Cinco anos de cumplicidade mútua, planos comuns, entendimento incorruptível. Executantes de inestimável valor. Agora: são adversários. O futuro atropela cinco anos de convivência em nome de algo grande, o Clássico. Para trás fica o amadurecimento, a afeição, a cumplicidade.

Defour e Witsel já se conheciam das selecções jovens, mas começaram a partilhar a vida quando chegaram à equipa principal do Standard Liège. O primeiro com 18 anos e vindo da parte neerlandesa, o segundo ainda com 17 anos e criado na parte francófona. Cresceram juntos até se tornarem capitães.

Witsel estreou-se como jogador profissional a substituir Defour, por exemplo: cruzaram a linha lateral e cruzaram destinos. Quando Witsel partiu a perna a Wasilewski, Defour foi o primeiro a vir defender o colega. Criticou até os dirigentes do Standard por não protegerem o agora benfiquista.

Quando Liège fica presa à televisão

Por isso recebeu ameaças de morte, como Witsel recebeu, e foi obrigado até a recorrer à protecção policial, que montou vigia à porta de casa. Mais tarde, quando as coisas com Boloni não corriam bem, foram os dois bater à porta de Luciano DOnofrio e exigir uma mudança no futebol: Boloni foi despedido.

Para o lugar dele veio Dominique DOnofrio, que só tem elogios para os dois jogadores. «Witsel e Defour? Tiro-lhes o chapéu», diz ao Maisfutebol o irmão do então homem-forte do Standard. «São dois rapazes muito profissionais, que trabalham muito e têm grande ambição. São muito boa gente.»

Dembelé partilhou o balneário com ambos durante os cinco anos e vai mais longe. «Não estavam sempre juntos, até porque são naturais de partes diferentes da Bélgica, mas saíam muitas vezes. Havia uma cumplicidade entre eles, vêm da mesma geração e são jovens da sociedade moderna, são urbanos.»

O médio, que entretanto se tornou adjunto do Standard, diz que são os típicos europeus da nova geração. «São profissionais, o futebol para eles é tudo, mas gostam de expandir horizontes.» Witsel, por exemplo, chegou a ser DJ em alguns bares de Liège, Defour por outro experimentou aviões de acrobacias.

A amizade de longos anos vai ser confrontada com uma prova de fogo: o Clássico. «Vai haver uma rivalidade entre eles, mas que é normal. Ambos são muito competitivos», diz Dembelé. «Para além disso o F.C. Porto-Benfica é um jogo muito forte, ninguém admite perder. Um deles vai ficar abatido.»

Quando um se aconselha com outro

Ou então os dois, claro. «É a primeira vez que vão jogar um contra o outro, é o clássico de Portugal, vai ser muito visto na Bélgica e vai ser muito importante para eles. Até pela pressão dos adeptos. Acho impossível, por exemplo, se o F.C. Porto perder, o Defour abraçar o Witsel e dar-lhes os parabéns.»

Quando o jogo se tornar numa memória, porém, a amizade voltará. «Eles são o futuro do futebol belga e não tenho dúvidas que em quatro anos estarão entre os melhores jogadores do mundo.» Dominique DOnofrio concorda. «Para mim o Witsel é o melhor belga da actualidade. Aliás, votei nele.»

O benfiquista não ganhou, mas tinha ganho no ano anterior. Antes disso, o prémio foi entregue a Defour. «Com eles o Standard ganhou dois títulos após 25 anos. Na última época não ganhámos, mas terminámos com os mesmos pontos do campeão Genk. Ainda ganhámos a Taça e duas Supertaças.»

Dominique fica a torcer por eles. «Ficamos contentes por irem jogar num campeonato forte, superior ao belga, e num futebol técnico. Vão poder tornar-se melhores.» Para começar, um Clássico. «Vai ser especial, claro. Até porque a Bélgica vai estar ansiosa para que façam algo importante.»