A manhã estava quente, preguiçosa. José Mourinho entrou confiante no relvado, de cabeça bem levantada. A palestra foi clara, cativante, puxou os jogadores para o seu lado. A partir dali acabavam os trabalhos sem bola nos treinos do Benfica. Iniciava-se uma nova era, repleta de novos ditames.

Entre os atletas estava um miúdo recém-chegado da equipa B. Geraldo rendeu-se imediatamente à personalidade do técnico, como confessa ao Maisfutebol, uma década após a primeira sessão de Mourinho na Luz.

«No balneário disse-nos logo que não ia olhar para caras na hora de escolher a equipa. Tornou-se muito chegado a nós, era quase mais um jogador. Sabia empolgar os jogadores e todos os dias eram uma novidade», narra Geraldo, agora a jogar no Steaua Bucareste.

«Para mim não podia ter sido melhor. Chamou-me à parte e disse-me que eu não estava ali para fazer número, apesar de vir da equipa B. Confiou em mim, no Nuno Abreu e no Diogo Luís. Sinceramente, nessa altura só me apetecia treinar.»

Dez anos de Mourinho: da Luz a Madrid, a obsessão de ser especial

Um palmarés de luxo e as frases marcantes

Um texto com dez anos de vida

O Maisfutebol seguiu com atenção a estreia absoluta de José Mourinho como treinador principal. À distância de uma década vale a pena recordar partes do texto escrito pelo nosso jornal por alturas dessa efeméride.

« José Mourinho e Carlos Mozer já treinaram na Luz. A nova equipa técnica do Benfica orientou há pouco o seu primeiro treino no campo principal do Estádio da Luz, com 300 pessoas a assistir.

Vale e Azevedo, presidente do Benfica, José Capristano, vice e administrador da SAD, e Álvaro Braga Júnior, director-geral da SAD, vieram ao relvado para observar a primeira sessão da equipa técnica.

(...) Mourinho assumiu o comando do treino, começando por um exercício de passe e recepção de bola, seguido por remates. Depois dividiu os 20 jogadores de campo disponíveis em duas equipas e organizou uma peladinha em todo o campo, o que não acontecia há muito tempo na Luz.

Nas duas equipas o treinador colocou um trinco, dois médios de características mais ofensivas, dois extremos e um ponta-de-lança, organizados da seguinte forma:

Bossio; Bruno Aguiar, Paulo Madeira, Ronaldo e Rojas; Calado; Kandaurov e Uribe; Toy, João Tomás e Miguel.

Enke; Dudic, Geraldo, Sérgio Nunes e Bruno Lucas; Fernando Meira; Poborsky e Maniche; Carlitos, Van Hooijdonk e Sabry.

O treino durou quase duas horas e para a tarde está prevista nova sessão.
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Belenenses foi a primeira vítima, à terceira tentativa

Três dias depois, a estreia no banco de suplentes. Derrota no Estádio do Bessa por 1-0, diante do Boavista, com o brasileiro Duda a marcar logo no primeiro minuto. Na semana seguinte, empate a duas bolas na recepção ao Sp. Braga. Golos de João Tomás e Van Hooijdonk para o Benfica, e de Miki Feher e Artur Jorge para os minhotos.

José Mourinho teve de esperar até 15 de Outubro até festejar a primeira vitória. Golo de Marchena e 1-0 ao Belenenses, no Estádio da Luz. Daí até 3 de Dezembro foi sempre em crescendo. A despedida não podia ter sido melhor. Goleada aplicada ao Sporting por 3-0, com João Tomás (2) e Van Hooijdonk novamente em plano de destaque.