dores na coxa direita e esteve para pedir assistência médica. Hesitou. Continuou em campo, a correr como um louco, a desgastar a defesa adversária. À medida que o tempo passava, a dor aumentava, mas o jogador permanecia em silêncio, alheio ao sofrimento. 

«A vontade era tanta que dizia para mim mesmo, tenho de estar em campo. Não vou dizer nada, porque está 0-0. Tenho de aguentar», explicou esta manhã: «Foi Deus, foi o destino, não sei». Continuou dentro das quatro linhas e no penúltimo minuto, precisamente com a perna dorida, esboça o pontapé que irritou Schmeichel. 

«Fiquei sem ar. Mas foi bom» 

«Nos festejos, arragaram-me de tal maneira que quase fiquei sem ar. Mas foi bom. São momentos desses que nos fazem andar no futebol. O grupo está unido para conquistar o título», sublinhou Martelinho, naturalmente satisfeito por tanto sacrifício. 

Há cerca de dois anos, o jogador foi operado ao joelho direito, vítima de uma lesão grave que o afastou dos relvados durante longos meses. E as dores de ontem foram precisamente na mesma perna, apesar de estarem localizadas em sítios diferentes: «Já disse ao médico que me operou, de certeza que pôs qualquer coisa no joelho para eu rematar daquela maneira», disse em jeito de brincadeira. 

Mas o que se passou para chutar assim, com violência, com destreza? «Naquela altura, já contávamos com o empate, mas ainda havia algum tempo para lutar. Sobrou a bola e pensei, que tinha de ser naquele momento. Arrisquei, fui espontâneo e tive sorte. Foi o melhor golo da minha carreira, mas não foi um frango como já ouvi dizer. A bola fez um arco e não deu hipóteses de defesa». 

No balneário, a festa de sempre. Todos pularam, todos cerraram os punhos em sinal de que o título está mais perto. «Depois, parámos um pouco para pensar e acalmámo-nos, porque nada está decidido. Hoje já estamos a pensar no jogo com o Alverca», completou.