Os Jogos da XXIIª Olimpíada de Inverno começam oficialmente nesta sexta-feira em Sochi, na Rússia, e têm sido antecedidos de muitas críticas sobre as condições em que vieram a ser preparados e nas quais irão inevitavelmente ser abertos.

As críticas estendem-se às decisões políticas ao mais alto nível russo, passam pela segurança de um acontecimento desportivo com dezenas de milhar de pessoas envolvidas no local e desembocam nas condições em que se assiste, trabalha ou mesmo compete.

As Olimpíadas são dos momentos mais esperados das carreiras de imensos atletas e estes procurarão ter em Sochi o seu momento desportivo, mais do que tudo. O público quererá in loco ou via televisão ver o melhor dos seus atletas e do desporto. E os resultados (esperam todos) serão o que perdurará.

E apesar das várias questões a garantir que estas olimpíadas já ganharam um lugar na história desportiva pela polémica que as tem rodeado, há também razões para encarar este acontecimento desportivo com olhos menos indiferentes do que é costume ter (especialmente por nós portugueses) para com os Jogos Olímpicos de Inverno.

Portugal está pela primeira vez na sua história representado em duas provas numas olimpíadas de inverno. Arhtur Hanse será o porta-estandarte da bandeira portuguesa, que desta vez não seguirá sozinho. Estará acompanhado por Camille Dias. Os dois irão competir (a partir do dia 18) nas provas de slalom do esqui alpino – o que será uma estreia para Portugal.



Estes jogos verão também introduzidas novas variantes nas 15 disciplinas que irão ter atletas de 86 países – mais de 6 mil – a lutarem por uma das medalhas que serão entregues nos também 86 eventos. Patinagem artística por equipas; saltos de esqui femininos, biatlo por estafetas mistas, esqui halfpipe, luge por estafetas mistas, esqui slopestyle, snowboard slopestyle e snowboard slalom paralelo são as 12 variantes introduzidas nos Jogos de 2014.

Mas, ao lado do desporto, é a polémica que tem marcado as vésperas dos Jogos. Melhor: as polémicas – que têm envolvido as mais altas instâncias políticas do mundo ao global das redes sociais transnacionais. Os (1 mil milhões de dólares (37,5 mil milhões de euros) que a Rússia gastará com este Jogos tornam-nos os mais caros de sempre. Em 2007, quando a candidatura de Sochi ganhou a corrida para a organização das olimpíadas, o orçamento apresentado era de 12 mil milhões de dólares (8,8 mil milhões de euros).

As acusações de despesismo foram seguidas de acusações de favorecimento, pois muitos dos contratos foram atribuídos a pessoas do círculo de Vladimir Putin. O presidente da Rússia negou qualquer procedimento menos transparente, embora tenha reconhecido que há sempre tendência para inflacionar os custos de um evento destes.

Mesmo com uma folha de encargos desta dimensão, Sochi 2014 começará nesta sexta-feira com muitas queixas de falta de condições; que vão desde as coisas inacabadas ao mau estado das instalações oscilando os relatos já entre a incredulidade e o ridículo. As críticas já se transformam em humor transmitido pela muita comunicação social que, por enquanto, vai relatando sobre os hoteis sem chão na receção – e, por isso, sem receção – ou as já famosas casas de banho comuns.

Os problemas em Sochi têm sido de tal forma detetados e relatados que já há uma conta no Twitter com esse mesmo nome: Sochi Problems. E tanto por esta conta [com mais de 100 mil seguidores à data deste artigo], como por toda a rede social têm chegado imagens do muito que está a ser (até agora) Sochi 2014.

Tentando diversificar muito que tem sido reproduzido nos últimos dias, mostra-se o que o repórter da «CBC» Mark Connolly partilhou sobre o seu quarto na cidade russa.


Ou como estavam as coisas para os canadianos a dois dias do início:


O quarto do atleta eslovaco Zdeno Chára:


As condições nas casas de banho:


Mais um famoso WC:


Ou a não menos famosa água que saiu da torneira no quarto da repórter do «Chicago Tribune» Stacy St. Clair:


A par destas condições oferecidas a muitos, a presença de milhares de cães vadios também tem sido destacada não só pelo número – em que noutra altura do ano ninguém estranharia –, mas também por ter sido contratada uma empresa para capturar os animais, que já circulam dentro das zonas olímpicas. A questão de haver cães vadios nas imediações e relatos de mordidas é criticada, mas, ao mesmo tempo a questão da recolha dos cães também.

Os direitos dos animais já foram levantados por movimentos que contestam que esta recolha dos cães seja sinónimo do seu extermínio. Mas, entre as instituições de cariz ativista, as associações de defesa dos direitos dos animais ainda não se manifestaram; nem tão pouco as associações ambientalistas em relação ao impacto que estes Jogos terão nesta região balnear russa.



No plano da gestão política, já se diz também que estes casos de falta de condições que estão a dominar atenções ou a questão dos cães vadios são bem recebidas pelo presidente russo, pois servem para distrair atenções de outros temas mais polémicos. A questão da segurança é uma preocupação geral quer dos russos quer dos outros países.

As ameaças aos Jogos foram feitas e são reais. Assim como os movimentos jihadistas na região do Cáucaso. A dura realidade esteve nos atentados em Volgogrado, que em Outubro passado mataram seis pessoas num autocarro, e que, em dezembro, fizeram mais três dezenas de vítimas mortais. Barack Obama mostrou a sua preocupação sobre o caso na «CNN», mas o presidente norte-americano também deixou alguma tranquilidade: «Os russos sabem o que está aqui em jogo. Eles sabem que há ameaças e estamos a coordenar a situação com eles.»

Numa reportagem da «RT», a segurança é de tal modo garantida pelo repórter Martyn Andrews, que ele diz estar «num dos lugares mais bem protegidos do planeta», onde 100 mil polícias e forte armamento garantem que o «anel de aço» da segurança não será transposto. Com a posição de Putin incluída.



A polémica legislação aprovada em junho do ano passado pela Rússia punindo a «propaganda sobre relações sexuais não tradicionais» já não mereceu as mesma reação do presidente dos Estados Unidos. Obama não irá a Sochi (o presidente é habitualmente o líder da delegação olímpica dos EUA), mas a delegação norte-americana incluirá vários ex-atletas homossexuais para marcarem posição contra a denominada lei anti-gay.

E ainda nesta quinta-feira, o secretário-geral das Nações Unidas instou a Rússia a não exercer nem discriminações nem represálias. «Muitos atletas profissionais gays e heterossexuais são contra os julgamentos prévios. Devemos elevar a nossa voz contra os ataques sobre as lésbicas, gays, bissexuais, trans, ou os interssexos», declarou Ban Ki-Moon no congresso do Comité Olímpico Internacional.

Putin já tinha argumentado que a punição da «propaganda» se destina à «proteção de menores» . O vice-primeiro-ministro russo apoiou-se na carta olímpica. «A propaganda política durante os eventos desportivos está proibida pela carta olímpica e a lei russa», declarou já nesta quinta-feira Dmitri Kozak em Sochi.

O Instituto Canadiano da Diversidade e da Inclusão, também já se manifestou: