Fredy Montero é o mais recente fenómeno da liga portuguesa: goleador, sereno e sedutor. O futebol parece fluir-lhe naturalmente naquele jeito de fazer golos sem ter de sofrer durante o processo. Montero é frio e estimulante, é tranquilo e agitado, é baixinho e poderoso.

Carrega o Sporting às costas e anima os adeptos leoninos.

O que justifica um olhar sobre a vida para além do que os nossos olhos veem. O Maisfutebol ouviu por isso histórias de um rapaz que aos seis anos respondia a jornalistas, que enfrentou os Estados Unidos sem falar inglês e que agradece ao google translator a família que construíu.

1. Uma hora de viagem para jogar futebol
Montero nasceu em Campo de la Cruz e mudou-se jovem para Barranquilla: a pequena aldeia nas margens de um rio era frequentemente invadida pelas águas que devastavam a vida dos habitantes. Foi ainda lá, nas ruas da aldeia, que Montero aprendeu a jogar futebol e foi lá que um dia disseram ao pai, também ele Fredy Montero, que o filho era um fenómeno. «Fui vê-lo jogar e era verdade.» A partir daí Montero foi educado para ser profissional. Esteve em três academias: Edgar Perea, Rubolo e Toto Rubio. «Fazia todas as semanas uma hora de viagem para o levar a jogar.» 

2. «Tratas o teu filho como se fosse um profissional»
O papa Montero tinha sido também jogador de futebol e tinha licença de treinador. «A partir daí preparei-o desde os seis anos. O meu filho, com seis anos, já respondia a perguntas de jornalistas meus amigos que simulavam entrevistas. Mostrava-lhe vídeos de jogos, explicava-lhe as táticas, falava-lhe de posicionamentos e explicava-lhe como se devia alimentar. Um tio do Fredy que é médico noutra cidade e vinha cá no verão dizia-me
tu és louco, o teu filho é uma criança e trata-lo como se fosse um profissional . E sempre lhe disse: Não é profissional, mas vai ser um dia ».

3. Jaynne Muñoz, grávida ou a amamentar, mãe em todos os jogos
Fredy Montero começou a jogar futebol nas escolinhas com seis anos e contou sempre com uma claque particular. «Era pais, tios, primos e vizinhos, íamos sempre a todos os jogos.» Agustin Garizabalo, o olheiro que o descobriu na escola Toto Rubio, corrobora a história. «Pareciam um cortejo: chegavam em três e quatro carros.» Não houve aliás gravidez ou período de amamentação que travasse a mãe Jaynne Muñoz. «Ia sempre, mesmo grávida de oito meses», conta o pai de Fredy. «Quando nasceu a irmã mais nova, a mãe levava-a com cinco e seis meses para os campos e amamentava-a ali mesmo à frente de toda a gente. Era uma festa.»



4. O dia em que atirou a camisola ao chão e disse nunca mais
«Houve uma altura em que não era titular, os miúdos tinham mais um e dois anos do que ele. Farto de ser suplente, um certo dia tirou a camisola à frente dos treinadores e de toda a gente, atirou-a ao chão e disse que não voltava mais.
Não vim para aqui para ser suplente », lembra Agustin Garizabalo. «Estava a família toda e ele não os queria defraudar.» Claro que aquele ataque de fúria morreu ali. Nem o pai deixava tal coisa. «Ele sempre foi educado para ser jogador. Desde os 14 anos que tem empresário. Eu sou psicólogo dele, empresário, amigo e treinador. No fim sou pai.»

