Quando fazem um círculo e atiram pedras a equipas-pequenas e autocarros, em jeito de execução pública, foco-me em jogadores grandes ou que esperemos que, mais cedo do que tarde, se façam grandes. Como Slimani. Como Rafa. Jonas. Gaitán. Salvio. Jota

Aí vem a primeira pedra!

Brahimi, o verdadeiro, não esta sombra do que já foi. Mitroglou. Renato Sanches. O irrequieto Gelson. Os Gonçalos, Guedes e Paciência. André André, ou simplesmente André2. André Silva. Hassan. Ivo Rodrigues. Iuri. Bonatini.

Segunda!

É defeito meu, reconheço. Os Mattheus, com um t apenas ou em dose dupla, de Alvalade à Amoreira. Filho de Bebeto, pai de muitos futuros momentos. Ruiz. Sturgeon. Layún, esse fazedor de golos. Danilo. William. João Mário. Adrien. Pizzi. Rúben Neves. Bakic. E talvez até esteja a ser redutor.

Em cheio! Bullseye! Na mouche!

Coates. Paulo Oliveira. Lindelof. Jardel. Luisão. Lisandro. Ewerton. Maxi.

Claro que olhamos para isto à nossa escala, com régua, esquadro e transferidor pequenos ainda, próprios de uma liga de transição feita lar, até que os leve uma mala cheia de dinheiro, bancadas sobrelotadas e um campeonato que os coloque num pedestal.

Um país feito de parangonas e de grandes génios da bola. Um país que respeite mais a sua arte. Que goste mais de arte. Que tenha essa cultura. Não nós, que nem os estádios enchemos.

Alguns falharão, esperemos que poucos – é inevitável, e elementar claro, caro Watson –, e perder-se-ão, outros não têm já por que se perder. Mas todos, sem excepção, dão dimensão às respectivas equipas. Mais-valias.

Chegámos a um tempo, cíclico sim, em que jogar ao ataque é filosofia que deve dominar, na opinião dos especialistas, e tudo o resto não vale. Jogar olhos nos olhos, como se aprendeu a dizer. Cara a cara. O jogo pelo jogo. Sem ilusões, sem estratégias, sem punhais enterrados nas costas.

Aplaudimos de pé, em ovação triunfal, todos os jogos que terminem 4-3, 4-4, 5-4, 6-5. Menos que isso é de liga pequenina. Equipas pequeninas. Jogadores-anões. Repete-se

À defesa fica-se mais perto de perder.

Estatísticas. Ataca-se menos, há menos oportunidades. Disputar a bola, dividir os ataques, rematar tanto ou ligeiramente menos que os outros, os grandes, é de elogiar. Claro que preferimos o jogo assim, é menos aborrecido.

As equipas pequenas não gostam de arriscar. Será? Será que se arrisca menos ao defender mais? Não começámos a dizer que se fica mais perto de perder?

Jogar para o empate, exclusivamente para o empate, não há elogios que mereça. Mas será que essas equipas ainda existem? Ou recuam linhas apenas o suficiente para tentar vencer outros na surpresa, no erro? Especializam-se nisso, ou então são tão versáteis que são capazes de mudar de ADN de vez em quando. Camaleões da táctica.

O futebol é feito de cor, não é monocromático, já deixou há muito de ser pintado a preto e branco. Há zonas cinzentas, mas outras mais coloridas, embora não tão berrantes, um pouco fora de moda. Uns sépias, uns pastéis.

Será que tivemos a coragem de chamar equipa pequena ao Real Madrid de Mourinho de cada vez que obrigou o Barcelona a jogar andebol, a passar a bola de um lado ao outro do campo no limite do jogo passivo porque não conseguia atirar da primeira linha e tinha de adormecer o rival antes de tentar perfurar os blocos blancos? Ganhou poucas vezes, é verdade, mas ainda festejou um campeonato perante uma das melhores equipas de sempre. Nós, claro, não tivemos coragem. Mourinho teve, e transformou os galácticos numa equipa-pequena em dois clássicos. Ou três, quatro, dependendo dos sorteios.

Jorge Jesus disse uma vez que defender bem também é uma arte. Porque soube defender. Agora, perante um rival recuado que não soube ultrapassar – diz o resultado – já não o é. A verdade é que a verdade, redundância a que me permito, não pode mudar consoante o nosso interesse. Não existe para servir-nos apenas.

Não vejo mal nenhuma na diversidade nem em ganhar jogos no contra-ataque. Uma transição rápida, bem desenhada, também pode ser de génio.

El estilo es ganar. A partir de los jugadores voy buscando potenciar una idea: ganar. No me interesa gustarme a mí mismo ni a los demás. Por ejemplo, en el debate entre la posesión o ser directos, no se trata de decirles a los demás lo que quieran escuchar, sino hablar con la verdad. Y si yo no tengo los jugadores para elaborar una posesión sostenida, no debo intentar lo que no puedo realizar. Todos los partidos no los podés jugar igual, no es lo mismo enfrentar a Sevilla, a Valencia o a Barcelona. No podés jugar de la misma manera ni con los mismos jugadores. (Diego Simeone, em entrevista ao «canchallena»)

Nenhuma equipa, tirando o Barcelona, ou eventualmente o Bayern, e porque têm argumentos maiores, ganhará um grande troféu se jogar sempre ao ataque. Sem ser uma equipa-pequena em algum momento de uma época. E, mesmo assim, os culés viram a sua equipa bater o Arsenal no contra-pé. Mesmo que não o admitam, que lhes pareça contranatura reconhecê-lo. Blasfémia! Quase heresia.

Como se fosse trabalho sujo, não é?

Cabe aos outros, às equipas que se julgam grandes, às que têm mais jogadores grandes, ultrapassar as dificuldades. E deixar-se de queixinhas.

Se fosse fácil não seria para eles. Rui Vitória devia ter repetido isso uma vez mais apenas, depois do dérbi, apenas com a nuance de ser para os rivais. E estaria perdoado.

--
«ERA CAPAZ DE VIVER NA BOMBONERA»   é um espaço de opinião/crónica de Luís Mateus, sub-director do Maisfutebol, e é publicado de quinze em quinze dias na MFTOTAL. Pode seguir o autor no FACEBOOK e no TWITTER. Luís Mateus usa a grafia pré-acordo ortográfico.

--