Em Fátima os sinais religiosos estão presentes um pouco por toda a parte e o futebol não é excepção. O emblema local, o Centro Desportivo de Fátima, é dirigido por um padre. António Pereira começou por ser jogador do clube, passou para dirigente e após alguns anos de ausência da região assumiu os destinos do clube. «Em 2000, quando regressei a Fátima encontrei o clube numa situação financeira perigosa. Era para ficar dois anos mas fui ficando», explica o dirigente, que é também pároco nas freguesias de Amiais de Baixo e Abrã, no concelho de Santarém.
O mundo do futebol por vezes é mais conhecido pelos aspectos negativos, mas isso não preocupa António Pereira. «Eu costumo dizer que Portugal é uma selva, mas há animais para todos os gostos e o futebol é uma grande escola de amizade», disse o padre, que garante sentir-se como «peixe na água» junto da «malta da pesada». «O futebol já me deu mais a mim do que o contrário», reforça o pároco, que procura dar apoio a quem precisa: «Tenho conversas de outro âmbito com os jogadores. Procuro ajudar quem precisa, sem que os outros saibam.»
António Pereira tem também a preocupação de passar aos atletas do Fátima os valores que defende no dia-a-dia. «Falo com todas as equipas do clube. Digo aos jogadores que antes das vitórias está o desportivismo. Fátima é uma localidade que tem nome e uma imagem que não podemos denegrir», explicou.
Mentalidade vitoriosa e credibilidade
Apesar do presidente do Fátima defender que o desportivismo está acima dos resultados, o que é certo é que o clube se prepara para disputar pela primeira vez a Liga de Honra. A realidade da instituição é modesta mas isso não retira a António Pereira uma mentalidade vencedora. «Nós vamos lutar pelo primeiro lugar. Não quer dizer que vamos ganhar, mas esse tem de ser o espírito. Jogar sem medo, mas com humildade», defende.
O sucesso desportivo é também reflexo de uma imagem de credibilidade que se tem espalhado. «É uma equipa na qual toda a gente acredita. Aqui não se brinca com as pessoas» garante António Pereira, cujo nome tem ajudado a amealhar patrocinadores: «Sou uma pessoa muito conhecida em Fátima e as pessoas sabem o trabalho que temos feito no clube». Difícil é por vezes conciliar as duas actividades. «No último domingo tive de vir a correr de uma procissão para ver a segunda parte do jogo com o Santa Clara e depois ainda fui para uma missa. Tenho de me rodear de pessoas capazes», explicou.
O Fátima venceu o Santa Clara por 2-0 e passou à segunda ronda da Taça da Liga, onde vai encontrar a vizinha Académica. «Queremos passar mais esta ronda. Seria bom em termos financeiros e como é contra a Académica será um jogo especial», referiu António Pereira.