CAMINHOS DE PORTUGAL  é uma rubrica do jornal  Maisfutebol  que visita passado e presente de determinado clube dos escalões não profissionais. Tantas vezes na sombra, este futebol em estado puro merecerá cada vez mais a nossa atenção. Percorra connosco estes  CAMINHOS DE PORTUGAL.  

NEVES FUTEBOL CLUBE: 1º classificado da I Divisão da AF Viana do Castelo
 
Um campeonato decidido numa finalíssima? Um campeonato decidido ao minuto 93 de uma finalíssima? Um campeonato decidido ao minuto 93 de uma finalíssima…de grande penalidade?
 
Tudo isto é verdade e tudo isto se refere ao mesmo jogo, ao mesmo campeão. O Neves Futebol Clube sagrou-se no último sábado campeão da 1ª Divisão da Associação de Futebol (AF) de Viana do Castelo e garantiu o acesso ao Campeonato Nacional de Seniores. É, sem dúvida, o campeão mais suado de 2015 em Portugal.
 
Neves e Atlético dos Arcos (antigo Atlético de Valdevez) chegaram à última jornada empatados com 71 pontos, depois de uma luta taco a taco ao longo do campeonato. Nos dois jogos que realizaram entre si, dois empates a um golo. Até os golos sofridos (25) foram os mesmos, ficando o Neves com vantagem nos golos marcados (73-70).

 
Atlético dos Arcos e Neves FC perfilados para a finalíssima

Contudo, se essa vantagem lhe permitiu usar o estatuto de líder ao longo da época de nada lhe valeu nas contas finais. David Pereira, presidente do Neves, explica ao Maisfutebol por que houve necessidade de jogar uma finalíssima se a sua equipa tinha mais golos marcados.
  
«Nas regras da AF Viana do Castelo está definido, há vários anos, que os golos não contam como fator de desempate para evitar resultados estranhos nas últimas jornadas. Se os pontos e o confronto direto forem iguais é preciso fazer uma finalíssima», esclarece.
 
E assim foi. O palco foi o campo do Limianos, em Ponte de Lima. Ali, acontecesse o que acontecesse, teria de haver campeão.
 
E aconteceu muita coisa. «Foi um jogo emocionante de início a fim. Tivemos um jogador expulso logo aos vinte minutos, mas mesmo assim marcámos o 1-0 e ainda falhámos um penálti. Depois a equipa começou a cansar-se, o Arcos carregou e empatou por volta dos 80 minutos. Na reta final veio o penálti que decidiu o jogo», sintetiza.

Nuno Duarte, guarda-redes e um dos capitães de equipa, fala num jogo que nunca passou pela cabeça de ninguém: «Sempre confiamos que podíamos subir, mas ninguém pensava que seria numa finalíssima, muito menos com um golo já na reta final».

 
Por reta final entenda-se o terceiro minuto de descontos, quando o prolongamento parecia ser o caminho mais óbvio. O terceiro 1-1 em três jogos entre estas equipas foi desfeito quando o auxiliar deu sinal ao árbitro para marcar grande penalidade, alegando mão na bola de um jogador do Arcos.
 
«Eu não vi, estava longe, não posso ter opinião. Mas acredito nos meus jogadores que dizem que a bola bate na perna e na mão. Foi bem assinalado. O outro clube é que não gostou e deu aquela confusão no final», lamenta o presidente.
 
Auxiliar foi parar ao hospital
 
A confusão, diz quem lá estava, foi feia. Para além de terem retardado em vários minutos a conversão da grande penalidade, no final do encontro, alguns jogadores partiram mesmo para a agressão.
 
«É sempre complicado perder um jogo aos 93 minutos com um penálti, mas era escusado agredir o bandeirinha, que até deu entrada no hospital. Se fosse ao contrário tenho a certeza que a minha equipa teria outra atitude», garante David Pereira.
 
O dirigente lamenta o final de um campeonato que ficará para a história da AF Viana do Castelo. «Foi equilibrado por duas equipas que não se previa», diz. Os favoritos eram outros.
 
