O Benfica é a grande desilusão na Europa.

O campeão português, cabeça de série, marcou um golo, sofreu 14, e não somou qualquer ponto. O grupo, recorde-se, era tão acessível que praticamente obrigava à qualificação primeiro na Champions e depois, e já com um travo a desilusão, para a Liga Europa. Falhou em ambos os objetivos e ao mesmo tempo.

Tenho a certeza de que a Liga dos Campeões acabou para os encarnados na goleada de Basileia. Colocou a nu todas as fragilidades da equipa, ofensivas e defensivas, e encostou Rui Vitória e os jogadores contra a parede: teriam de bater o Manchester United para ter reais hipóteses de qualificação, algo de que nunca estiveram perto. 

É o fracasso europeu, sobretudo, que leva o treinador tenta algo de novo, o 4x3x3, que adopta para os jogos seguintes da temporada.

A Europa tem servido de kryptonite, esta temporada, para o Benfica. A primeira derrota da época é vivida na Luz frente ao CSKA, e acumula-a logo depois com o desaire no Bessa para o campeonato e o empate com o Sp. Braga na Taça da Liga. À goleada em Basileia, os encarnados acrescentam um empate na Madeira, perante o Marítimo. Há então um primeiro ensaio do 4x3x3 na receção à equipa de José Mourinho, mas abandonado nos dois jogos seguintes na Liga, até voltar em Old Trafford e permanecer até hoje.

Os encarnados parecem ter estabilizado no novo esquema, embora os resultados na Europa o não confirmem de todo, com a ressalva de que aí Krovinovic, essencial para uma boa execução ofensiva, não esteve disponível.

Rui Vitória, parece-me, já perspetivava a mudança tática ainda na pré-época, quando falou da eventualidade em entrevista, mas só as dificuldades, expostas na Europa e sublinhadas num ou noutro jogo no campeonato, a recuperação de um Krovinovic que chegou lesionado, as dificuldades de afirmação de Filipe Augusto e as intermitências de Pizzi, levaram o técnico a encarar a alteração como inevitável. Sem que o plantel tivesse sido preparado para tal.

O 4x3x3, ao qual também falta trabalho, está muito assente no croata, que não tem substituto no plantel – Chrien, Keaton Parks e João Carvalho não parecem para já alternativas consistentes, tal como o já referido Filipe Augusto –, o que leva a pensar que até nesta alínea a preparação da temporada foi mal feita. Rui Vitória tinha a sensação de que algo iria acontecer que o levaria a mudar, mas não se preparou condignamente para quando mudasse. Não se trata só de ter mais ou menos um médio, mas também opções que envolvam a profundidade e definição dos extremos, e até a presença dos mesmos e do avançado-centro na área. Ou seja, o Benfica também não está bem preparado para o 4x3x3, embora esteja por chegar o mercado e, apenas com um consumo interno pela frente, o modelo até possa bastar.

O decréscimo de qualidade, conjugado com setores mais envelhecidos e unidades não tão fiáveis fisicamente, terão estado na origem de tão grande queda na Champions.

Perante este cenário de kryptonite europeia, Rui Vitória terá optado pelo mal menor. Sair sem pontos e debaixo de um mar de deceção que nunca seria afastado por um eventual melhor resultado frente ao Basileia era esse mal menor. Ao colocar um 11 alternativo, não expunha a sua melhor equipa nesta fase a mais um mau resultado e a criar um retrocesso da recuperação que estará a tentar fazer nas provas nacionais. Entende-se. Se funcionou ou não, só o saberemos dentro de algumas semanas.

O que não se compreende é a resposta desse onze alternativo, incapaz de criar reais situações de golo e de incomodar suficientemente um Basileia disposto a aproveitar todos os erros de transição defensiva dos encarnados e de resposta às bolas paradas – nos dois golos aparece Douglas (não só) na fotografia, e está longe de ser coincidência. Para já, não passa de mais um erro de casting.

Acredito que Rui Vitória já esqueceu a Europa, e de facto nada fica que tenha valor positivo para ser recordado. O Benfica não teve qualidade suficiente para a competição. No entanto, os erros não ficaram estanques na competição europeia, e vale a pena continuar a olhar para a equação e tentar resolvê-la.

Dortmund, Atletico Madrid, Mónaco e Nápoles, as outras deceções.

Quatro equipas em momentos diferentes, mas a terminar bem aquém das expetativas na Liga dos Campeões.

O Borussia Dortmund arrancou a temporada a todo o gás, sob o comando de Peter Bosz, e também começou por mostrar fragilidades na prova europeia, antes de se deixar contaminar na Bundesliga. Não ganhar um jogo ao APOEL é o espelho de toda a campanha, num grupo com a exigência de ter o campeão europeu em título Real Madrid e um bom Tottenham.

O Atleti também tinha um grupo exigente, logo com Chelsea e Roma, mas também fracassou. Há quatro anos que passava sempre a fase de grupos, com a presença em duas finais (2013-14 e 2015-16), umas meias-finais (2016-17) e uns quartos de final (2014-15), sempre com o rival Real como carrasco, e o afastamento confirma uma certa perda de fulgor da equipa de Diego Simeone, que já vem desde o ano passado.

O Mónaco, campeão francês, tenta reestruturar-se após a sangria no mercado. Saíram muitos jogadores, de todos os setores, e há muita juventude, o que levará certamente algum tempo a Leonardo Jardim para reequilibrar a equipa. Dificilmente será este ano, perante um super-PSG nas competições internas, mas o técnico provou precisamente há um ano o que era capaz de fazer. Tudo somado, no entanto, o último lugar do Grupo não chega a ter nota suficiente.

Por fim, o Nápoles. Uma equipa com uma ideia de jogo bem trabalhada e com excelente executantes, que não teve qualquer hipótese frente ao talvez melhor conjunto da atualidade, o Manchester City, e ainda teve de lidar um Shakhtar muito forte, sobretudo em casa. Talvez seja das formações com menos desculpas, mas também aquela que apresenta melhores soluções e condições para recuperar rapidamente do fracasso.