A crise económico-financeira não veio para ficar, até pode começar a disssipar-se já este ano e começar precisamente pelos Estados Unidos, mas Portugal vai demorar mais tempo a recuperar. As projecções são do economista Rui Henrique Alves, do Centro de Estudos Macro-Económicos e de Previsão em entrevista ao IOL e à Agência Financeira.

«Se mais nada de negativo acontecer, o pior do ponto de vista do sistema financeiro já poderá ter sido ultrapassado e, até final do ano, a situação económica começará a mudar. No proximo ano surgirão os primeiros sinais de recuperação económica», sustenta aquele especialista da Faculdade de Economia da Universidade do Porto. E tal como tudo começou nos Estados Unidos também será aqui que será «dada a volta». «Tudo indica que os EUA vão recuperar mais rapidamente», diz.

Em Portugal, sublinha Rui Henrique Alves, a recuperação será mais lenta. «Se compararmos o produto efectivo com o produto potencial temos uma quebra desde o início deste século, com excepção do ano de 2007». Este eterno problema de falta de produtividade em Portugal, aliada ao facto de o défice público estar agravado (a União Europeia não vai consentir durante muito mais tempo que continue a resvalar) e ser necessário controlar os gastos públicos, vai condicionar a recuperação portuguesa.

Função pública deve preparar-se para não ter aumentos

A baixa produtividade portuguesa, e consequente perda de competitividade, é comum na Europa, mas «muito mais grave em Portugal». Tudo porque, explica o economista, «existem deficiências de formação (já no século XIX ficámos para trás pelas mesmas razões) e temos um problema de mentalidade. Em comparação com os países nórdicos, a nossa disposição para trabalhar mais tempo e mais horas, para sermos mais produtivos, não é tão grande».

«Temos muitos feriados, muitos períodos de pausa, que não seriam necessariamente maus se no resto do tempo tivessemos condições para compensar», acrescenta Rui Henrique Alves.

Também ao nível da formação e habilitações continuamos longe dos outros países europeus. «Temos muita formação profissional sem interesse e também muitos cursos superiores completamente desfasados do que o mercado de trabalho necessita», critica Rui Henrique Alves.

A crise no nosso País, conclui aquele economista, «tem razões mais estrturais e não derivam apenas do factor conjuntural de o mundo estar em crise».