O futebol português não está imune à crise financeira mundial e são os próprios administradores de Benfica, Sporting e F.C. Porto a reconhece-lo. A quebra de receitas de publicidade e bilheteira foi um dos primeiros efeitos sentidos pelos clubes, seguem-se, segundo os testemunhos recolhidos pela Agência Lusa, as dificuldades no acesso ao crédito e a diminuição das verbas obtidas através das transferências de jogadores.
O administrador financeiro da SAD do Benfica, Domingos Soares de Oliveira, reconhece que poderá haver restrições na contratação de jogadores se os clubes de origem tiverem dificuldades financeiras, mas, por outro lado, lembra que, no caso dos encarnados, não há «uma dependência por aí além das vendas de jogadores» para equilibrar as contas.
Quanto às receitas de bilheteira têm estado acima do previsto, apesar de alguns momentos de menor afluência dos adeptos ao estádio. «Face à qualidade da equipa, as dificuldades [financeiras das famílias] são compensadas porque a qualidade do espectáculo é boa», justifica Domingos Soares de Oliveira.
Já Filipe Soares Franco, do Sporting, entende que terá de haver um grande esforço dos clubes para manterem a assistência e as receitas. A redução de preços é uma das vias a seguir, ainda que não possa ter efeitos práticos esta temporada devido aos lugares de época já adquiridos e que garantem metade da lotação do estádio.
No que respeita ao mercado de transferências, o dirigente considera que a crise «vai afectar os negócios em geral» e que os preços de venda dos passes dos jogadores tenderão a diminuir. «Os clubes fortes poderão ficar menos fortes e os clubes médios vão ficar mais fracos», perspectiva ainda.

Para Fernando Gomes, da SAD do F.C. Porto, os custos com publicidade são dos primeiros a ser cortados pelas empresas. Relativamente às receitas de bilheteira, o responsável diz que a Administração portista não exclui a redução de preços na próxima época, de modo a manter a manter o número das assistências.
A diminuição na contratação de jogadores é outra das prováveis consequências da crise financeira e directamente relacionada com as vendas, segundo o dirigente. «Tendo em linha de conta que Portugal é um país exportador de jogadores e que essas exportações são necessárias para equilibrar as [contas de exploração das] SAD, com as mais valias geradas», a área das transferências vai ter «reflexos negativos sobre a vida financeira dos clubes» nacionais.
Relativamente ao crédito bancário, os três administradores têm consciência de maiores restrições na concessão e no custo, devido à crise de liquidez.