«O Valenciano tinha descido nos Nacionais e era candidato. O Monção tem sempre uma equipa forte e o Ponte da Barca recebeu vários jogadores experimentados. Eram os três candidatos. Mas o futebol não apareceu para eles e apareceu para nós», atira.

Nuno Duarte fala numa «época muito difícil», até porque o clube vinha a «morrer na praia» há alguns anos. «Para mim e para mais alguns jogadores que estão cá há cinco ou seis anos isto foi compensador. Foi uma alegria enorme finalmente conseguir colocar o Neves nos Nacionais. O momento do penálti e depois o fim do jogo foi uma explosão de alegria inexplicável»
, assume. 
 

Festa no balneário!! Obrigado craques! Tudo a saltar

Posted by Neves Futebol Clube on Segunda-feira, 1 de Junho de 2015

E houve festa por isso. Festa por algo que «fugia há bastantes anos» ao Neves. E nem era a prioridade para a época. «O nosso principal objetivo é conseguir a manutenção no Nacional de Juniores. Tínhamos subido no ano passado. As coisas foram acontecendo e felizmente correu tudo bem», comenta David Pereira.
 
Um clube com tradição nos Nacionais
 
O nome do Neves Futebol Clube até pode nem ser dos primeiros a vir à cabeça do leitor quando se fala em emblemas históricos das Ligas portuguesas, mas não é, propriamente, um novato.
 
Na década de 80, o Neves, que nem sequer é um clube de freguesia mas de lugar (o lugar das Neves une as freguesias de Vila de Punhe, Mujães e Barroselas), esteve na II Liga portuguesa e até 2004 disputou os nacionais, com passagens por II Divisão B e III Divisão. É um clube habituado a estas andanças, no fundo.

 
A festa do largo das Neves

Por isso, David Pereira garante que a equipa está preparada para o «trabalho extra» da presença do CNS. A experiência com os juniores, este ano, também ajuda.
 
«Para os sócios e simpatizantes esta subida foi uma alegria enorme. Viram nesta subida o regresso aos tempos áureos do clube, nos anos 70, 80 e 90. Julgo que é possível estabilizar o clube nos Nacionais. Estamos a colher os frutos do trabalho que temos vindo a fazer na formação. Esta época usámos quatro ou cinco juniores na equipa principal. Jogavam ao sábado e ao domingo. Nestes moldes é possível continuar», assegura.

Nuno Duarte destaca outro ponto importante: o sentido de solidariedade. « Uma coisa que o Neves tem de bom é que as pessoas são muito unidas. O plantel vai, naturalmente sofrer alterações, mas o espírito de entre-ajuda vai continuar de certeza porque este clube é assim», comenta. O guarda-redes aproveita, de resto, para agradecer o apoio de sócios e simpatizantes ao longo da época. «Foi muito importante para nós»
, diz.
 
A nível de infraestruturas, o Neves tem dois campos. Um relvado, já com bastantes anos, e, mais recente, um sintético. Precisa de obras nas bancadas e de melhorar os balneários. Tudo a seu tempo. Para já é altura de festejar. Mas por pouco tempo porque a equipa ainda tem mais três jogos para fazer, todos com Taças em disputa: final Taça da AF Viana do Castelo; final da Supertaça; e final da Taça do Minho, entre os campeões de Viana e Braga.
 
Quanto à próxima época, a equipa não tem ambição de subir mais degraus no futebol português por um motivo simples: não há dinheiro. Aliás, é um problema que se alarga a todo o concelho vianense, que não consegue colocar uma equipa nas Ligas profissionais.
 
«O que falta a Viana? Falta dinheiro. Faltam investidores. Para subir à Honra não pode ser só com formação, é preciso outros jogadores. Mas Viana não tem indústria e comércio suficiente para apoiar um clube a conseguir esses voos», lamenta David Pereira.
 
Fica, por isso, a festa. Mesmo que suada. Afinal, campeão é sempre campeão. Seja com 15 pontos de avanço ou com uma grande penalidade ao minuto 93 de uma finalíssima.
 
O momento do golo do título:
 

Golooooooooooooooooooooooo! Vai tudo abaixo!!!

Posted by Neves Futebol Clube on Domingo, 31 de Maio de 2015