Bernardo Silva recebe a TVI/Maisfutebol em Manchester para uma conversa descontraída. Com o esquerdino do City tem mesmo de ser assim. O futebol dele é, aliás, o reflexo da personalidade extrovertida e sorridente. 

Bernardo responde a tudo sem hesitações, como se soubesse que o sentido do ataque é está sempre na resposta mais rápida. Fala muito do Benfica, naturalmente, e até surpreende ao afirmar que há uns meses seria inimaginável ver o emblema da Luz a lutar pelo título em abril. 

Aos 24 anos, Bernardo Silva está a fazer uma temporada fulgurante em Inglaterra e a apenas três jogos de chegar aos 100 com a camisola Citizen. É uma das escolhas preferenciais de Pep Guardiola e, muito provavelmente, aquele que mais vezes foi elogiado publicamente pelo treinador espanhol. 

Nesta parte da conversa fala-se da atmosfera na Premier League, de Bruno Lage, de João Félix e sobretudo da rivalidade entre Benfica e FC Porto. 


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TVI/Maisfutebol – Como é viver por dentro a rivalidade entre os grandes clubes da Premier League?
Bernardo Silva –
É uma luta saudável. Dentro de campo e nas bancadas toda a gente quer ganhar, mas todos estão preocupados com o futebol e não com aspetos exteriores ao jogo. Joguei em Portugal, em França e agora estou em Inglaterra e não tenho dúvidas. O ambiente em Inglaterra é especial, claramente melhor.

TVI/MF – Em Portugal essa rivalidade e esse fanatismo já passaram das marcas?
BS –
Já passaram das marcas há muito tempo. Deixo isso para as pessoas discutirem diariamente lá naqueles programas desportivos das televisões. 

TVI/MF – O Bernardo até se viu envolvido numa troca de comentários com o diretor de comunicação do FC Porto numa rede social. Como viu tudo isso?
BS –
Foi uma brincadeira. As pessoas em Portugal não levaram como uma brincadeira, mas da minha parte foi. Não sei se da outra parte [Francisco J. Marques] também foi, mas da minha sim.

TVI/MF – Por falar em portugueses, o Bernardo está surpreendido com a boa época do Wolverhampton aqui em Inglaterra?
BS –
Eu não estou porque conheço bem todos os que lá estão. Olhando para a qualidade do Rui Patrício, do João Moutinho, do Rúben Neves, do Diogo Jota, com quem estive na seleção; para o nível do Hélder Costa, do Ivan Cavaleiro, que jogaram comigo no Benfica, e para o Vinagre que esteve comigo no Monaco… bem, olhando para tudo isto, e conhecendo também o Raúl Jiménez, o que estão a fazer não me surpreende. Têm grande nível.

TVI/MF – Tem acompanhado de perto a liga portuguesa?
BS –
Sim, sempre. O Benfica, depois do empate contra o Belenenses, perdeu uma boa vantagem. Perdeu a margem de erro que tinha conquistado no Dragão e com isso aumentou a pressão sobre si. Mas, olhando para o que tem sido o campeonato, há uns meses eu não imaginaria sequer que o Benfica podia estar a lutar pelo título. Ver o Benfica em primeiro é uma surpresa. Benfica e FC Porto estão a fazer um ótimo campeonato. Sou benfiquista, quero que o Benfica ganhe, mas espero também que se fale mais de futebol e ganhe o melhor.

TVI/MF – Conhece bem o Bruno Lage. Está surpreendido pelo que tem conseguido?
BS –
Quando se está numa fase má e se aposta noutro treinador, é importante que ele consiga criar impacto de imediato. O Bruno conseguiu isso e mudou um bocado a forma como o Benfica jogava, dando à equipa novos jogadores. O Ferro tem estado fantástico, o Florentino também, o João Félix toda a gente sabe o quão incrível tem sido. Nota-se muito a diferença entre o Benfica do início da época e este Benfica.

TVI/MF – O Bernardo chegou a dizer que o Benfica não aproveitava a formação. Isso mudou nos últimos tempos?
BS –
O Benfica não teve durante muitos anos material da formação para ser trabalhado. Não quero dizer que os atletas não tinham qualidade, mas não usufruíram das condições atuais. O centro de treinos do Seixal tem poucos anos. Com a chegada do Luís Filipe Vieira essas condições começaram a ser criadas. Depois, quando as primeiras gerações boas foram criadas, acho que as pessoas duvidaram das suas capacidades, porque não estavam habituadas a isso, a ter jovens da formação nos seniores. Mais tarde começaram a ver que os atletas emprestados podiam chegar a níveis altos, como no caso do André Gomes, do Cancelo, do meu. O Benfica aprendeu com os erros e tem feito um trabalho incrível com a formação.

TVI/MF – O nome maior esta época é o do João Félix.
BS -
O trajeto do João está a ser impressionante. Tem um futuro brilhante pela frente. Que continue a trabalhar e dará muitas alegrias também à Seleção Nacional. É sempre bom ver novos nomes a chegar e temos capacidade para continuar a ter uma grande equipa.