«Alô Brasil» é o Diário de Bordo de João Tiago Figueiredo, enviado-especial do Maisfutebol ao Mundial 2014, no Brasil. Siga-o no Twitter.

Dias 16 e 17: é tão bom, não foi?

Pitbull, Cláudia Leitte e Jennifer Lopez: sejam bem-vindos à minha vida.

Enquanto um pouco por todo o mundo qualquer adepto de futebol de gosto musical refinado fará por esquecer aquilo que vocês fizeram e a que chamam música oficial do Brasil 2014, este que vos escreve promete fazer tudo para vos guardar enquanto puder.

A minha quota de músicas foleiras [vá lá, toda a gente tem uma quota de músicas foleiras...] está preenchida com este «We are One (Ole Ola)» [tive de ir pesquisar o nome…] que tocava antes, no intervalo e no fim de cada jogo da Copa. E na televisão, nos restaurantes, nos centros comerciais...

Vocês ficam, portanto.

E com vocês fica o mais importante. O Espanha-Holanda, no fim de uma era. O golo de Van Persie. A loucura de Pepe. A desilusão de Portugal. A enérgica claque da Argélia. A simpatia belga. A inigualável hinchada argentina. O quase milagre de Queiroz, desfeito por Messi. Os ataques chinfrineira do Brasil. 

Ficam as personagens secundárias da história, mas não menos importante. «Seu Gilson», mestre da bola. O muleque das pulseiras do Bomfim. Ulisses, do Galicia. Diogo Finelli, em BH. Emerson, do Ypiranga. O campo do Ypiranga. Aquele campo do Ypiranga…

«Seu Wando», o taxista que me ofereceu um livro e uma garrafa de cachaça da terra dele. Que comentou nunca ter provado vinho do Porto porque era «bebida de gente rica». Vai provar, «seu Wando», está prometido!

Quando ouvir esta música foleira vou lembrar com a mesma fervura o grito de golo do Brasil de um Mané Garricha com mais de 70 mil pessoas ou o mais calmo, mas igualmente feliz, «Bem-Vindo», com que os brasileiros gostam de saudar os portugueses.

Recordarei o calor abafado de Salvador, a pacatez e simplicidade de BH e a organização de Brasília. A música vai-me saber a farofa e a picanha. A Brahma e a água de coco. Que não é soberba, mas é bacana.

Lembrarei um Brasil desigual, como me tinham contado, mas engalanado para receber bem a tribo do futebol.E uma frase de «seu Wando»: «Sabe porque você não vê mosquitos por aqui? Eles tiraram. Quando vocês forem embora, eles voltam para picar a gente»

O Brasil da Copa não é o Brasil real. Eu sei disso. Mas é o Brasil que vou recordar.

Mesmo que seja ao som de uma música foleira.



PS- Volto com Portugal, mas a Copa está a meio. Essa é a melhor parte.