Sim, a pergunta do título pode parecer disparatada. Em especial se, nesta edição da prova, olharmos para uma lista de participantes com quatro ex-campeões europeus (Juventus, Benfica, FC Porto e Ajax) e um punhado de equipas com currículo mais do que respeitável nas competições da UEFA e/ou orçamentos de primeira classe (Tottenham, Nápoles, Fiorentina, Lazio, Dinamo Kiev, Valência, Sevilha).

E, no entanto, a impressionante vitória (3-0) do Salzburgo em Amesterdão, nesta quinta-feira, faz com que o conjunto comandado pelo alemão Roger Schmidt tenha de começar a ser levado mais a sério. Real Madrid (três vezes) e Borussia Dortmund eram até à data as únicas equipas que tinham ganho em casa do Ajax por três golos ou mais, e sempre na Liga dos Campeões: este foi o maior desaire caseiro dos holandeses, fora do duelo com os grandes tubarões europeus.

Com a derrota do Tottenham nesta quinta, em Dnepropetrovsk, o Salzburgo passou a ser a única equipa em prova só com vitórias: incluindo as duas no play-off, sobre o Zalgiris Kaunas,vai numa série de nove consecutivas, mais do que tinha somado nas últimas cinco épocas de competições europeias.

Numa Liga que domina dos pés à cabeça (lidera com 17 pontos de avanço, ao fim de 23 jornadas) a equipa tem como única mancha numa temporada de sonho o afastamento da Liga dos Campeões na terceirapré-eliminatória, em julho, diante do Fenerbahçe. Mas, a avaliar pelo desempenho do Áustria Viena na fase de grupos, talvez tenha sido um mal que veio por bem: a Liga Europa é a competição certa para o Salzburgo que, depois desta quinta, pode já começar a projetar uns oitavos de final onde vai ter pela frente o vencedor da eliminatória entre o Maccabi tel Aviv e o Basileia.

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Quem viu o jogo desta noite, é categórico: não se pode dizer que os 3-0 resultem de um acidente. Mesmo com menos posse de bola, ao longo dos 90 minutos, o domínio dos austríacos nas transições foi tão evidente que o único remate do Ajax à baliza aconteceu já em período de descontos, para um saldo final de 7-1 em tiros entre os postes. Por contraste, entre saídas, cruzamentos, atrasos e mergulhos, Cillesen, o guarda-redes dos holandeses, foi um dos jogadores mais solicitados em toda a partida. E, depois, a coroar o recital, houve este golo do espanhol Jonathan Soriano, o terceiro da partida, a fazer com que meia Europa abrisse a boca de espanto:



Com os dois golos marcados em Amesterdão (o outro foi de penálti) Soriano, de 28 anos, tornou-se líder isolado dos marcadores na Liga Europa, ganhando um protagonismo inédito numa carreira que ganhou um segundo fôlego com a ida para a Áustria, em 2012.

Formado nas escolas do Espanhol, o avançado penou para se afirmar na Liga do seu país. Em 2009 passou para o Barcelona B mas, depois de três anos a tentar, em vão, chegar à primeira equipa, decidiu dar um passo atrás na carreira, na perspetiva de poder dar dois em frente: dito e feito, desde que chegou à Áustria, em janeiro de 2012, deu uma dimensão extra à equipa patrocinada pelo touro vermelho, contribuindo para a dobradinha na temporada de estreia e marcando 26 golos na segunda época, quando o título fugiu para o Áustria Viena. Na atual, já soma 27 em provas oficiais.

A vitória em Amesterdão assinalou o 63º jogo oficial consecutivo do Salzburgo a marcar: o último jejum data de dezembro de 2012, frente ao rival Austria Viena. O registo ofensivo da equipa impressiona, mesmo descontando a fraca competitividade da Liga do seu país: 121 golos em 37 jogos oficiais, desde julho, são um total só comparável ao conseguido pelo Manchester City, na época em curso.

Esta é, assim, uma boa ocasião para recordar que, há um mês, este mesmo Salzburgo já tinha causado escândalo, ao vencer o Bayern de Munique por 3-0, no último particular dos alemães antes do regresso à competição. Três dias depois, quando a sua equipa venceu em Moenchengladbach, Guardiola deixou um agradecimento aos líderes da Liga austríaca: «Aprendemos a lição com essa derrota, obrigado», disse então.



Resta dizer que Soriano não é o único jogador autorizado a «inventar» golos do meio-campo. A temporada de sonho do Salzburgo pode muito bem ter começado com este outro golo de sonho do defesa Hinteregger, ao Schalke, num particular realizado em julho:



E se, por enquanto, as dúvidas continuam a ser legítimas sobre a capacidade de os austríacos prolongarem esta eficácia ofensiva numa fase mais adiantada da competição, pelo menos o espectáculo parece garantido. E continua na próxima semana.