5. De táxi para o Desportivo de Cali
A história já foi contada pelo Maisfutebol: Agustin Garizabalo era olheiro do Desportivo de Cali e foi alertado por um jornalista para «o número 16 do Toto Rubio». Foi vê-lo e gostou. Soube que Montero ia participar num torneio em Cali e avisou o clube. O olheiro, porém, atrasou-se e não viu Montero. Com doze anos, e numa cidade completamente estranha, o miúdo não se ficou: convenceu dois colegas de Cali a irem com ele ao treino. «E olhe que os campos ficaram fora da cidade.» Chegou, treinou e agradou. No fim quando vinha embora, um dos rapazes atirou-lhe.
Ei, Fredy, quando fores um jogador famoso não te esqueças que fomos nós que te ajudamos
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6. Quando a psicóloga foi convencida em dois meses
Depois de quinze dias num campo de verão, Fredy Montero foi para o Desportivo de Cali: viajou para 650 quilómetros de distância da família. «Quando chegou a Cali, ligou-me a psicóloga do clube. Explicou que o Fredy ia ficar quatro meses em avaliação para verem se aguentava a distância. Passado dois meses, fez um relatório a dizer que ele ficava», conta o pai. «O meu filho era um adulto de 40 anos num corpo de 11 anos.» Agustin Garizabalo corrobora a ideia. «Seis meses depois de ele ir, fui visitá-lo. Vivia na casa de uma senhora em Cali. Perguntei-lhe se não estava triste e com saudades dos pais. Sabe o que me respondeu? Não posso pensar nisso. Estou a lutar pela minha carreira e depois terei todo o tempo para partilhar com a minha família



7. «Ele não é frio, é sereno. Um matador»
A formação de Montero não foi fácil: era goleador, mas os treinadores queixavam-se repetidamente da maneira como se portava em campo. «Diziam que ele era demasiado frio, distante do jogo. Não corria.» Marcava golos, mas não corria: e isso no futebol latino da América do Sul pode ser preocupante. «Gastón Morales, um treinador chileno, foi ver um jogo em que ele fez o golo da vitória aos 91 minutos. No fim ligou-me: dizem que ele é frio, ele não é frio, ele é sereno. Um matador», confessou a Agustin Garazabalo. Depois saiu para o Atl. Huila, onde foi duas vezes o melhor marcador da Colômbia, e ninguém mais se queixou. «Comparo-o muito a Falcao: são os dois homens de área, frios, maduros, com um discurso prudente e sentido goleador.»

8. Amante da pesca, da FIFA e da religião
Rapaz tranquilo, de família e muito caseiro. Quem conhece Fredy Montero diz que o tempo livre é passado a jogar Xbox e a passear o cão. Uma cadela, aliás: a FIFA. «Está com ele há vários anos. Adora-a.» De resto, é uma apaixonado pela pesca. «Desde pequeno», diz o pai. «Pega na cana e fica sozinho durante horas a pescar. Os amigos dizem que é maluco, mas ele garante que o tranquiliza.» «Outra paixão é a caça: junta dois ou três amigos e vai para o monte. Levam uma merenda e ficam lá o dia todo.» Eduardo Blanco, amigo de infância, acrescenta que Fredy é profundamente religioso. «Herdou isso da mãe. Nas escolinhas antes de entrarmos em campo obrigava-me a rezar com ele.»

9. Namorar pelo google translator
Quando Montero foi para os Estados Unidos encontrou a namorada Alexis num grupo de amigos. Ele não falava inglês e ela não falava espanhol. Solução: trocavam mensagens e traduziam-nas no google. «Ele tinha um amigo que o ajudava, mas quando não percebia usava o tradutor.» Hoje falam as duas línguas, estão casados e esperam o nascimento de uma filha. É a primeira vez que Montero pai está longe do filho. Quando o avançado foi para os Estados Unidos, país onde se tornou o americano que vendia mais camisolas (depois de Beckham e Henry), a família foi com ele. «Pouco depois de chegar exigiu que o Sounders tratasse da licença para irmos. Comprou-nos uma casa e foi toda a família viver para Seattle: pai, mãe e irmãos. Ainda passamos lá muito tempo.»

10. Golos com dedicatória militar
Fredy Montero pai está quase a desligar o telefone quando atira: «Sabe uma coisa que sempre me orgulhou? Que o meu filho celebrasse os golos com o gesto militar.» O pai refere-se à continência que o filho por vezes faz para as bancadas quando marca. «Eu fui polícia toda a minha vida e à custa disso levava-o a ver os jogos comigo de graça. Para agradecer à polícia por isso, e para agradecer o que a polícia me deu, ele faz essa celebração.» Uma história corroborada pelo amigo Alberto Blanco. «Fartávamo-nos de ver jogos juntos à boleia do pai. Ele sabe ser grato por isso.»