As 85 internacionalizações totalizadas dos sub-16 aos sub-21 fazem de Tomás Podstawski o jogador mais internacional da sua geração.

Aos 22 anos, depois de presenças em Europeus, num Mundial sub-20 nos Jogos Olímpicos de 2016 e de títulos conquistados ao serviço do FC Porto, clube onde fez quase toda a formação, o médio cortou a ligação umbilical aos azuis e brancos para assinar por três épocas pelo V. Setúbal.

Três meses depois de ter chegado aos sadinos, diz estar feliz pela decisão tomada para a carreira e garante não guardar mágoa por nunca ter chegado a estrear-se com a camisola principal do FC Porto, mesmo depois de ter sido apontado como um dos talentos mais promissores do Olival.

Podstawski falou com o Maisfutebol após um treino do Vitória no Vale da Rosa, nas imediações de Setúbal. Passou em revista os nove anos ao serviço dos dragões, a lesão grave sofrida na época passada, abordou o momento do emblema sadino no campeonato, a experiência acumulada nas seleções nacionais de Portugal e a ligação forte à Polónia.

«A entrevista vai durar muito tempo?», perguntou-nos no centro do relvado do local de treinos do V. Setúbal antes de ir de folga no fim de semana.»

«Também depende de si.»

Durou mais do que estava previsto.

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Em 2012 o MAISFUTEBOL fez um perfil seu quando foi chamado à equipa principal do FC Porto para um jogo da Liga Europa contra o Manchester City. Na altura ficou a saber-se que era aluno de dezassetes e dezoitos.

Sim, é verdade. No secundário tinha uma média de 17 valores. No 12.º ano acabou por baixar um bocadinho com os exames e ficou pelos 16,5.

Sempre lhe foi incutida essa responsabilidade pelos estudos?

Sempre tive como objetivo conseguir seguir as duas vias. Mais tarde, já a nível sénior, tive de interromper os estudos porque o foco não é o mesmo quando se estuda e se treina. O descanso também é uma parte muito importante para um jogador. O estudo é algo que também exige e que cansa. Leva tempo e causa desgaste mental. Agora não é compatível.

Até onde chegou?

Entrei em Línguas e Relações Internacionais. Estava a fazer o curso em regime parcial, mas fiz poucas cadeiras e acabei por não concluir. Mais à frente verei e talvez termine o curso: era algo que gostava de fazer. Também me inscrevi da FADEUP, de desporto, mas acabei por seguir o rumo das Línguas e Relações Internacionais.

Não me ter estreado pela equipa principal do FC Porto? Não guardo nenhum tipo de mágoa»

Quando é que o futebol começou a ser um plano A para a vida?

Quando passei dos juniores para a equipa B do FC Porto. Aí já estava num nível sénior, na II Liga, com outros objetivos e numa outra realidade e nível de competitividade. O facto de também ir subindo nas camadas jovens da seleção nacional até aos sub-21 também me fez ver que poderia seguir o futebol mesmo como profissão. Foi aí que acabei por interromper os estudos.

Nessa altura já estava no FC Porto há muito tempo, mas passou pelo Boavista até aos 13 anos. Como é que se processou essa mudança de clube?

Foi através do departamento de scouting do FC Porto. Tinham observado vários jogos meus e nessa altura acabei por ir para o FC Porto tal como outros jogadores de outros clubes. No meu primeiro ano, nos iniciados sub-14, juntaram-se vários jogadores de diferentes clubes.

Esteve quase dez anos ligado ao FC Porto. Foi capitão nas camadas jovens e é um dos jogadores mais internacionais da sua geração.

Da minha geração sou o mais internacional.

Mas apesar desse currículo que foi construindo nunca chegou a estrear-se pela equipa principal do FC Porto. Guarda alguma mágoa ou um sentimento de que ficou algo por cumprir?

Não, não! Não guardo nenhum tipo de mágoa. Guardo as minhas memórias da Seleção Nacional como um trajeto muito positivo e onde todas as pessoas me ajudaram muito a evoluir enquanto jogador e pessoa. Guardo essas memórias com grande felicidade, orgulho e até sinto saudades. Evoluí com vários treinadores, como o mister Emílio Peixe e o Hélio Sousa, com quem trabalhei quatro anos e tive momentos inesquecíveis, como o Europeu sub-19 e o Mundial sub-20. O mister Rui Jorge também foi muito importante nos sub-21. Absorvi imensa informação útil com ele e também tive a experiência dos Jogos Olímpicos. Foi espetacular poder partilhar a mesma sala de refeições e os mesmos espaços de treino do que Usain Bolt, Serena Williams, Michael Phelps, Paul Gasol, Novak Djokovic… Guardo imensas memórias de felicidade, como também ter sido campeão da II Liga pela equipa B com o mister Luís Castro, e não mudaria nada. Estou muito contente pelo trajeto que fiz.

Não me parece que não tenha conseguido agarrar uma oportunidade. Ela simplesmente não se proporcionou...»

Mas não sente que talvez fosse merecedor de pelo menos uma oportunidade na equipa principal?

(pausa) Os clubes grandes têm jogadores com uma experiência internacional muito elevada a nível de clube e de seleção. Sei que é difícil entrar nessa realidade. Tive a oportunidade de treinar de vez em quando, mas há outros jogadores e são opções que os treinadores tomam.

Houve alguma altura em que se sentiu mais perto de se estrear?

Não senti isso com nenhum treinador em especial. Cheguei a ser convocado pelo mister Peseiro num jogo em casa contra o Tondela, mas nunca foi algo de muito consistente. Não me parece que não tenha conseguido agarrar uma oportunidade. Ela simplesmente não se proporcionou e a vida continua.

A rescisão pelo FC Porto foi uma decisão pessoal?

O FC Porto teve essa posição com vários jogadores mais velhos e mais novos do que eu. Foi algo transversal a vários jogadores. A minha solução acabou por ser vir para o Vitória, onde havia claramente um interesse da parte do clube e do treinador em mim. Estou muito contente pela decisão que tomei.

Não receou numa fase inicial o facto de estar a sair de uma zona de conforto que os muitos anos de casa no FC Porto lhe tinham dado?

Não. Sempre fui uma pessoa que encarou as diferentes fases da vida de uma forma muito positiva. Não tenho problemas em sair da minha zona de conforto, apesar de estar agora a viver uma nova experiência. Mas não era nada que eu não esperasse já. O tempo passa, continuamos a crescer e vemos colegas da seleção e do próprio clube a evoluírem e a atingir patamares de sucesso muito bons. E nós queremos estar todos lá em cima. Estou muito contente por esta mudança, mas claro que estou a viver uma realidade diferente daquela a que estava habituado. É normal.

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