A história é antiga, tem 20 anos, mas percorreu o mundo inteiro. O Brasil fora do Mundial? Nunca aconteceu, é verdade, mas em 1989 houve receio, muito, de essa possibilidade se tornar real (veja o vídeo no final da página).
Sebastião Lazaroni, esse mesmo que treinou o Marítimo e é pai do médio da Naval com o mesmo apelido, estava encarregue de levar o «escrete» até Itália, onde o Mundial-90 ia ter lugar. Na qualificação, em moldes diferentes dos actuais, o Brasil ficou num grupo com Venezuela e Chile, precisamente a selecção que esta quarta-feira defronta, em Salvador da Bahia, no apuramento para o Mundial-2010.
Ambos venceram os encontros sobre os venezuelanos, há duas décadas ainda os patinhos feios da zona sul-americana. Por isso, os confrontos entre as duas equipas iam ser decisivos. O primeiro, em Santiago, não foi(1-1); o segundo não terminou.
«O Globo» recorda que na quinta-feira, dia 3, fez precisamente 20 anos que um Maracanã lotado esperava a qualificação brasileira frente aos chilenos. Na segunda parte, Careca fez o 1-0 a passe de Bebeto e deixou o adversário em maus lençóis.
A formação visitante tentou tudo para inverter o resultado. E aqui, o «tudo», faz todo o sentido. Taffarel, guarda-redes do Brasil, atira a bola para o meio-campo contrário e, da bancada, é lançado um «very-light» que cai no relvado. Rosenery Melo, de 24 anos e adepta do «escrete», foi a autora do «disparo».
O foguete caiu atrás do guarda-redes chileno, Roberto Rojas. Com o Chile a perder, aquela era uma oportunidade única de eliminar a «canarinha». Rojas tinha levado uma lâmina para o campo, cortou o próprio sobrolho, ficou estendido no relvado, fingindo que tinha sido atingido pelo projéctil. Foi retirado pelos colegas. O juiz argentino interrompeu o jogo e deu-o por terminado. As notícias foram dando conta da possibilidade de o «escrete» perder o jogo e, assim, pela primeira vez na História ficar ausente de um Campeonato do Mundo.
As televisões não conseguiram captar a queda do «very-light» e só no dia seguinte uma foto do «Globo» esclareceu que o objecto caíra bem longe de Rojas. Desse modo, a FIFA confirmou o Brasil no Mundial-90, no qual dois argentinos, Maradona e Caniggia, o eliminaram.
Roberto Rojas foi suspenso do futebol, assim como o treinador Orlando Aravena e ainda um médico e um dirigente chileno, para além de a FIFA ter proibido o Chile de disputar o apuramento para o Mundial-94.
Rojas admitiu, mais tarde, que infligiu o golpe a si próprio. «Cortei-me com uma gillette e a farsa foi descoberta, foi um corte à minha dignidade», disse. Já a adepta que lançara o foguete tornou-se uma celebridade instantânea e foi capa da «Playboy».
Esta quarta-feira, o Brasil pode jogar descansado. Já está apurado para o Mundial-2010.