«Ser irmão é ser o quê? Uma presença a decifrar mais tarde com saudade? Com saudade de quê? De uma pueril vontade de ser irmão futuro, antigo e sempre?»

Do poema Irmão, irmãos (Carlos Drummond de Andrade)


Elo fraternal, inabalável, profuso. Lado a lado na caminhada da vida, uma antologia de vivências. Olhares, experiências, o crescimento partilhado. Viver na mesma casa, no mesmo quarto, e vê-los de forma distinta.

Digão e Kaká, uma união de sangue e fervor. «Passávamos o dia todo juntos. Do mais banal dos objectos fazíamos uma bola e transformávamos qualquer espaço num campo de futebol. Tivemos uma infância incrível. Tenho saudades desses tempos», diz o novo jogador do Penafiel, em entrevista ao Maisfutebol.

A sustentar tudo isto, uma família tradicional, da classe média/alta de São Paulo. Um pai engenheiro e uma mãe professora. «Os meus pais sempre nos deram liberdade para definirmos o nosso futuro. Quando eu tinha 14 anos, disse-lhes que queria estudar e eles meteram-me no melhor colégio da cidade. São pessoas fantásticas, fundamentais nas nossas vidas.»

Digão é o responsável pelo apelido Kaká. Kaká é o responsável por Digão ser defesa central. «Eu era bebé e não conseguia pronunciar Ricardo, o nome dele. Simplifiquei e ficou assim até hoje. Ele vingou-se e meteu-me lá atrás nas nossas peladinhas. Como era mais velho, obrigava-me a ser defesa. E olha, fui ficando até hoje.»



«O Kaká está muito curioso sobre o José Mourinho»

Portugal está definitivamente atravessado na família dos irmãos Santos Leite. Se Digão veio até ao nosso país, o nosso país foi até Kaká, diplomaticamente representado por José Mourinho e Cristiano Ronaldo.

«O Kaká está muito curioso sobre o Mourinho. Quando se juntam grandes campeões, o resultado só pode ser bom. Vai ser uma época de títulos para eles», prevê o atleta do Penafiel, espectador e torcedor atento do Brasil ao longo do Mundial-2010.

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«Exige-se sempre muito do Brasil e de alguns jogadores. Na Argentina é o Messi, em Portugal é o Ronaldo e no Brasil é o Kaká. Ele teve uma lesão grave, recuperou bem, mas não foi tão brilhante como realmente é. Faltou-lhe ritmo de jogo.»

«A primeira bola que recebi quis logo passar ao meu irmão»

A curiosidade é normal e Digão não se aborrece. De facto, não é todos os dias que se pode falar com o irmão de um dos melhores jogadores do mundo.

«Não me chateia nada falar sobre o Kaká. A única coisa que me chateia é quando me retiram mérito e dizem que só cheguei ao AC Milan por ser irmão dele. Se fosse assim, o irmão do Messi também estava num grande clube», dispara, enquanto se lembra de mais um detalhe para esta história.

«Parece impossível, mas até hoje fizemos apenas um jogo juntos. Foi no Dubai, num amigável entre o AC Milan e a selecção dos Emiratos Árabes Unidos. A primeira bola que recebi quis logo passar ao meu irmão. Mas depois lembrei-me que aquilo já não era uma brincadeira de crianças.»

As ramificações da família Santos Leite vão mais longe e chegam à China. Eduardo Delani joga no Guangzhou F.C. e é primo de Digão e Kaká. «Somos doidos por futebol. O meu pai passou pelo Atl. Mineiro e o meu tio também jogava muito bem.»