De baionetas, carabinas e revólveres a pistolas, metralhadoras e até lança-rockets. Um autêntico Arsenal era o que se temia no Porto, com as tropas do velho aliado britânico a ameaçarem marchar sobre a Invicta.

Com 21 golos nos últimos cinco jogos, a fama de demolidor precedia o ataque dos londrinos. O Arsenal tinha também marcado em todos os jogos da Liga dos Campeões. Até hoje.

Esta noite, no Dragão, o FC Porto resistiu até aos 90, marcou nos descontos o golo da vitória e vai levar para o Emirates a decisão dos oitavos de final da Liga dos Campeões. Um final digno de filme, de gente feliz com lágrimas.

Não fosse a mira pouco afinada de Galeno (antes de por fim acertar já depois dos 90) e os dragões podiam sair de sorriso ainda mais aberto do relvado. Se aquela bomba (ou a sua réplica) disparada aos 22 minutos de jogo entrasse… O Dragão explodiria de alegria sem ter de esperar até ao último suspiro.

Comandante Conceição trava artilharia britânica

Perante a artilharia britânica, o FC Porto tem em Sérgio Conceição um comandante destemido, que não raras vezes se agiganta nas grandes batalhas europeias.

Esta noite, a equipa manteve o habitual 4-2-3-1, agora com o reforço Otávio a conquistar o lugar a Fábio Cardoso ao lado de Pepe no eixo da defesa. Do outro lado, não tão dinâmico e capaz de se desdobrar como de costume, o 4-3-3 do Arsenal tinha na frente Trossard ao meio, servido pelas setas Saka e Martinelli – Gabriel Jesus não está completamente recuperado, pelo que nem sequer fez companhia no banco a Fábio Vieira, regressado a casa.

Em termos de estratégia, o FC Porto abusava das bolas em Diogo Costa para chamar o Arsenal e esticar o jogo. Não por acaso o guarda-redes era o jogador do FC Porto com mais toques na bola em toda a primeira parte (31).

O FC Porto pressionava com critério a saída de bola do Arsenal e dava a iniciativa de jogo aos ingleses, que ao intervalo tinham mais do dobro da posse (68%-32%).

No entanto, a lição bem estudada fez com que a equipa de Conceição fosse perigosa no contra-ataque, tendo o mesmo número de remates à baliza (4) e o único remate enquadrado da primeira parte. Aliás, uma raridade na era Arteta: o Arsenal não teve qualquer remate enquadrado no jogo.

Os «Gunners» rondaram a baliza, mas esbarraram na segurança de uma defesa comandada por Diogo Costa e Pepe, que hoje se tornou no jogador mais vejo de sempre a jogar os oitavos de final da Champions. 

O resto foi muita luta posicional, sobretudo nos cantos pouco ortodoxos trazidos pela equipa de Arteta. E assim continuou numa segunda parte em que a equipa portista teve um pouco mais de bola (63%-37%) e os mesmos remates, mas por exemplo muito menos cantos (10-1, 5-0 ao intervalo).

Resistir até vencer

O domínio era, ainda assim, consentido. A estratégia consciente de controlar as armas do adversário fizeram do FC Porto uma equipa de resistência, a lutar por cada bola, a correr a cada disputa.

Com a segunda parte a avançar, Nico e Varela seguravam com mestria o meio-campo frente a Rice, Odegaard e Havertz, mas os raides de Francisco Conceição, Galeno, Pepê e Evanilson pareciam cada vez mais esparsos. Faltavam pernas para e esfumavam-se as centelhas de perigo.

Foi resistir até ao limite. Sofrer até vencer. Até àquele sprint final de Galeno, que nem um pouco abalado pelo falhanço da primeira parte voltou a fazer mira e disparar um míssil com um trajeto perfeito até aterrar no alvo.

Que arco triunfal! Que redenção gloriosa!

O FC Porto venceu com um golo aos 94m e vai em vantagem para o duelo em Londres, daqui por três semanas.

As tropas seguiram o plano à risca e provavam que com arte e engenho é possível vencer. Para quem não acreditava, aqui está o dragão europeu em todo o seu esplendor.

Frente a um Arsenal de pólvora seca, o esquadrão azul e branco provou ser audaz, e mostrou para a grande batalha ter bem mais armas e munições do que um par de fisgas e uma mão cheia de pedrinhas.