Pedro Rebocho é um dos bons nomes no excelente Paços de Ferreira, versão 2020/21. O lateral esquerdo de 26 anos voltou em janeiro a Portugal, após três anos e meio divididos entre a França e a Turquia, e agarrou naturalmente a titularidade na defesa dos castores. 

Nesta terceira parte da entrevista ao Maisfutebol, Rebocho recorda os duelos com Neymar na Ligue 1 e volta às origens alentejanas. Nascido em Évora e criado no Juventude local, Pedro Rebocho assume que gostava de voltar a ver um clube da região na I Liga. 


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Maisfutebol – No Guingamp venceram o PSG por 2-1 e dias depois foram goleados por 9-0. O que se passou no segundo jogo?

Pedro Rebocho – Os dois jogos foram em Paris. Ganhámos para a taça e para o campeonato o discurso do treinador foi assim: ‘eles estão feridos e não podemos ser as vítimas aqui’. O jogo até começou bem, até ao 1-0. Depois cometemos dois erros e ao intervalo estava 3-0. Na segunda parte, bem, qualquer lapso deu em golo. Pareciam os jogos na escola: eles marcavam e iam ao fundo da baliza buscar a bola a correr. O nosso capitão até pediu ao árbitro para não dar tempo de compensação (risos).

MF – O que sente um jogador que está a perder 9-0?

PR – Nem é fácil explicar. Na minha cabeça estava a intenção de fechar bem e não sofrer mais golos, mas aqui foi incontrolável. Nós só os víamos a fazer golos e a festejar. Estavam picados pela derrota no jogo anterior.

MF – O Neymar foi o melhor adversário que já defrontou?

PR – Foi o jogador com mais talento que já defrontei, sem discussão. Apanhei o Di Maria, Mbappé, Dani Alves, Rony Lopes, Nicolas Pépé, defrontei muitos bons jogadores, mas o Neymar é especial. O meu primeiro em casa no Guingamp foi o da estreia do Neymar no PSG. O estádio estava cheio de câmaras a segui-lo. Nestes casos ou se joga muito mal ou se faz uma grande exibição. O Neymar fez uma grande exibição, com golo, assistência, pormenores técnicos. É um avançado especial e podia ser ainda maior. Não sei porque não é. Vemos que o Neymar está perto do patamar do Cristiano e do Messi, mas depois falta-lhe qualquer coisa para chegar à Bola de Ouro.

MF – Teve alguma conversa com ele durante o jogo?

PR – Sou um bocado reservado, não gosto de pedir camisolas. Os meus colegas pediram, claro (risos). Nem tentei falar com o Neymar.

MF – Começou a jogar no Juventude de Évora. Segue os resultados do clube no Campeonato de Portugal?

PR – Sim, com as redes sociais agora é mais fácil. Tenho lá amigos, o meu pai vai-me colocando a par e sou amigo do presidente também numa rede social. Tenho curiosidade em ver o que consegue o clube.

MF – Como alentejano sente falta de um clube da região na I Liga?

PR – Eu nunca tive o prazer de ver uma equipa alentejana na I Liga. Não era nascido quando o O Elvas e o Campomaiorense estiveram lá. Há espaço e infraestruturas, mas é preciso investimento e capacidade para atrair futebolistas. Nem todos aceitam viver no Alentejo. Tenho amigos músicos lá e eles falam-me na existência de uma espécie de barreira. Há qualidade e não consegue sair daquele pequeno mundo. Era muito bonito ver um clube do Alentejo na primeira divisão. Sem dinheiro, insisto, é difícil.