Não sei se já teve oportunidade de ler esta reportagem da Berta Rodrigues, mas se não o fez siga este conselho de amigo e leia. Se for preciso, guarde nos favoritos e leia no fim de semana. Vai ver que valeu a pena: chega-se à última linha a pensar no caminho que o futebol está a tomar.

Basicamente, e como se sabe, o Qatar iniciou em 2004 um projeto de criação de uma seleção para o Mundial 2022, que o próprio país organiza. Fez um investimento enorme, estrutural e financeiramente, que se traduziu na criação da fantástica Academia Aspire.

Quinze anos depois de começar o projeto, o Qatar está na final da Taça da Ásia pela primeira vez, no fim de seis vitórias, dezasseis golos marcados e zero golos sofridos. Admirável.

O que seguramente merece reflexão.

É que o fenómeno do Qatar não é a primeira vez que acontece e seguramente não é original: só é maior em dimensão. Antes dele, já a Alemanha tinha por exemplo feito o mesmo. No rescaldo de um terrível Euro 2000, os alemães começaram um projeto de investimento na formação.

Um investimento enorme.

Quatro anos depois, a Alemanha chegou às meias-finais do Mundial. Oito anos depois voltou a chegar às meias-finais. E doze anos depois foi campeã mundial. Depois dela, também a Inglaterra foi um investimento gigante na formação e começa agora a colher os frutos.

Ora no meio disto tudo, onde ficam os países pobres?

É certo que Brasil e Argentina continuam a ser fontes largas de talento individual, mas no último Mundial não passaram dos quartos e dos oitavos de final, respetivamente. O Brasil já não chega a uma final do Mundial desde 2002 e a Argentina nos últimos vinte e oito anos só chegou a uma.

Os dois países, tal como Portugal, a Espanha, o Uruguai, ou os países africanos, têm talento individual, fabricam bons jogadores, mas não conseguem obter rendimento nas grandes competições. Porquê? Provavelmente porque não fizeram um investimento enorme nesse sentido.

O que me deixou a perguntar: o dinheiro compra resultados?