O Real Madrid perdeu em San Mamés, e os alarmes soaram ainda mais estridentes no Santiago Bernabéu. 

Carlo Ancelotti, o tal da mão frouxa que ganhou três Liga dos Campeões, não poupou os seus avançados no final da partida frente ao Athletic. 

Somos demasiado individualistas, disse. 

O campeão europeu, que parecia estar a caminhar este ano para uma época de sucesso também a nível interno, perdeu o tom. Perdeu-o em janeiro, depois de vinte jogos consecutivos a vencer, e nunca mais o recuperou.

Sim, é verdade, Benzema, Bale e Ronaldo já funcionaram juntos antes.

Perdeu o tom depois de o campeão Atlético e de o grande rival Barcelona terem mostrado fragilidades novas, e terem parecido também algo perdidos nas suas ideias.

Cristiano Ronaldo, logo a seguir à Bola de Ouro, baixou níveis, como se já tivesse ganho os dois primeiros sets de uma partida de ténis à melhor de cinco e precisasse de aliviar a pressão. Fisicamente, também parece longe de estar fresco. Construiu a sua época a pensar em ser o melhor do mundo, e agora está a ser-lhe difícil voltar ao plano de excelência.

Mas Ancelotti merece que voltemos às suas palavras. O Real não está, para si, a funcionar como equipa. O Real, que nunca foi um exemplo de perfeição coletiva, não consegue agora encaixar Benzema, Ronaldo, Bale e Isco, entre outros, e achar o caminho para a baliza. O galês parece que joga sozinho, o francês já não liga tão bem com o português, e a classe de espanhol não chega para alimentar tudo. 

E, sobretudo, em separado também não estão a conseguir fazer a diferença.

O Barcelona, novo líder, reequilibrou-se debaixo do nome de Messi. Neymar aceitou a cadeia de comando; Suárez, também ele enorme apesar das mordidelas no próprio estatuto, não se negou a ser a terceira parcela de um ataque impressionante, um dos melhores da história. 

Com o Atlético a sete pontos da frente, Real e Barça parecem em momentos contrários.

O Barça, que também já teve resultados anormais, voltou a ganhar com facilidade, o Real Madrid quando ganha parece que o faz sempre em esforço. Sobretudo a partir de janeiro.

Ancelotti percebeu, parece-me, onde está o problema, que já se anunciava há meses, com os primeiros sintomas a aparecerem em Bale antes de se estenderem, em jeito de epidemia, aos outros. 

O clássico vem daqui por duas jornadas. Terá o italiano tempo para reequilibrar coletivamente a equipa, antes que a época se vire do avesso? Os últimos sinais são maus.

Luís Mateus é subdiretor do Maisfutebol e pode segui-lo no  TWITTER.