Começou aos sete anos no Marselha e chegou aos seniores com apenas 19 anos, pela mão de Marcelo Bielsa. Depois de um ano de empréstimo ao Auxerre, assinou por três épocas pelo Boavista e neste primeiro ano em Portugal afirmou-se como titular indiscutível na equipa de Jorge Simão.

Em entrevista ao Maisfutebol, no Estádio do Bessa, Stéphane Sparagna dá-se a conhecer, fala do Boavista e da Liga.

Este francês de 22 anos é um dos centrais mais promissores do campeonato. Gosta de viver no Porto, tem Sergio Ramos como ídolo e sonha um dia jogar num grande europeu. «Todos menos o PSG», graceja, fazendo jus à sua condição de bom marselhês.

Entrevista – Parte 2: «Bielsa é especial, vive para o futebol»

MAISFUTEBOL: Fez todo o seu percurso no Marselha, até ao empréstimo ao Auxerre na época passada. Em julho, assinou até 2020 com o Boavista. Como foi essa mudança?

SPARAGNA: Houve interesse de outra equipa, não muito concreto, e uma proposta do Boavista. Estava de férias, apresentaram-me as condições e eu decidi vir para cá. Teria de deixar o meu país, ficar mais longe da minha família, mas era uma oportunidade que não queria perder. Pensei: «Se for para Portugal e correr bem, tudo pode mudar. Se correr mal, é um risco que tenho de correr.» Pesei os prós e os contras e aceitei. Não queria mais uma época a jogar de forma intermitente no Marselha.

Já conhecia o Boavista?

Conhecia. Cheguei a jogar contra o Boavista num torneio de jovens em França. Mas, claro, conhecia mais o Benfica e o FC Porto do que do Boavista.

Que ideia tem do futebol português?

Todas as equipas jogam futebol, mesmo as do fundo da tabela. Em França o jogo é mais físico, atlético… Aqui joga-se um futebol mais tecnicista. Todas as equipas têm jogadores virtuosos.

Isso é diferente do que estava à espera?

Não via muito os jogos na Liga Portuguesa, confesso. Não sabia bem o que esperar antes de vir para cá. Numa época de estreia como esta, acho que estou a adaptar-me bem, até considerando a troca de treinador no início.

Que diferenças entre Miguel Leal e Jorge Simão?

Cada um tem o seu método de trabalho. Quando se troca de treinador, todos os jogadores começam do zero. O Jorge Simão trouxe uma ideia de jogo talvez mais ofensiva, de jogo mais apoiado, e isso permitiu potenciar melhor a qualidade que os nossos jogadores têm.
 

Que relação tem com Jorge Simão?

Muito boa. É um excelente treinador. Jamais critica um jogador. É um pouco como um pai e vê os jogadores como seus filhos. Não mostra preferências, não diferencia os jogadores. Por exemplo, o Robson ou o Henrique, que não têm jogado muito, estão em pé de igualdade comigo e com o Rossi na luta pela posição de defesa-central.

E com os colegas de equipa? Há algum que lhe seja mais próximo?

No Auxerre, havia muitos grupinhos no balneário. Aqui não. Somos todos como irmãos. Posso equipar-me ao lado de qualquer um no balneário. Dou-me bem com o Iván Bulos, o Aymen Tahar, o Rossi, o Idris…

Desde a 4.ª jornada que é titular do Boavista. Qual foi o adversário mais difícil na Liga?

O FC Porto tem um ataque mais físico, mas acho que foi menos difícil do que contra o Benfica, apesar de termos vencido contra o Benfica e perdido contra o FC Porto.

Essa vitória frente ao Benfica é o melhor desde que chegou ao Boavista?

Sim, foi um jogo especial. Tínhamos mudado de treinador, conseguimos uma reviravolta e ganhámos ao campeão em título. É uma excelente recordação.

Qual foi o jogador mais complicado de marcar?

Lembro-me de ter muitos problemas a marcar o Bas Dost. No jogo aéreo é muito perigoso.

O que considera uma boa época para o Boavista?

No ano passado ficámos em 8.º lugar na Liga. Este ano queremos ficar acima disso: o 7.º lugar na Liga acho que é positivo.

Já jogou a defesa-central, mas também a médio-defensivo, inclusivamente nesta época. Em que posição prefere jogar?

Desde que jogue, não há problema. Penso que sou melhor como defesa-central, é a posição em que posso explorar melhor as minhas capacidades. Mas se o treinador tem de me adaptar a médio defensivo, não há problema. Como defesa, tenho o jogo todo à minha frente, embora cada erro seja mais decisivo. Como médio, há que ter atenção à frente, atrás, à direita e à esquerda… O raio de ação é maior, é preciso ser mais rápido a processar a informação e a decidir. Torna-se mais complexo.

Qual o seu modelo como defesa-central?

Ídolo? Ramos, Sergio Ramos. Gosto dele por ser um central com técnica, mas também agressivo. É um líder, tem carisma. E além disso marca golos decisivos. É uma referência.

Gosta da sua vida no Porto?

Gosto, é muito boa. É uma cidade que tem semelhanças com Marselha, por estar junto ao mar. Quando não estou a treinar, vou ao centro comercial, vou até Foz, passear junto à praia e ver o mar. Ou então vou até à Ribeira. Vivo uma vida tranquila.

É verdade que, quando ainda estava no Marselha, ficou bem classificado num torneio de poker?

Sim, convidaram alguns jogadores plantel para participar num torneio de poker e eu fui o mais bem classificado entre os meus companheiros de equipa: fiquei em 25.º, acho, na classificação geral. Nada mau.

Que objetivo tem no futebol?

O meu objetivo é trabalhar, evoluir e eventualmente chegar um dia a um grande clube europeu.

Gostaria de chegar, por exemplo, ao Paris Saint-Germain (rival do Marselha)?

Ao PSG não! (risos) Quer dizer, se tiver uma proposta do PSG e outra de outro clube, aceito essa última (risos).

artigo atualizado: hora original, 23:55