O dia em que o grupo às ordens de Paulo Bento ficou completo, com as incorporações de Cristiano Ronaldo, Pepe e Fábio Coentrão, começou de forma pouco habitual, com uma manifestação promovida pelo Sindicato dos Trabalhadores de Hotelaria, em protesto contra despedimentos no hotel que acolhe a seleção, a motivar reforço policial.



Mesmo com os três novos campeões da Europa integrados, a seleção continua com limitações nos treinos: Pepe e Fábio Coentrão já trabalharam em pleno mas Cristiano Ronaldo ficou no hotel, tal como Raul Meireles e Hugo Almeida. E enquanto William Carvalho já se apresentava sem limitações, João Moutinho e Rúben Amorim faziam treino de recuperação a problemas musculares, deixando a equipa a trabalhar com 18 elementos, na penúltima sessão antes do ensaio de sábado, com a Grécia, no Jamor.



Foi precisamente Rúben Amorim o homem escolhido para uma conferência de imprensa em que garantiu não ver este Mundial como pretexto para uma afirmação pessoal: «Tenho muitos anos de futebol e não me preocupa o que tenho de afirmar ou já afirmei», frisou, acrescentando que a mialgia que tem impedido de treinar-se em pleno é apenas «um problemazinho, nada de especial». Em termos coletivos, o médio frisou que a conquista de títulos importante por parte de vários jogadores é importante para o grupo: «quando os jogadores estão habituados a ganhar, estão habituados a várias coisas que o sucesso traz», lembrou.

Quanto ao particular com a Grécia, o médio do Benfica aprestou-se a fazer baixar expetativas e, de passagem, a rejeitar qualquer paralelo com «aquele» Portugal-Grécia de 2004 que ninguém está perto de esquecer.



Faz bem: os primeiros ensaios da seleção portuguesa para grandes competições não costumam ser particularmente convicentes: há dois anos, depois da convocatória para o Europeu, o grupo de Paulo Bento entrou em ação com um sonolento nulo diante da Macedónia, com vários jogadores ainda longe da intensidade desejada. A situação ainda se acentuou no segundo jogo, uma derrota caseira perante a Turquia, na Luz que fez com que a equipa rumasse à Polónia rodeada por uma nuvem de fatalismo.

Recuando ainda mais, a situação repetiu-se com Carlos Queiroz ao leme: a preparação para o Mundial-2010 também arrancou com um nulo nada entusiasmante frente a Cabo Verde. Exceção a essas dificuldades no arranque, Luiz Felipe Scolari pontuou o seu consulado com particulares acessíveis para lançar as fases finais: foi assim no Euro-2004 (4-1 à Lituânia, depois de uma série de desaires com equipas mais competitivas), no Mundial-2006 (vitórias folgdas sobre Cabo Verde e Luxemburgo) e no Euro-2008 (2-0 à Geórgia antes da partida para a Suíça).



É previsível que Cristiano Ronaldo seja poupado a este primeiro particular – fará, quanto muito, o treino desta sexta-feira, depois de quatro dias de folga e de uma final de Champions jogada em condições delicadas – e o mesmo deverá acontecer com outros jogadores em situação precária. Face ao curto tempo de trabalho conjunto, as afinações do onze mais próximo do que vai defrontar a Alemanha, na estreia, deverão ficar para os Estados Unidos, diante do México e, principalmente, da Irlanda.

Por outro lado, estará a Grécia. A seleção orientada por Fernando Santos parte para o Brasil com ambições legítimas de, pela primeira vez, passar a fase de grupos. Mas, depois de uma inédita série de sete vitórias consecutivas, o empate com a Roménia e, principalmente, a derrota com a Coreia do Sul, em março, vieram pôr recentemente água na fervura das ambições. O grupo conta com seis jogadores acima dos trinta anos, e apenas cinco com menos de 25, tem ainda dois resistentes do Euro-2004, Katsouranis e Karagounis. 

E, claro, está há 18 anos e cinco jogos sem perder diante de Portugal, tendo ganho os últimos três confrontos com a equipa das quinas. No regresso de Portugal ao Jamor, palco onde já não joga desde 2003, o último ensaio antes da partida para os States não será a altura ideal para ver se um borrego com 18 anos está pronto a ir ao forno. Se continuar bem vivo, e a espernear, depois de sábado, não será caso para grandes admirações.